Túnel do Tempo

sábado, 13 de outubro de 2012



MME ENGANEI NA ELEIÇÃO
Autoria:Coroné Cafuçu
Nós precisava um patrão
E lembremo de um candidato
Que andasse atrás de mandato
Na epá da eleição
Minha veia disse: Opa,
Vou pedir um guarda-roupa,
Cama, lençol e colchão,
Umas calça pra Zefinha,
Dois vestido pra toinha
Pá no domingo ir pra feira,
E quando o meu for recebido,
Você faz o seu pedido
Do tamanho que você queira.
Ai eu fiquei pensano
No banco véi assentado,
Vou pedir pro deputado
Tudo que tô precisano,
Dois sapato de vaqueta,
Pá, chibanca, picareta,
Facão, foice e roçadeira.
Silo pra botar feijão,
Veneno pro algodão
E um boi de campinadeira.
Nós sentado no batente
por desconto do pecado,
Pois lá vinha o deputado
Arrudiado de gente,
E quando foi me avistano,
Foi logo mim preguntando
“Como é que vai seu Reimundo”?
Vou aqui que nem matuto
E em meno de mei minuto
Deu a mão pra todo mundo.
Ai disse o deputado,
“Eu por aqui tô passano,
Também vim lhe visitar,
Que eu vou mim candidatar,
E duns voto tô precisano
E ganhando a minha atitude
Vou defender a saúde
A cultura e a educação.
E um homi trabaiador,
Que sofre iguá o senhor
Que mora aqui no sertão.
Minha véa sartô e disse:
“Nós aqui não tem partido
Pra nós votá no senhor
Premêro eu faço um pedido.”
Ai fui meti dos péis
“Só os meus são mais de dez,
Porque sou pobre e carente,
Mas nós faz trampolim.
Nós dar os voto tudim
E o senhor ajuda a gente.
Ai disse o deputado
“Ta doido, os pedidos eu noto,
Pode confirmar os voto que o
negócio tá fechado”.
E vamo lá que a hora é essa,
Vai ter comício, ter festa,
Bebida e carne na banha.
Traga os votos que tiverem
Que eu dou o que vocês quiserem
Só é passar a campanha.
E logo as eleições chegou,
E nós fumo e fizemo assim,
Nós demo os voto tudim
E o deputado ganhou.
Depois sumiu pra Brasília,
Já enricou a família,
Com luxo e anel no dedo,
E tá assim com o presidente,
E mandou dizer pra gente
Que não vem aqui tão cedo.
Fiquei enraivado e crítico
Me enganá eu não premito,
E nunca mais eu acredito
Em conversa de político.
Minha véa, nem se fala
Quando fala treme a fala
Com um cacete na mão
Nós ta muito emaguado
Por que nós foi enganado,
Na epá da eleição.



ENTERRO DE ZÉ COITADO
Autoria:Coroné Cafuçi
Eu conheci Zé Coitado
Caboco de pele grossa,
Morava numa palhoça
Lá no serrote do gado,
Cativo de expressão,
Simples ganhador do pão,
E pelo destino mandando,
Pobezin aventureiro,
Que pra ganhar um dinheiro
Vendia um dia alugado.
Zé vivia a me dizer,
Diante do que sofria,
Quera doidin pra morrê,
E a deus já pedia o dia,
Pá deixá de passa fome,
Pá retirá o seu nome,
Do mundo da crueldade,
Que com o fim desse romance,
De Deus ganhava uma chance,
Lá na santa eternidade.
Só que Zé tinha um pedido,
Quera do seu interesse,
Que um dia quando morresse,
Queria ir bem vestido,
Cum caixão de tampa boa,
Flores branca e uma coroa,
Vela acessa e castiçais,
Além de vela e coroa,
Umas cinqüenta pessoa,
Do caxão rezando atrás.
Zé queria que o vigário,
Deste que não tem preguiça,
Celebrasse trinta missa,
Pra ele no santuário,
Os sino tudim batendo,
As vela tudo se ardeno,
Clareano igual candêa,
Seu irmão dano soluço,
E de um político um discurso,
De quatro horas e meia.
Zé queria em seu velório,
Mortalha e terço marrom,
E na hora do ofertório,
Acumpanhace com um som,
Um bom cordão na cintura,
um trecho da escritura,
Lido com cautela e calma,
Falando da sua fome,
Quando tocasse em seu nome,
Houvesse uma salva de palma.
Uma cova bem cavada,
Das outras bem diferente,
Que ficasse separada,
De um lado nenhum parente,
Encima uma cruz de madeira,
De angico ou de aruêra,
Com o nome bem espalhado,
Do jeito que a outra tem
Zé pobizin, Zé ninguém,
Zé nadinha, Zé coitado.
No dia que Zé morreu,
Por falta de fé castiça,
O padre não disse a missa,
Na frente do corpo seu,
O caixão não foi tocado,
No sino não foi tocado
O som do seu funeral,
Pá Zé não se mais lembrado,
Deixaro Zé enterrado.
Num buracão bem cavado
Depois do fim do quintal.


Nenhum comentário:

Postar um comentário