Túnel do Tempo

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

           Sou sertanejo, doutor.

Eu sou filho do sertão,
sertão da roça e do arado,
do engenho puxado a boi,
de seca e de chão molhado,
seca que é um inferno,
mas abençoado inverno,
sertão de leite e de gado.

Milho quebrado em pilão,
pipoca feita em panela,
cuscuz de milho maduro,
leite mugido em tigela,
sertão de terra e de vida,
da mocinha inibida,
debruçada na janela.

Sertão de homem honesto,
de cabra trabalhador,
acostumado às agruras,
submisso ao seu senhor,
mão calosa do machado,
prático em derruba de gado,
persistente agricultor.

Sertão de veredas longas,
açudes feitos de terra,
fazendas de muitos acres,
onde a natureza encerra,
a preservação da sorte,
sertão que frustra a morte
onde a mata cobre a serra.

Sertão do canário solto,
onde canta a avoante,
sertão da hora solar,
cigarra em pio cortante,
sertão do belo trovão
que ecoa na vastidão,
cortando seus horizontes.

Sertão da caçada fácil,
do cachorro caçador,
do gado preso em curral,
do animal saltador.
Sertão que tem curandeiro,
que abriga o heróico vaqueiro
nas terras do seu dotô.

Sertão que pela manhã,
desperta com os trinados,
pássaros livres sobre as árvores,
que sobrevoam telhados.
Sertão da boa galinha,
da gostosa canjiquinha,
sertão do leite coalhado. 

Sertão que tem café forte,
adoçado com rapadura,
que reanima o homem
que vai para a agricultura.
Sertão do chapéu de couro,
da moça, cheia de adorno,
porem meiga, simples, pura.

Sertão que tem as cacimbas
para a água de beber,
do orvalho respingado,
de um belo amanhecer,
do belo galo campina,
da ovelha solta em ravina,
do grão que está pra nascer.

Sertão que tem em seu seio,
o heróico nordestino,
que se acostuma a sofrer
e não cai em desatino,
pois seca ninguém esquece,
mas matuto não esmorece,
pois tem fé no Ser Divino.

Sertão dos subnutridos,
de gente que passa mal,
que quando é tempo de seca,
nada tem em seu bornal,
mas a fé o glorifica,
que mesmo com seca, fica,
não sai do torrão natal.

Sertão do homem tão pobre,
que mesmo sem ter um vintém,
não sabe negar uma e esmola,
reparte o pouco que tem
e em tempo de fartura,
do ovo à rapadura,
mande buscar, porque vem.

Sertão que em tempo de inverno,
quando chove em todo canto,
tudo ali fica florido
só há riso, não há pranto,
sertanejo ri à toa,
todo ele é gente boa,
comprovo, assino e garanto.

Sertão do feijão maduro,
da vazante no riacho,
da espiga de milho verde,
da bananeira de cacho,
vou contar de onde vim,
meu sertão não é ruim,
sou de Quixeramobim,
lugar de caboclo macho!

alkasar@ig.com.br

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