Túnel do Tempo

domingo, 13 de maio de 2012


CENTRO-SUL Mercearias resistem à modernidade
A bodega ou mercearia, segundo o dicionário Aurélio, “é o local onde se vendem a retalho gêneros alimentícios, loja de secos e molhados, venda”. A principal característica é o balcão de madeira. Os antigos traziam, no interior dele, espécies de gavetas verticais para colocação dos cereais. É só levantar a tampa e retirar o produto para ser pesado na hora. Os mais comuns têm vidros para expor em prateleiras os artigos de perfumaria e papelaria. Por conta da variedade de pingas, pinga gente toda hora, de toda parte, o dia todo.
Nas bodegas, o freguês não entra. É o dono do estabelecimento que recolhe os produtos solicitados pelos clientes. Outra característica é o surrado caderno, onde é feita a notação do que é vendido a crédito (fiado). Geralmente, o freguês tem caderneta onde também anota tudo para conferência posterior, devido ao pagamento.
O horário de expediente começa cedo, a partir das 6 horas e se estende até as 22 horas. Vende pão, leite, cereais, enlatados, artigos de perfumaria, de higiene pessoal, papelaria, corda, bebidas, ovos, bombons, doces e verdura, além de outros produtos. Não faltam cadeiras de tira de couro para os fregueses mais conhecidos sentarem e tirarem uma prosa.
O bodegueiro tem uma vida dedicada ao negócio. Ao entrar numa bodega, a impressão que se tem é que o tempo parou. Mas com cuidado, percebe-se a presença da modernização.. “As mercearias antigas sequer tinham geladeiras  “Nas bodegas, era mais comum por causa da venda de bebida a granel 

Balbino garante que a invasão dos hipermercados não atrapalham
BOM ATENDIMENTO - Jeito com o negócio garantiu boa clientela
Quixeramobim. No cruzamento das ruas Benjamim Barroso com Acrísio Mendes de Oliveira, no Centro de Quixeramobim, Miguel Eloy da Silva ainda mantém abertas as portas da Casa São Miguel. Naquela histórica esquina sertaneja, o comerciante de 86 anos continua atendendo sua freguesia. Logo após a 2ª Grande Guerra a boa época da atividade algodoeira lhe fez transformar a morada em ponto de venda. Era lucro certo. Tinha esposa e nove filhos para sustentar. De boa conversa e agradável entendimento, o jeito com o negócio lhe assegurou clientela fiel. Desde então, de 1948 para cá, mantém o costume bodegueiro. Tem freguesia certa, há mais de 30 anos. Revela o segredo: “Tratar todos com educação e alegria”. Considerado por muitos o mais antigo bodegueiro em atividade no Ceará, Miguel Balbino, como é conhecido popularmente por conta do codinome herdado da avó, recorda que começou vendendo frutas e café. Logo o negócio expandiu com a comercialização de cereais e até bebidas. O sortimento atraiu mais fregueses e bom lucro. Mas fez questão de deixar claro para os “papudinhos” — consumidores de aguardente — que ali era e continua sendo um ambiente familiar. Fixou um cartaz na parede: “Nesta casa trabalha minha família, esperando pela sua”. Dos velhos fregueses ainda são poucos os que sabem ler, mas o respeito é mantido até hoje. Apenas o hábito dos fregueses mudou. São poucos os que ainda compram a mercadoria no “retalho”, como ele mesmo diz. A quarta, instrumento utilizado para medir a quantidade de grãos no momento da venda - representava 1/4 de quilo - foi substituída pela balança de precisão. Mas na época em que o coronelismo e a miséria imperava no Sertão, a maioria só comprava o que ia comer no dia. E lá saía, meia quarta de arroz, de feijão, uma quarta de farinha, um tostão de rapadura, meio pão e até meia gillete. E muita coisa ainda saia fiado. Apesar da carência, a distinção e a alegria prevaleciam.

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