Túnel do Tempo

quinta-feira, 5 de abril de 2012

CONTOS ( alkasar)

LAMPIÃO
Já se vai um tempo muito distante em que Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, o Rei do Cangaço, era o terror do sertão, respeitado por seus homens, pelos coiteiros, pelos fazendeiros, os políticos, bandos adversários e até a própria polícia.
Lógico que eram outros tempos, as dificuldades eram enormes, uma vez que Lampião se infiltrava nas matas e caatingas, conhecedor que era dos cafundós, grotões e sovacos de serra, principalmente no nordeste brasileiro.
Que saudade de nossa polícia de antigamente!
Havia uma maneira certa de agir contra celerados e desordeiros, onde a captura de homens extremamente nocivos e perigosos, tinha o destino certo, a sepultura.
Ninguém era doido em pensar de pegar Lampião vivo, pois todo mundo sabia que ele só se entregaria realmente quando estivesse ferido de morte.
Como disse Antonio Silvino, antecessor de Lampião a respeito da captura do Rei do Cangaço: - não nasceu home  pra prender Lampião, pode ter nascido pra juntar os pedaços dele porque ele se esbagaça, mas não vai preso e não briga à toa pra esperdiçar munição.
Lampião era revoltado e o acompanhava um bando de revoltosos, homens frios e cruéis, procurados pela polícia de vários estados, por crimes hediondos, homicidas perversos e inescrupulosos.
Usavam tática de guerrilha avançada para seu tempo, manobras inesperadas e emboscadas minuciosamente estudadas para obter sucesso sempre.
Como falavam abertamente: não podiam perder o bote. Iam na certeza, por todos os lados, cercando, estrangulando, fechando o cerco, apenas quando as probabilidades favoreciam a um desenlace com sucesso.
E o Capitão Virgulino, realmente não o pegaram vivo.
Pegaram-no quase dormindo, num tiroteio inesperado e sem chance de defesa.
Degolaram-no!
O Lampião se apagou, mas o vento levou a chama e a labareda voltou muito mais forte, disseminando tudo que vê pela frente nos dias atuais, onde em comparação lógica, os cangaceiros de antes, eram anjinhos ante os cangaceiros modernos.
O Fernandinho Beira-mar, o Marcola, o Juiz Lalau, o Delúbio Soares, a Jorgina, o Genuíno, o José Dirceu, o Severino, os grileiros da Amazônia, os fazendeiros que ainda escravizam, a maioria dos políticos brasileiros com seus conchavos, sua pizzas e corrupções, os Marcos Valérios da vida, os seqüestradores, os matricidas, os parricidas, os Nardones e outros tantos mil que infestam nosso País, não podem ser considerados os Lampiões modernos?
Muito mais sedentos por sangue e dinheiro, não medem esforços dos mais trágicos e tétricos, profissionais carnificidas que fazem do crime uma verdadeira esbórnia ante uma população violentada em seu mínimo direito que é ter paz e tranqüilidade.
Os Lampiões de hoje, dado o uso de artimanha, tecnologia e má índole que trazem do berço, vitimam uma população desguarnecida de segurança e fragilidade pelo cabresto usual de promessas vãs desde os tempos de nosso descobrimento.
Estes famigerados Lampiões que se encontram presos, chefes de hordas de malfeitores, desdenham da polícia e da Lei e de dentro dos próprios presídios determinam a vida e a morte de cidadãos, mesmo os mais inofensivos, enlutando incessantemente as famílias em nosso país.
Por que a justiça e a Lei tiraram a autoridade policial? Pra quê?
Por que estes lampiões da modernidade não podem pagar com a própria vida por seus descalabros afastando assim de uma vez por todas suas presenças nefastas?
Por que gastar dinheiro com transporte, alimentação e acomodação com crápulas que emanam ordens até para espostejar cidadãos de bem, como foi o caso de um repórter de uma emissora?
Por que eles podem determinar a vida e a morte e a Lei os guarda nas regalias dos presídios?
Por que esta disparidade tão grande entre o salário de um político e de um jogador de futebol, em comparação com o salário de um médico, de um professor e do salário mínimo vigente neste País de todas as desigualdades?
Algum cidadão HONESTO neste País já notou a disparidade entre a porcentagem do aumento do salário estipulado e o aumento previsto para os servidores que está sendo pleiteado pela Câmara dos Deputados?
E a explicação FENOMENAL do Deputado que com a maior cara de pau diz que o aumento de 49% dos servidores é para DIMINUIR as despesas, que tal?
Algum mortal brasileiro já se deu conta de que o saudoso vice-presidente José Alencar, a Presidente Dilma e o ex-presidente Lula foram e são atendidos com a mordomia de que são merecedores, no Hospital Sírio Libanês e não se deve isto a um PLANO DE SAÚDE, pois é o SUS (Serviço Único de Saúde) que os ampara e por LEI é um benefício que deveria ser dispensado a qualquer cidadão brasileiro sem distinção de posição social, credo, cor ou partido político e o melhor: sem precisar enfrentar fila ou meses de espera?
Só que o SUS do cidadão comum, tem a mesma sigla, mas conotação diferente , quer dizer, o SUS é (Simplesmente Uma Sacanagem)!
Pobre do Virgulino foi morto pelas costas e teve a cabeça cortada. Nasceu na época errada, quando havia perseguição e procurava-se vivo para que fosse morto.
Melhor seria ter nascido do meio do século passado pra cá, seria até idolatrado.

Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
TÁ NA HORA DE TOMAR UMA
Olha meu amigo, a chuva é parceira constante do alcoólatra.
As nuvens se juntaram, ficaram escuras, o sol se escondeu, pronto!
É o motivo mais que suficiente para os “pés de cana”, enfileirados, botarem os pés no caminho em direção ao bar mais próximo.
Começam a chegar de dupla, já num converseiro danado, as mãos trêmulas, siriguela no dedo, cigarro na orelha e com a mão desocupada, vasculham os bolsos atrás de uma moeda.
A garganta naturalmente está seca e isto exige uma dose caprichada.
Encostam-se no balcão, companheiro inseparável, pois é nele que geralmente se apóiam e como são por demais conhecidos nem precisam pedir, pois o dono do bar já passa os copos naquela água barrenta e suja de várias lavadas, muito caroço de limão nadando na superfície, a bacia chega é lisa do acúmulo de sujeira e coloca os copos sobre o balcão.
Bota as doses, enquanto outros e mais outros vão se chegando. É preciso cortar limão, laranja e oferecer siriguela.
O chão começa a ficar cheio de pontas de cigarros, a cachaça começa a escorrer do balcão para o chão, caroços e bagos espalhados, cusparadas, conversas altas sobre cornos e mulheres, piadas de mau gosto, conversas ao pé do ouvido, risadas, tudo que é banco, cadeira e até a sinuca, são imediatamente ocupados por desocupados.
Em instantes aparece um baralho, uma dama e um dominó, materiais necessários para que as mesas sejam organizadas e tenha inicio a jogatina. Os que sobraram dos jogos improvisam imediatamente um jogo de palitinhos valendo a próxima rodada.
E assim o dia vai passando no que já é uma rotina mais que normal no bar.
São pessoas aposentadas, jovens viciados, alguns encostados pelo INSS, bicões, aproveitadores, palhaços, uns que servem de recado, outros que para ganhar uma cachaça ajudam o dono do bar na distribuição das doses, passam a vassoura, ajudam a levantar um bêbado, apartam uma briga, vão deixar alguém em casa.
E ali é um ambiente totalmente democrático, todo mundo fala ao mesmo tempo, quase aos gritos, por causa do barulho da música brega, onde há sempre a necessidade de consolar alguém que chora e reclama a ausência da mulher amada.
Os alcoólatras formam quase que uma irmandade, são unidos, companheiros, concordam com todos os assuntos que são levantados em defesa de um amigo.
São por demais conhecidos pelas características que os assemelha: papudinho tem as maçãs do rosto muito vermelhas, os olhos quase saindo das órbitas, a pele escamosa e manchada como se tivesse largando a tinta, andam nas pontas dos pés, estão sempre em desequilíbrio, são temerosos de desastres pois sempre andam segurando as paredes, quando vão andando estão sempre abanando a bunda para afastar os mosquitos e papudinho que se preza está sempre com uma tira de pano amarrada na canela, em cima da pereba.
Conhecem todas as ruas do bairro, são solícitos em dar informações, são atualizados com o que acontece no mundo, conhecem todos os times e jogadores, sabem na ponta da língua, quem é corno, quem é rapariga, com quem a mulher de fulano sai, quem não é moça, quem é ladrão, quem já foi preso, quem é velhaco, etc. .
Prestimosos, adoram passar a noite velando um defunto, principalmente se este defunto foi um companheiro de agruras, de cachaçadas, pois aí, fazem uma vaquinha, compram uns litros de cachaça, uns celulares, enchem os bolsos de limão, arranjam uns copos, e está feita a homenagem ao falecido até a hora do enterro.
Deles são papudinhos de carteira, já amanhecem tremendo feito uma Toyota em ponto morto, mas cá pra nós, são educados, gente boa, sempre dispostos ao favor.
Um abraço aos papudinhos!
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
                                     COMO FAZER UMA PIZZA
O Congresso Nacional Brasileiro funciona desde sua composição, através de fatores determinantes: uma insatisfação, por exemplo.
Basta que meia dúzia de oposicionistas se sinta lesado, ou seja, o dinheiro prometido não caiu na conta, que tem início uma caça desesperada por assinaturas, adesões, conchavos, favores, para ser criada uma CPI.
Ora, uma CPI nada mais é do que pegar a pizza dividi-la entre todos os insatisfeitos, por isso é que se chama CPI, que quer dizer: Conjunção de Parlamentares Insaciáveis.
Estes senhores criaram a moda da CPI, um troço tão lucrativo que ninguém quer perder a oportunidade de participar.
Na hora da divisão que no teatro chamamos de bastidores, governo e oposição ficam unidos numa só determinante: qualitativa e quantitativamente, fatias iguais da enorme CPI ou PIZZA.
E fica o povo brasileiro, perdendo sono, assistindo a algum desastre televisivo, uma catástrofe da natureza, que pode ser uma enchente, uma queimada na Amazônia, um ciclone, um maremoto, um vulcão ou ainda, novelas infindas, intermináveis e sucessivas, sem nem imaginar o que está se passando no Congresso Nacional durante a madrugada fria pelo termômetro, mas quente pelas discussões acaloradas sobre a partilha da bela pizza.
No auge da discórdia sobre a melhor maneira de se fatiar o bolo, vale o discurso decoreba, premeditado e demagógico, insultos pactuados, onde nosso atores congressistas usam por vezes palavras insinuosas, humilham os bodes expiatórios que são trazidos na marra por ordem judicial para depor no ato cênico. Ou é ato cínico?
Você que é um simples eleitor, já imaginou quantas CPI`s já foram criadas neste país?
Qual delas trouxe de volta as cifras desviadas?
É interessante, mas não lembro de nenhuma. Por certo estou esclerosado ou com amnésia.
Pensando bem, os grandes roubos feitos por esse pessoal do colarinho branco, verdadeiros bandidos, que surrupiam a Nação, quem teve bens patrimoniais ou dinheiro levados e ganhos assim no maior descaramento, devolvidos aos cofres públicos?
Por exemplo: os desvios para paraísos fiscais do dinheiro do povo brasileiro, que eram para obras públicas que o Maluf mandou depositar no exterior, já foram recuperados?
A Jorgina do INSS já devolveu o dinheiro roubado?
O Pitta morreu, devolveu ou levou no caixão?
Os anões do Orçamento devolveram?
O Sergio Naya, outro crápula que construía prédios com areia da praia, também morreu, graças a Deus e os apartamentos do pessoal, cadê?
As empreiteiras que começam obras e abandonam na metade, no meio do mato e do nada, pois muitas são faraônicas, logicamente depois de receberem pagamento das licitações duvidosas, alguma já devolveu?
O pessoal do mensalão (era gente demais não era?) qual deles devolveu o que levou?
O tal de Daniel Dantas aquele banqueiro que deixou muita gente na miséria, já recuperaram o dinheiro que ele roubou?
Sim, e o juiz Lalau já devolveu o que roubou da verba do prédio do TRT?
Os bens e propriedades do Fernandinho Beira-Mar já foram leiloados e o dinheiro depositado para ser usado em construção de creche e escolas?
O castelo daquele deputado já foi vendido ou leiloado, já que pertence ao povo brasileiro?
O dinheiro que foi roubado do Banco Central em Fortaleza, já foi recuperado?
E o dinheiro mostrado explícitamente por vários canais de televisão, com reza de agradecimento, dança no senado, dinheiro na meia, na cueca, na bolsa, nos bolsos, na mala, fica por isso mesmo ou alguém vai dar uma explicação ao povo?
E os desvios de verbas para uso próprio, compra de carros e propriedades, o TCM vai atrás?
E as vacas do outro que estavam rendendo mais que ouro em Serra Pelada, abriram a porteira e as vacas sumiram com todas as notas fiscais ?
E o Sarney, dono do Maranhão, de todas as suas ilhas e dos meios de comunicação daquele Estado, comprou tudo com o salário de Senador ou ele é grileiro ou sem terra que vai invadindo e ninguém se importa?
É, parece que tudo vai ficando para depois, para juntar toda essa massa corrupta, deixar fermentar por muito tempo para quando resolverem (se resolverem) fazer uma CPI séria ( é até engraçado ), ter ingredientes suficientes para as fatias serem satisfatórias a todos que participarem da Comissão de Parlamentares Insaciáveis  – CPI, para satisfação geral de todos eles.
O Brasil tem as pizzas mais saborosas que a Itália, só que lá, a pizza é pobre, é de massa mesmo, não é de cédulas de real.
E o povão, oh!
Só tomando, feliz da vida!
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
O PREFEITO DA LATRINA
É somos políticos!
Seria exigir demais que fôssemos corretos, honestos, incorruptíveis, uma vez que somos descendentes de um povo cujo passado não acumulou glórias, nem títulos ou feitos heróicos.
Para povoar esta Nação, Portugal mandou nada mais nada menos que os piores mentecaptos que proliferavam por lá: condenados à prisão perpétua, degredados, ladrões, assassinos, estupradores, pistoleiros, arruaceiros, psicopatas, salazes, traficantes, piratas, celerados, corruptos e políticos desonestos.
Navios, galés, caravelas, abarrotados com gente da pior índole possível para cumprirem pena soltos, na terra descoberta por Cabral.
Se um não valia nada, dois não era troco.
E esta gente, ansiosa por sangue e vítima, se espalhou rapidamente pelo imenso litoral, aprisionando, matando, estuprando, invadindo, impondo a perversa lei do mais violento, do mais  carniceiro da idiotia completa.
E com o passar dos decênios e dos séculos, como o que é ruim é mais fácil de assimilar do que o que é bom chegamos onde estamos, com esta política imoral, escandalosa, corrupta, de mão grande, de favores e conchavos, com uma justiça sem braços e também cega, propícia para não alcançar e nem ver os colarinhos brancos que tanto mal fazem à Pátria.
Não sou muito diferente.
Sou prefeito de uma pequenina cidade chamada Latrina, composta de um povo humilde, analfabeto, ignorante, totalmente matuto, ambiente ideal aos meus mandos e desmandos, porque afinal, sou a autoridade mais importante deste sovaco de serra, perdido neste inexpressivo Estado do meu País.
Sei assinar meu nome, sei ler e escrever pouco, mas sei.
Sei somar e subtrair (que é minha conta favorita), só multiplico o que quero ganhar e em questão de dividir, nunca aprendi coisíssima alguma.
É muito fácil administrar Latrina, uma vez que todos os vereadores comem na minha mão, se é que vocês me entendem.
O presidente da Câmara era açougueiro no pequeno mercado, é meu compadre, pois sou padrinho de uma das suas filhas, que no momento, não lembro o nome.
Os outros seis vereadores, dois são agricultores, só andam na cidade de mês em mês, quando a Câmara faz o pagamento, um, era gari, outro é fazendeiro, outro é caminhoneiro, pouco aparece e o último é comerciante, não dá palpite nem discorda de nada.
São todos conhecidos e amigos, o que facilita em muito a minha gestão.
Na minha concepção, é bom demais ser político e principalmente prefeito, de uma cidadezinha perdida nos sovacos de serra, quase inacessível, de povo pobre, miserável, inculto, incauto e totalmente caipira.
Aqui a vida é pacata, formada por gente ordeira e trabalhadora. A economia baseia-se pura e simplesmente de produtos agricultáveis, criação de ovino e caprino e a exploração de carnaúba.
Não temos muito gasto por aqui, por isso, não temos, nem temo fiscalização do TCM (Tribunal de Contas do Município), uma vez que as verbas que chegam, quando chegam, acabam-se rapidamente.
Já estamos em pleno outubro e este ano ainda não troquei meu carro.
Não posso reclamar muito, pois quando fui eleito, de meu só possuía um lote de terra que havia ganhado em uma aposta de corrida de cavalos e uma bicicleta com os pneus já carecas.
Nestes três anos em que fui eleito e que estou à frente da prefeitura, já consegui comprar uma fazendinha, equipá-la com um trator potente, uma colheitadeira, duas ranger’s, um caminhãozinho, uma boa casa na cidade, construí um açude na fazenda e tenho meu carrinho importado para meus passeios na Capital.
Não tinha nada na vida e hoje tenho até conta bancária, sou dono do único posto de combustível, como também do único hotel, sou sócio da madeireira e estou fazendo uma vila de casas para alugar, este negócio de conjunto habitacional, não é comigo, tenho é nojo!
Possuo pouca coisa, mas acho que já me garante tranqüilidade sem fazer muita força para sobreviver por uns poucos quarenta ou cinqüenta anos a mais.
Porém não pense que foi fácil, pois tudo que consegui foi através de muito esforço, noites e noites fazendo cálculos para desviar alguns tostões de verbas irrisórias que chegam para a educação, saneamento básico, saúde, habitação, transporte, umas merrequinhas que dão muito trabalho para que não sejam notadas suas retiradas pelo eleitorado, e as propinas que irremediavelmente precisam ser divididas com a oposição, o cala boca, entende?
O povo já é acostumado com pouca coisa mesmo, não é verdade?
Iluminar uma praça e fazer uma festa de inauguração, aproveitando a festa do padroeiro, faz com que a turba se deleite e não queira nem saber de onde veio o dinheiro.
Estou quase rotulado como santo, só porque inaugurei dois chafarizes na cidade e coloquei uma televisão na praça central para o povo assistir.
Mas sou homem de muita obra!
Quando estou em meu gabinete, sentado aqui em Latrina, não deixo por menos e a obra sai.
Creio que todo político que se preza, que deseja ter seu nome alçado nos anais da história política deste País, realiza obras e mais obras, seja como vereador, prefeito, deputado estadual, federal, senador, ministro e até, presidente.
E é o que faço em Latrina.
Não podemos fazer tudo que o povo deseja, temos que fazer com que precisem sempre, prometer como certo, realizar o mínimo e nunca, jamais, gastar toda a verba em uma obra.
Pagar um litro de cachaça em um boteco, dia de domingo para um bando de desocupados, é também muito significativo, pois aumenta a bajulação coletiva.
Essencial para o povo é você doar um saco de cimento, um filtro, uma rede, um óculos, uma dentadura, um casamento civil, um milheiro de telhas ou tijolos, um saco de adubo ou um remédio. Aí meu filho, é voto certo, encabrestado, filado para o resto da vida. Pode se candidatar até a cachorro que o povo elege, vá por mim.
E agora vou fazer igual ao Chavez da Venezuela, vou dominar o povão e me eleger até não sei quando.
Prometa! Não cumpra, mas prometa!
O resto é só sentar na latrina que a obra sai!
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                  

 SEGURANÇA NACIONAL
Existe em nosso país uma falsa segurança, tanto ao cidadão como às Instituições.
Uma falsa moralidade e uma incompetência generalizada, uma justiça inoperante que só atende aos interesses dos que dispõem de recursos, uma punição branda demais quando algo de podre recai sobre alguém de colarinho branco, o “jeitinho” brasileiro que massacra sem dó nem piedade a toda uma população pobre e carente de estudo, de trabalho, de dinheiro, de saúde, de saneamento básico e de moradia.
Por mais pobre que se seja, é obrigatório dispor de segurança particular, em boas casas ou em simples barraco.
Para os mais abastados, câmeras instaladas, circuito interno, cerca elétrica, guardas com rádio comunicador, portaria reforçada, seguranças particulares e porte de arma para a segurança pessoal.
Ao pobre periférico, assalariado, favelado, ribeirinho, autônomo, desempregado, resta no máximo, uma grade de ferro na janela e outra na porta principal. Sua calçada é ocupada diuturnamente por jovens que não possuem nenhuma expectativa, totalmente ociosos, cabeças permanentemente em total efusão na elaboração de atos espúrios e prejudiciais à sociedade.
Os menores de idade, mas de físico avantajado, batem de frente com o cidadão comum, humilhando até as pessoas mais simples, enfrentam de maneira acirrada e desrespeitosa a militares que lhes abordam.
Os presídios superlotados são palcos constantes de rebeliões geralmente com reféns e depredações generalizadas.
Bairros e cidades inteiras, coagidas e temerosas das balas perdidas, dos assaltos, dos estupros, da depredação do patrimônio público, seguidos por seqüestros, roubos e crimes que já viraram uma constante no nosso dia a dia.
Gangues que se digladiam em plena luz do dia, aterrorizando moradores pobres de nossas periferias, já tão abandonadas pelo poder público.
O sangue humano lava calçadas e ruas, numa prestação de contas carnificida dos usuários e traficantes de drogas que já contabiliza um número incomensurável de seguidores, vítimas incessantes do próprio vício.
A polícia, órgão de repressão do Estado, tem dia após dia, a sua autoridade diminuída por uma justiça inoperante e maleável demais para quem tem o crime como profissão de sobrevivência.
Como coibir a violência contra as nossas crianças na orla marítima de nosso país, suas imensas fronteiras, nas sucessivas festas, nos carros de som abusível, no lesionamento moral e físico das mulheres brasileiras, os estelionatos, a corrupção e a justiça totalmente cega e indiferente ao caos pela falta de segurança?   
Será que isto é que é Segurança Nacional?
Radialista/Escritor/Poeta
            Brasilia/DF                   
O PRESIDENTE SABIA?
Olha, a coisa mais comum que existe neste governo do PT é a falta de consideração com o Presidente da República.
Parece que lá todo mundo é autônomo, não existe hierarquia, ninguém é subordinado a ninguém, todo mundo faz o que quer, ninguém presta conta de seus atos, e deles até insanos.
Quando o José Dirceu era o poderoso ministro da Casa Civil, aliou-se a uma récua de verdadeiros abutres e criaram sem nenhuma cerimônia ou pudor, o caso do mensalão, mas o presidente, não sabia de nada.
Aí apareceu o Roberto Jefferson, que falou inclusive para o presidente, alertando-o do que estava se passando nos bastidores do poder, mas o presidente reafirmou que não sabia de nada e lavou as mãos como Pôncio Pilatos.
O Genuíno estava lá, todo enrolado, junto com a corja, mas o presidente de nada sabia.
O irmão do Genuíno, outro deputado, foi flagrado, em pleno aeroporto, transportando dólares na cueca, muito dinheiro, mas o presidente de nada sabia.
O Delúbio Soares, tesoureiro do PT, o partido do presidente, era um dos principais articuladores do mensalão, mas o presidente não sabia.
Aquele secretário do PT que ganhou através de propinas e conchavos aquele jipe Xerokee, acredito que em troca de muitos favores, estava metido no bolo do mensalão, mas o presidente não sabia.
O Marcos Valério, aquele menino bobo, responsável por todas as transações, comprando o silencio de deputados, senadores, governadores e prefeitos e até gerentes de bancos em vários Estados e infiltrado em inúmeros partidos, manuseou milhões de reais, mas o presidente de nada sabia.
O filho do Lula entrou numa transação comercial altíssima com uma empresa de telefonia, onde rolou muito dinheiro, muita gente insatisfeita chiou muito, só que mais uma vez o presidente.
A Dilma Roussef, poderosa ministra que substituiu o Dirceu na Casa Civil, “um amor de pessoa, simpaticíssima, manipulou e mandou engavetar processos que havia contra a família Sarney, mas isto nem ela sabia, quanto mais o pobrezinho do presidente.  
Aquelas nomeações de funcionários fantasmas que eram feitas nas madrugadas do Senado e da Câmara, visavam incriminar o pobre do inocente do Sarney, “rapaz bom, dono do Maranhão”, terminou em pizza e por quê? Porque mais uma vez o presidente não sabia de nada.
O Severino, menino besta, comendo por fora do Senado, com um salário ínfimo, poucas mordomias, ninharias que recebia para despesas de gabinete, passagens aéreas gratuitas, estava quase passando fome, resolveu exigir propina da lanchonete que funciona no Senado e o coitado do presidente mais uma vez, de nada sabia.
O Renan Calheiros deu muito trabalho pra largar o osso, criava até vacas fantasmas, frigorífico inexistente, notas fiscais frias, mas quem disse que o presidente sabia?
Aqui pra nós, acho tudo isso uma falta de consideração muito grande para com o presidente da República.
Por estas e outras tantas, fico perguntando a meus botões: será que ele sabe que é presidente?
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
 FÁBRICA DE BONECOS
A nossa democracia mais parece uma teocracia, pois a simples presença de um parlamentar é cultuada por adoradores, bajuladoras, eleitores incultos e mal informados, como se ali diante deles estivesse um deus que tudo pode e tudo vai fazer.
As propagandas enganosas, radiofônicas, televisivas, editoradas em jornais e no tête-à-tête, são emanadas com ênfase que por muitas vezes, convence até àqueles que se diz oposição.
A oposição por sinal, aqui no Brasil, difere apenas pela sigla partidária, pois todos comem no mesmo cocho, partilham das mesmas idéias, dos mesmos engodos e da mesma patifaria e saboreiam a mesma pizza.
E quem somos nós?
Somos o grande eleitorado, que por decênios e mais decênios, vivemos enganados por discursos demagógicos, frases cretinas e descaramento total.
O Brasil é na realidade, uma fábrica de bonecos mamulengos, onde os ricos cada vez ficam mais ricos e os pobres, mais pobres, por ser a riqueza mal distribuída, onde banqueiros e políticos estelionatários são amparados e ressarcidos pelo governo, enquanto que os pobres assalariados, enforcados pela prestação de um eletrodoméstico, pagamento de impostos, empréstimo em banco, são obrigados a cumprir fielmente com suas promissórias, sendo para isso dada em garantia, uma nesga de terra (de onde tira o parco alimento dos filhos) ou uma simples casinha, levantada tijolo a tijolo com o suor de seu rosto.
Os discursos políticos são elaborados por especialistas, não menos escabrosos, demagógicos, mentirosos, cheios de promessas infundadas, para quem tem o cuidado de não cair na armadilha de palavras, sinônimos e gramática cheia de falcatrua nas frases elitizadas e incompreensíveis aos menos esclarecidos.
É impressionante a cara de pau dos políticos em época de campanha, com seus discursos repetitivos, a mesmice de sempre, que não fica fora de moda, e isto é que impressiona.
Com suas lábias e seus linguajares, conseguem arrebatar multidões, pessoas simples e crédulas que ainda permanecem sob o voto de cabresto, que ainda baixam a cabeça e balbuciam um sim senhor aos desmandos cometidos por mentecaptos, sem um pingo de consideração ou remorso pelo embuste protagonizado em seus discursos, verdadeiras iscas ou fojos, prontos para laçar os incautos.
Talvez seja por isto que este país tem tantos artistas que esculpem na madeira, seja em Aparecida do Norte, em Juazeiro do Padre Cícero, em Belém do Pará e em Canindé de São Francisco, mãos habilidosas que fazem imagem de santos, padroeiros de suas cidades, outros em carranca, tudo talhado na madeira.
É de se admirar, no entanto, que o Brasil que teve seu nome originado de uma árvore que era farta em todos os recantos de nossa terra, deu origem também ao político cara de pau, pena que o cupim não ataque estes rostos que sem sombra de dúvida, merecem ser corroídos até os ossos, para que não continuem a fazer deste povo ordeiro, simples e crédulo, uma imensa fábrica de bonecos manipulados.  
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
DIA DOS PAIS
Ah! Figura insubstituível!
Pessoa mais amiga que se tem, que a todo custo, só quer o nosso bem.
Que saudade de um tempo não muito longínquo quando a gente acordava pela manhã e pedia a bênção de pai e mãe.
Pai é uma figura respeitável, de jeito austero, por vezes rude, cara fechada, mas para nós, é o mais importante herói, o homem que não erra, não chora, tudo sabe, responsável por nossa alimentação, casa, vestuário e educação.
Impõe obediência, respeito, castigo, mas, no recolho do lar, na hora de armar as redes de dormir, ao fechar das portas, ali está ele, o homem carinhoso, o abnegado pai de família, o protetor, brincalhão, o amigo dos filhos.
Ali, na intimidade do lar, é que vemos nosso herói, despojado de seu habitual stress, da rudeza da vida, da batalha incansável pelo pão de cada dia.
Ali está papai!
Que saudade!
Saudade do único amigo verdadeiro que na vida possuí.
Tão simples e tão importante, tão austero e tão necessitado de amparo, de uma mão amiga, de um afago sincero, de uma carícia terna.
Dizem que a gente só dá valor às coisas ou às pessoas depois que as perde.
Confirmo ser a pura verdade.
É que sua presença física, além de nos confortar, nos amparar, não nos deixava pelo menos imaginar como seria nossa vida sem ele.
E ele, ao partir, deixa uma imensa lacuna, impossível de ser preenchida.
Ficamos atônitos, perdidos em nossas indagações, inconformações, desnorteados em nossas frustrações, um vazio imenso.
Falta papai na janela, no quarto, na sala, na cozinha, na calçada, em todos os lugares costumeiros que o achávamos em nossas necessidades.
Falta papai na vida da gente.
Falta um pedaço de você.
É angustiante e inexplicável.
É um amor que vem de dentro, enraizado nas veias do coração, nos flashes dos neurônios, numa célula do cérebro, na memória e principalmente, na retina.
Que falta que ele faz!
Robotizado nos tempos modernos, com o esfacelamento da família, as separações freqüentes e a falta diária de contato à mesa, nós, que fomos criados com pai e mãe nos orientando, aconselhando, cobrando, exigindo, pedindo, mandando, acariciando e batendo quando necessário, temos a certeza que era exatamente assim que o elo familiar não quebrava, o amor era fortificado e a paz duradoura.
Que saudade de papai!
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
A EXPLOSÃO DO VULCÃO
E o estopim estava ali, aceso, com a chama semi-encoberta para que a sociedade não tomasse conhecimento. Aliás, eram muitos os estopins ramificados e espalhados em todas as direções.
Um estopim silencioso, mas mortal, depredador, que quando explode, chega com ódio, com violência, não respeitando nada nem ninguém, apavora cidades, cidadãos e a própria Segurança Nacional.
É a bomba da morte, da depredação e do vandalismo, do crime organizado, das facções criminosas e que atende pelo nome de celular.
Fico a imaginar como somos vulneráveis, vítimas fáceis, indefesas, até na Constituição que rege nosso País, pois sabemos que nossos políticos apenas hibernam em seus gabinetes durante seus mandatos, sem um pingo de vontade de mudar o quadro estarrecedor em que nos encontramos, incompetentes, com o poder de mudança nas mãos, mas permitem que criminosos se arvorem de juízes selem a sorte ou a má sorte de pessoas aleatoriamente, através do aparelho celular, dentro dos presídios brasileiros.
Uma horda de mentecaptos, criminosos, sanguinários que determinam dia e hora de ceifar vidas de cidadãos e até de autoridades, através de um simples telefonema.
E assim muitas vidas de pessoas comuns do povo, são tiradas por simplesmente se encontrarem em hora e lugar errado, quando do ápice das manifestações monstruosas e cruéis destes sanguinários, não lembrando eles que estão matando àqueles que pagam impostos e os sustentam durante o tempo de cárcere, nas mordomias dos colchões novos, televisores, quadra de futebol e até nutricionistas para balancear a alimentação.
Enquanto que aqui fora, a marmita do trabalhador, recebe como mistura, apenas um ovo frito.
Tudo isto se deve, no entanto, ao comodismo e às Leis Brasileiras que são brandas em demasia para com os marginais além do sistema carcerário que sem sombra de dúvidas é aquém do que é implantado em países desenvolvidos.
Tomássemos como modelo e exemplo o sistema carcerário implantado nos Estados Unidos, onde preso vive algemado, acorrentado nos pés, sem direito a um aparelho telefônico, trabalhando, tanto para sair da ociosidade, como para pagar seu próprio sustento, isolados em celas separadas, sem contato com visita externa, até mesmo do advogado, sem benefício de indulto natalino, fim de ano, dia das mães, aí sim, como iriam fazer rebelião?
Como comandar os comparsas fora dos muros dos presídios?
Como receber drogas e armamentos?
Como ordenar mortes, depredação de celas, camas, telhados e ônibus coletivos?
Tudo isto que acontece aqui no Brasil, porque a ética foi deixada de lado, dando lugar ao “jeitinho brasileiro”, mostrando ao mundo que aqui a justiça é realmente cega, a balança desregulada e a espada sem fio, quando se trata de falcatruas de gente que pela força ou pela posição social, massacram os menos favorecidos, porque ficam impunes, crescendo assim a afronta sobre um povo humilde e acostumado a assistir de camarote a todos os shows, circos e pizzas que são uma constante em nossa Pátria.

Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   

CHAME A POLÍCIA
“Hoje a nossa polícia ta muito fiscalizada, por isso é que cabra ruim deixou de levar mãozada. É, porque antigamente, cabra metido a valente, quando a polícia pegava, ficasse com foi num foi, era cada tapa ôi, que o mocotó entrançava. Hoje a polícia num pode mais dar cacete em ninguém, cinegrafista amador, em toda janela tem”.
“...” este é um trecho da poesia e música “O filho da inselência” de meu amigo Amazan, poeta, sanfoneiro e forrozeiro de quilate da Paraíba.
É sem sombra de dúvidas uma grande verdade, uma vez que a polícia deve agir como órgão de repressão, responsável que é pela segurança e bem estar de toda uma sociedade.
Tiraram a autoridade da polícia e a sociedade hoje vive reprimida pelos marginais que afloram em todo o País.
O policial vive escondido, pois virou caça predileta dos criminosos. O profissional militar, de qualquer das policiais, sai de casa, camuflado, à paisana, com uma sacolinha na mão, onde se encontra sua farda. Ele não pode ostentar seu traje de trabalho, nem se identificar, pois ou ele morre, ou sua família paga pelo que ele é. Polícia!
Não é um absurdo?
Os valores foram totalmente invertidos.
Lembro-me que tempos atrás, o juiz, o delegado, o padre e o prefeito, eram as autoridades máximas de uma cidade. A policia tinha como papel principal, reprimir os mais abusados, que não eram muitos, já que as pessoas tinham vergonha de irem presas.
Hoje é tudo tão rotineiro, que virou naturalidade um juiz ser preso e levantar as algemas para as câmeras, como se fossem troféus.
É a certeza da impunidade.
Quando vemos toda a baderna realizada pelos menores (leia-se, delinqüentes) destas Casas de Custódia ou de Recuperação, dá-nos a impressão de um descontrole generalizado dos órgãos de repressão à violência, a falência múltipla das direções destes Estabelecimentos e o caos, o medo e o pavor a que ficam expostos os funcionários que ali trabalham.
Por causa disso, não podemos e não devemos achar que os coitadinhos têm razão, são maltratados e merecem compaixão. Milhares destes pobrezinhos, já passaram por diversas oportunidades por estas casas de recuperação, e hoje, são o terror de nossa sociedade, responsáveis que são por crimes hediondos, como latrocínios, homicídios, tráficos de drogas, estupros, seqüestros, roubos, assaltos, lesões corporais e tudo o mais que é vil e degradante no ser humano.
Já aconteceram rebeliões que estes meninos colocaram para fora, todo o seu instinto animal, matando companheiros e jogando o corpo de cima dos telhados, ferindo funcionários aos quais fazem reféns, degolando ou simplesmente furando outros internos com cossocos, oportunidade em que eles fazem miséria, exatamente para chocar a opinião pública e aterrorizar os cidadãos de bem.
Por mais que psicólogos, psiquiatras, terapeutas, sociólogos e este pessoal dos Direitos Humanos tentem incutir na sociedade que estes delinqüentes têm jeito, mais eu tenho certeza que, quanto mais proteção, defesa e conforto, pior eles ficam, além de mais agressivos e perigosos. São criminosos, e assim devem ser tratados.
Está na hora de parar com esta hipocrisia que chega à beira da idiotice.
Estes menores que lá estão, é porque agiram contra a Lei e se assim o fizeram, são criminosos (cometeram crimes).
São projetos de bandidos que a sociedade espera que a LEI mude, para que tenhamos um pouco de paz e não vivamos sobressaltados com o terror de encontrá-los nas ruas, ou eles nos encontrarem dentro de nossas próprias casas.  
Pobreza, nem é vergonha nem dá exclusão social. O indivíduo, quando tem péssima índole, mesmo nascido em berço de ouro, fatalmente procurará se unir aos seus iguais no mundo da marginalidade.
Milhares de famílias neste País comem uma vez por dia, alimentos encontrados em lixões das grandes cidades, ou nos pátios, contêineres e latões dos Ceasas. Os filhos destas famílias dormem sobre papelões ou colchões achados nos lixos. Pais e mães de família catam material reciclado em carrinhos e carroças, varando madrugadas, sob chuva, frio ou sol escaldante, mas vivendo digna e honestamente do suor do próprio rosto.
Chegamos aonde chegamos, por pura e simples incompetência de nossos políticos que nada mais querem na vida do que gozar dos direitos que a política lhes assegura (rechear suas contas e esquecer seus deveres), que entre eles, está a segurança deste povo humilde e pacato de nossa Pátria.
Quando uma cama quebra na casa de um pobre, por mais favelado e excluído que seja, imagine quanto tempo ele passa se privando da carne do fim de semana para poder cumprir com a prestação na loja. Queime a fonte de um televisor e verá quanto tempo a família fica sem o simples prazer de assistir à TV, por não poder arcar com o concerto.
 Agora vêm estes homens (ali não tem mais menino), já que são aptos a praticar qualquer tipo de crime, fazem suas rebeliões como se fosse festa, a policia não pode tocar num fio de cabelo, depredam tudo, incendeiam, quebram telhado, cozinha, enfermaria, fazem reféns, matam, estupram degolam e como represália dos órgãos que deveriam reprimi-los, ganham novos colchões, novos televisores, novas bolas para a prática do esporte, mais tempo para banho de sol, comida preparada por nutricionista e por aí, vai.
E tudo isto com o aval das autoridades e pagos por nós que realmente trabalhamos e pagamos impostos.
Enquanto isso aqui fora, nós cidadãos, temos como companhia em nossa rotina, o medo, por isso estamos gradeados, presos em nossas próprias casas e o terror da rua é o toque silencioso para que nos recolhamos mais cedo. É, porque a qualquer hora, outra rebelião pode explodir, os meninos fugirem em massa e invadirem nossas casas, como uma tsunami, pois aonde vão passando, vão deixando o rastro do pavor e a cara da morte.
E que ninguém se oponha e não encoste um dedo, pois o pessoal dos direitos humanos está de olho.
Digo uma coisa sem medo de errar: se houvesse um plebiscito neste País, o povo cansado e amedrontado como está iria com certeza pedir para que fosse devolvida a autoridade às nossas Polícias, pois são quem de direito sabem lidar com este imenso problema chamado “Casa de Recuperação”, pois pra mim, ela recupera apenas a AÇÃO destes marginais e do mundo carcerário como um todo.
A sociedade, NÃO agüenta mais!
Matéria publicada no jornal Diário de Penápolis - 16/03/2005
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
A INDÚSTRIA DO CONCURSO
Está ficando cada dia mais difícil para o brasileiro, conseguir o tão sonhado emprego.
Não dá mais para confiar em concurso público.
O Brasil, com seu moroso desenvolvimento, abriga hoje milhões de desempregados, que andam como autômatos, nas ruas das grandes cidades, na busca incessante por uma vaga no mercado de trabalho, percorrendo inúmeros quilômetros, em meio a tantos outros de igual sorte, de fábrica em fábrica, de indústria em indústria, vislumbrando de soslaio a página de emprego de um jornal que alguém está lendo, passando horas em filas de dobrar quarteirões dos CTAs, CUTs, Casas do Cidadão e SINES da vida, preenchendo fichas, realizando entrevistas, pesquisando, anotando, cansando e se frustrando.
A humilhação é uma constante num povo que vê suas esperanças minguando dia após dia, numa batalha desigual pela sobrevivência, sem o amparo governamental, abandonado em levas nas grandes cidades, inchando as Metrópoles, povoando favelas em condições subumanas, proliferando sob viadutos, pontes e praças, num constante vai e vem, expondo as chagas da miséria nas principais avenidas.
Em decorrência, há o crescimento vertiginoso da criminalidade e da prostituição, aflorando claramente à vista de todos o descalabro da injustiça, aumentando cada vez mais na pirâmide social, o nível dos miseráveis, largados ao deus dará.
Em se tratando de Concurso Público, nota-se que esta INDÚSTRIA cresceu assustadoramente.
É visível o desrespeito pelos que, além de se encontrarem ociosos, pelo desemprego exacerbado, na tentativa de resgatar sua dignidade, têm como único recurso humilhar-se ao empréstimo ou ao pedir dinheiro para que possa pagar a taxa de inscrição que lhe dá direito a fazer as provas em um bendito concurso.
Provas estas que estão buscando de todas as maneiras possíveis, eliminarem o máximo de candidatos. 
As exigências são muitas, até porque, a concorrência é assustadora e por isto mesmo, as inscrições são em números elevadíssimos e consequentemente a teoria das provas é elaborada para que poucos possam obter êxito.
Mas aí, eu PASSEI!
Prefeitura Municipal, interior, vida pacata, amena, gente simples, prepotência e voto de cabresto!
Perseguição política, mesmo sem você ser candidato ou apoiar alguém, só precisa ser, como dizem por lá: de fora!
É não sou da cidade, então sou o alvo principal, tenho que ser removido, transferido para um lugar inóspito, dentro do mato, num posto de saúde que não foi e nem será inaugurado antes do término das apurações dos votos, mesmo que faltem sete meses para as eleições municipais.
Não é um pedido de transferência, é simplesmente uma EXPULSÃO!
Ali no meio do mato, a vizinhança recebe as ordens: não é para dar almoço, nem café, nem dormida. O posto de saúde não tem água, nem banheiro, não há como tomar banho e nem onde armar uma rede.
Não adianta voltar se humilhando, pois enquanto você vai “olhar” seu novo local de “trabalho”, onde você estava até ontem, seu lugar encontra-se ocupado com um morador da cidade que também fez concurso, NÃO obteve êxito, mas é eleitor fiel.
A pressão é tão forte, o cabresto de nylon puro, o Secretário é o “coronel” e você só acha uma saída: ir embora!
E foi o que fiz.
Também existe aquele concurso assim: Prefeitura Municipal do Interior: taxa de inscrição, viagem, hospedagem, provas nulas, nova viagem, hospedagem, 90% de acerto nas provas. APROVADO!
Qual o quê!
Eu não sou da cidade!
Quem fez apenas 15% da prova tem prioridade, pois tem família na cidade e é um eleitor para as próximas eleições.
E não é que dois anos depois, realiza novo concurso, na mesma cidade do interior: inscrições presenciais, viagem, hospedagem, dia de concurso, viagem, hospedagem.
E tem aquela Prefeitura do Interior onde também fui aprovado, nunca me convocaram e já realizaram novo concurso para os mesmos cargos.
É verdadeiramente um absurdo!
Lembra da Polícia Rodoviária Federal, o montante de dinheiro arrecadado, Um Milhão de candidatos e oferecia apenas duas mil vagas para todo o Brasil.
Um Milhão de Candidatos!
Apenas Duas Mil vagas!
Quantos candidatos fizeram as provas dos Correios? Quantos foram aprovados? Quantos convocados? E todo o dinheiro que sobrou das inscrições que excederam das vagas, podemos saber pra onde vai, pra onde foi, com quem ficou?
Se não lembra da PRF, vai se lembrar então do INSS (Instituto Social de Seguridade Social), que está com concurso aberto - 1500 vagas -  distribuídas em todo o País, com taxas de inscrição caríssimas e que por ventura inscreverá mais de um milhão de candidatos, NÃO convocará em dois anos os pseudo 1500 aprovados, deixará caducar, ficará com dinheiro em caixa dos 998.500 candidatos se fossem arredondados o milhão de inscritos e que não conseguiram aprovação e convocarão novo concurso em 2014 ou 2015 para mais uma vez reforçar o caixa e fazer o concursando de trouxa.
E nada do que aqui está relatado é exagero ou invencionice.
E em nome de milhões de brasileiros que se inscrevem para concursos, gostaria de perguntar: - existe algum órgão fiscalizador da Indústria do Concurso (máquina de arrecadar dinheiro fácil), que possa acabar com esta farra explícita e enganosa de um povo tão crédulo e carente de tudo como o nosso?
Não acha que é uma concorrência muito grande com o Congresso Nacional de Brasília?
Aí eu digo: - Ô Cabral, cabra bom de peia!
Matéria publicada no jornal Correio de Lins (SP) - 07 e 08/08/2004
alkasar@ig.com.br
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
O PODER DO VOTO
Mais uma vez estamos prestes a depositar nas urnas o bendito voto, angariado, disputado, procurado e valorizado, por inúmeros políticos em todos os Estados e Municípios brasileiros.
Infelizmente, entra décadas e até séculos e nosso povo, nunca aprendeu a votar.
Estava certo o presidente Figueiredo quando falou que: “um povo que não sabe nem escovar os dentes, não sabe votar”. Corretíssimo o Figueiredo que disse ainda: “acho mais cheirosos os meus cavalos do que o povo”.
Bem feito pra nós!
Já em um governo mais recente, os trabalhadores e aposentados desta Nação, foram tachados de vagabundos e desdentados.
Bem feito pra nós, de novo!
É lógico que não somos vagabundos, pois o que não falta neste País, são pessoas a procura de emprego, de honra, de cidadania que, se não encontram, é justamente pela falta de competência dos próprios políticos, incapazes que são de gerir uma Nação tão grande e tão rica, mas que infelizmente são colocados “lá”, por nossa ignorância na escolha.
Agora, trinta e oito milhões de brasileiros, além de analfabetos, são também desdentados, por isto não escovam os dentes, são famintos, desempregados e doentes de inanição, como também desprezados, entregues ao deus dará sem objetivos ou esperança.
Outro governo mais recente ainda, deu um jeitinho de oferecer esmola para o povo, com uma tal de bolsa família, que viciou ligeiro demais a nossos sertanejos e também citadinos que abandonaram por completo seus próprios valores e honra e hoje se encontram nas esquinas e bares em plena jogatina e bebedeira, esperando a tal “ajuda do governo”, numa ociosidade que faz pena, nojo e asco a quem tem um pouco de hombridade.
Um País onde os governos não priorizam o amparo e educação séria a milhões de crianças que vivem subjugadas ao trabalho infantil, no corte da cana, da juta, carvoarias e olarias espalhadas pelas cinco regiões, que não tem competência para ressocializar suas crianças de rua e os desafetos mirins que entopem as Casas de Recuperação, expõe sua chaga maior na representação política, eleita por este mesmo povo que após as eleições é tratado como restos de um banquete onde poucos se refestelaram e tiraram proveito da ingenuidade popular.
No dia em que este povo tomar conhecimento que o VOTO é documento comprobatório e que pode mudar radicalmente a maneira de legislar do governo, que a política é parta propiciar o resgate do direito ao trabalho, saúde, educação, segurança, lazer, ao desenvolvimento sócio-econômico e vida igualitária, visualizar que DEVE VOTAR em quem realmente tem propósitos de proteção de direitos e dignidade para nós brasileiros, aí sim, exclui-se a politicalha e entra a política em sua essência (arte de bem governar os povos), as coisas melhorarão e tenho certeza, a prioridade deixará de ser pessoal e passará ao franco desenvolvimento e participação coletiva, rumo ao Primeiro Mundo, patamar que já deveríamos ter alcançado há tempos.
Acho impressionante como em tão pouco tempo, os candidatos conseguem através de suas milionárias campanhas e idênticos comícios, fazer uma lavagem cerebral tão eficaz no povo deste País.
Acho que é porque de há muito que eles notaram que o povo não usa esta parte da cabeça, tem memória curta e é fácil de ser manipulado.
Tiro realmente o chapéu para o marketing aplicado, pois não perdem nem para algumas seitas religiosas.
O povo, em se tratando de eleições ainda é um bando de cordeiros dóceis e de fácil manejo e os políticos ainda possuem para favorecimento próprio os “votos de cabresto”, tão em voga ainda hoje, espalhados por este Brasil de meu Deus.
Mesmo assim, desde 1889 que palanques de comícios são usados como escada fácil para o desempenho articulado da maioria dos políticos que posam de bonzinhos, oferecem “santinhos”, lhe reconhecem na rua, dão tapinhas em suas costas, apertam sua mão e até tomam café em bares e3  botecos baratos de bairros pobres e desprezados e que, pela manipulação mórbida já estão acostumados ao período pós-eleição, que é o do descaso e abandono.
E pensar que para mudar toda esta situação é preciso apenas aprendermos uma maneira muito simples: saber o PESO DO VOTO de cada um de nós e como é decisivo para podermos ser livres de moral e de consciência.
Errar, portanto é humano, e já erramos demais por um período muito extenso, mas permanecer no erro, tendo consciência de que está fazendo a coisa incorreta, ultrapassa o limite da burrice e ficamos caracterizados como idiotas.
Vote consciente com a certeza de que após as eleições seus candidatos comprovarão através de atos benéficos, que praticam a política de modo objetivo e você com orgulho possa olhar dentro dos olhos dos seus filhos e falar: - estão vendo? Estes sim mereceram meu voto, cumprem com seus deveres como representantes do povo e praticam a Democracia Plena, Geral e Irrestrita, em prol de nossa rua, nosso bairro, de nossa cidade, de nosso Estado e principalmente, do desenvolvimento de nosso País.
Matéria publicada no jornal Correio de Lins(SP) - 30/09/2004
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
PAÍS DO CARNAVAL
Acredito que não haja País no mundo que seja tão cheio de irresponsabilidades como este nosso.
Um País que se encontra de pires na mão, com milhões de desempregados, outro tanto de famintos, mendigos, analfabetos, crianças prostituídas, endividado até onde não pode, uma corrupção exacerbada e impune, País que possui uma bandidagem armada e sofisticada, mais bem municiada que a policia, um País com moeda podre e sem respaldo exterior, onde políticos  aumentam ao teto que querem seus proventos, enquanto o trabalhador, aquele que realmente produz, recebe um mísero salário que é um dos menores do mundo.
O Brasil é um dos Países que mais tem feriados e adora-os.
Quando chega fevereiro ou março, o País para.
E para pra quê? Para o Carnaval!
Não bastassem as micaretas, os fortais da vida, as perifolias, todos os carnavais inconseqüentes fora de época, as festas espalhadas em todos os confins megas bandas, os fins de semana prolongados, chega o bendito ou maldito Carnaval!
Todos os setores da Nação, parados. Até os que produzem, como é o caso das fábricas, indústrias, setores agropecuários e também os que nunca trabalham e aproveitam a época para o continuísmo, como é o caso de Brasília.
Tudo isso para que se possa garantir a gandaia, a sacanagem televisiva, a prostituição, os atentados ao pudor, a falta de moral e vergonha, a venda e consumo de drogas, de bebidas alcoólicas e tudo com o aval das autoridades. É realmente um BBB! A orgia brasileira!
Um País miscigenado com o que havia de pior em Portugal, em época momina, dá sua eficácia de preguiça e vagabundagem.
E na quarta-feira de cinzas, começa a voltar lentamente ao que lhe compete: País falido, todo mundo sem dinheiro, milhares de mães desesperadas pelas filhas prostituídas (pois ninguém é de ninguém) mesmo porque é a época de Sodoma e Gomorra, outros milhares de mães enlutadas pela perda dos filhos e muitas mulheres viúvas em decorrência de brigas, batidas, viradas, atropelamentos que são tão comuns nesta desnecessária overdose de folia.
É muita falta de seriedade em um pais deste tamanho.
Pelo bom senso que falta a todos que comandam esta Nação, bastaria que todos trabalhassem até sexta-feira ao meio dia, com retorno previsto para segunda-feira à tarde, sem exceção, a começar pelo Congresso Nacional, que na verdade é quem primeiro dá o mau exemplo.
Seriedade! É só isto que falta, seriedade!
Como despontar desenvolvimento numa Nação de terceiro mundo como a nossa, se tudo é motivo para festas e feriados, paralisando totalmente os setores produtivos?
Para se ter um exemplo, o Japão tomou duas bombas atômicas, quase se acaba, recentemente um destrutivo e impiedoso terremoto ( já está de pé e de cabeça erguida) e é um dos países mais ricos do mundo tecnologicamente. Procure saber quantos feriados o Japão dispõe para gandaia coletiva?
Prospera porque trabalha, visa não o dia de amanhã, mas as décadas e os séculos que virão. O Brasil é realmente muito diferente, pois os dias em que se trabalha no Japão são os dias em que aqui os festejos prevalecem: shows, vaquejadas, rodeios, festas dançantes, piqueniques, dias santos, natal, dia de ano, dia do padroeiro, dia das mães, dia dos pais, dia dos namorados, dia do estudante, dia do professor, férias, folgas por luto, semana santa, férias escolares, dia do trabalho, Corpus Christi, carnaval, 1º dia do ano e tantos outros feriados que mudam de região para região, de cidade para cidade ou de Estado para Estado.
Sem contar que em Brasília, as férias se alongam desde o início das campanhas eleitorais e vão até a posse dos eleitos e com um jeitinho brasileiro, logo após, eles pedem recesso por mais sessenta ou noventa dias.
Claro que não há nem como pensar em acabar com o carnaval, afinal de contas, politicamente vivemos em um eterno carnaval, não é verdade?
Mas o bom senso poderia imperar para uma redução desta ociosidade do progresso pátrio, pois sábado e domingo já estavam de bom tamanho para toda esta farra.
Lembrando também que assim que termina o carnaval de rua e o recesso político, entram os nossos representantes, após o recesso, claro, mas com determinação em suas costuras, conchavos, ideologias e muita, mas muita demagogia para este povão embriagado ainda pelas festas.
E o povo que estava pulando, dançando, se prejudica sem tomar nenhum conhecimento do que se passa nas cabeças e atos espúrios que temperam a pizza em Brasília.
É do jeito que mo diabo gosta e o brasileiro adora.
Mas que povo preguiçoso e cego, meu Deus do Céu!
Matéria publicada no jornal Correio de Lins(SP) - 08/02/2005
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
BENDITA CHUVA
Chegou o inverno.
A chuva cai torrencialmente, fazendo as biqueiras fluírem o sagrado líquido aos pés das calçadas, gerando grotas que correm aos regatos transbordantes, dirigindo-se aos riachos que os acolhe serenos, avolumando-se rapidamente e descendo com seus leitos já cheios em direção aos rios que os sugarão para despejá-los no Oceano.
Estou dentro do trem, a paisagem mudando rapidamente de acordo com a velocidade que avançamos e ponho-me a relembrar com muita saudade, o meu sertão.
Os trovões ribombando, os relâmpagos cortando no infinito, anunciam que a chuva estará intermitente por mais algumas horas e em momentos como este o arrependimento bate com vigor em meu peito matuto em não poder estar lá na fazenda, lado a lado com meus mais queridos e fiéis amigos, os agricultores.
Pela janela do trem, presto atenção nos mínimos detalhes da transformação radical, repentina e benéfica que a terra recebeu através dos abençoados pingos das chuvas.
Há pouco mais de dois meses, tudo estava seco, esturricado, com um sol escaldante, um calor insuportável, os redemoinhos levantando a fina poeira, os galhos das árvores, cinzentos e retorcidos, tanto que dava para divisar sob os mesmos, chão pra muitos metros, totalmente despido de pasto.
Ao meio dia, a quietude e o silencio faziam o meu sertão parecer um imenso e triste cemitério, pois a cigarra era a única coisa que se fazia ouvir ao longe com seu cântico intermitente.
Na ocasião, a fumaça se propagava no ar, sinal de que as brocas estavam sendo queimadas, esperança constante de nosso sertanejo, que com fibra e coragem, vê no fogo do terreno brocado, não apenas as labaredas que consomem, mas as espigas de milho verde, vagens de feijão, jerimuns, melancias, pepinos, batatas doce, algodoes e mandioca.
Na hora da queimada, o agricultor não pensa na seca, no trabalho perdido, no suor derramado, na fome, na doença, no bolso e paiol vazios.
É uma coisa mística, uma premonição baseada em fartura. São pendões, sacas e tambores cheios de legumes, mesa farta, gado gordo e família sadia.
O matuto, de acordo com o tamanho de sua roça, mesmo ignorante, avalia seu saldo e sente que já pode pagar em igual volume, os litros de milho, feijão e farinha que tomou emprestado.
Imagina-se pagando ao comerciante o débito do fornecimento, conta que cresce assustadoramente, sendo-lhe impossível acompanhar o cálculo do bodegueiro.
Este é um pensamento também de meu amigo Aristeu, que sentado sobre o cocho das galinhas sob o pé de tamarindo, olhar fixo no horizonte, rabisca no chão com um graveto sem prestar a mínima atenção, perdido que está em seus devaneios, fazendo mentalmente seus cálculos para a grande safra.
Precisa.
É necessário tirar um grande saldo, pois tudo em casa está a faltar.
De tudo lhe falta.
Nem descanso tem, pois o colchão de tão velho e duro, encontra-se com várias molas soltas, por muitas vezes, machucando a si e a própria mulher.
As redes de uso diário viraram fiangas rotas, cheias de nós nos punhos e todas remendadas.
É preciso também comprar sacos para fazer lençóis, de preferência, aqueles de açúcar que com as sobras, dá até para fazer calções para os meninos. 
A mulher está a precisar de uns vestidinhos de chita e algumas anáguas e até mesmo ele necessita de uns metros de mescla para fazer uma calça que agüente o trabalho grosseiro e um paninho melhor para roupa completa pra todos, pois não perde a festa de Santo Antonio, padroeiro de sua querida Quixeramobim.
Lembra que também se encontra cansado de comer sentado no chão, a mulher no batente da porta e os meninos, em cima do pilão.
Por isso o inverno é importante, pois abrirá a possibilidade de comprar na feira, uma mesinha, uns tamboretes e quem sabe, até um guarda-roupa de duas portas, sonho acalentado de há muito por Dona Sara, companheira inseparável de todas as horas desde que casaram na capela de São Miguel, há onze anos. 
É, e também está todo mundo descalço, mas que a culpa também não é só sua, pois se tivesse na bodega e a sola não fosse tão cara, já teria providenciado. Já acha um milagre ter convencido Seu Juca, o bodegueiro, a lhe vender até aquela data o café em caroço, o feijão, a farinha, a rapadura, os temperos, o fumo de rolo e às vezes, até uma cachacinha de vez em quando.
O ano passado foi um ano de dificuldades, onde acabou inclusive com seus bichinhos de terreiro, mas aposta toda a sua experiência de caboclo roceiro que este ano vai ser diferente.
Vai guardar milho, feijão, muito feijão, pois está certo que o inverno vai ser dos bons e duradouro, com muita chuva no período da noite e os dias de sol forte e criador.
Absorto em seus pensamentos, só ouve o chamado da mulher quando da terceira vez:
- Aristeu! Aristeu! Aristeu!
- o que é muié?
- Ômi de Deus, vem tratá dexe preá mode eu assá ele pru armoço.
Levanta-se lentamente, limpa o fundo das calças, dá um último trago no “pé duro”, uma cuspida no terreiro e adentra a casa.
Chega à janela da cozinha, desembainha a faca e ordena que abanem as brasas para que ele possa passar o preá na cinza, pelo menos a mistura se encontra em suas mãos.
Pena seu cachorrinho ter mordido por mordida de cobra, era caçadorzinho que era danado.
Agora só pegava uma caça através de fojo ou quixó, pois a espingarda ele havia trocado por uns litros de feijão e outros de farinha, com o Manoel do Ercílio, seu vizinho há quase dez anos.
Tudo está ruim, mas é só por uns tempos, depois da safra, irá recuperar tudo que perdeu na maldita seca do ano passado.
Relembra de épocas gordas, de safras, de muito feijão e milho, paiol lotado de algodão, abarrotado, encostado na telha. Até criação miúda possuía na época. Quase vinte cabeças de ovelha, uma meia dúzia de cabras, alguns porcos, patos e muitas galinhas ciscando no terreiro.
Beleza de vida!
Naquele ano, comprou de uma só vez, cinco redes na bodega do Seu Juca, e não foi fiado não! Também comprou fazenda pra alguns vestidos pra mulher, calções para os meninos, algumas calças, umas camisas e se deu ao luxo de comprar até um par de botinas.
O saldo daqueles dois anos seguidos nunca mais se repetiu, mas a esperança jamais acabou e agora está plenamente revigorada, pois o ano está prometendo muito.
É muita baba de sapo na barreira do rio, as formigas tamparam os buracos que ficavam pra cima, nos montes dos formigueiros, até a jurema preta soltou a floração na época certa, por isso nada pode dar errado, está tudo nos conformes, tudo como Deus quer.
É isso mesmo, tudo leva a crer que vai ser muito bom, pois choveu no Natal, na entrada do ano, dia de Reis, carnaval e principalmente, a chuva foi copiosa durante o dia inteirinho dedicado a São José. Além do mais, a juriti está voando muito baixo, o joão de barro fez a entrada do ninho virada para o sul, a imburana floriu em pleno setembro e choveu muito em Piancó e Teresina e ele sabe por experiências anteriores que é natural, quando chove no Piauí é sinal que as chuvas e o abençoado inverno cobre com abundancia o nosso Ceará.
Afinal de contas, sempre foi assim, desde os tempos de nossos bisavós, não é verdade?
Esta é mais uma razão forte para seus planos simples de homem roceiro.
Embora esperançoso, não plantou nas primeiras chuvas, se tivesse seguido os conselhos de muitos conhecidos seus, teria perdido tudo para a lagarta, mas agora sente que esta é a hora exata de plantar.
Para este ano passou por cima de todas as privações, mas deixou guardados no paiol, vinte litros de feijão e trinta de milho, em garrafas tampadas com sabugos e lacradas com cera de abelha. Se faltar para o plantio, toma emprestado de Seu Zuza, que mora no sítio vizinho e que sempre tem algum de sobra e não nega para conhecidos e amigos.
O algodão ainda está na pluma, é só descaroçar e a maniva, vai buscar no compadre Geraldo que tem uma bela plantação na coroa do rio.
As coivaras estão queimadas, o terreno destocado e cercado e pelos seus cálculos, a previsão é de muita chuva de hoje para amanhã.
O torreame de nuvens no nascente promete muita água, sendo assim, o melhor é pegar o machado párea cortar lenha, estocar embaixo do fogão e no canto do alpendre.
Durante a noite os relâmpagos clareiam toda a extensão do que a vista alcança.
E o que ele pensou durante o dia inteiro, começa acontecer.
Inicialmente, apenas uma neblina gelada com ventos fortes e uivantes, depois, a chuva começa a vir com rajadas vigorosas, sendo música para seus ouvidos, levantando um cheiro de terra molhada, que ele aspira com gosto e o ribombar do trovão, alimenta mais e mais a satisfação em seu âmago.
A enxada está batida e encabada, o bornal com as sementes, além da rapadura e a farinha dentro de um saco plástico, como também, o fumo de rolo e o papelim.
A cabaça já dorme com água de chuva, aparada na biqueira e a coragem nunca que iria lhe faltar, pois se não fosse tão escuro, começaria agora mesmo, debaixo de chuva, tamanha a sua ansiedade.
Não consegue dormir.
Antes do quebrar da barra, com o prazer estampado no rosto, ainda neblinando, tempo fechado, toma um café apenas amornado do bule de alumínio que passou a noite sobre a trempe do fogão, coloca o matulão e a cabaça pendurados no cabo da enxada e sai de casa em busca do roçado, acompanhado pelos filhos que o ajudarão na bendita empreitada.
Antes mesmo dos legumes brotarem, dá inicio a capina para que o mato não tome conta de sua plantação, também que a mesma possa receber generosamente, água, luz e calor, desenvolvendo-se sadia.
Por Deus!
Não falhou uma cova sequer e com dez dias de trabalho, a primeira limpa foi dada em seu roçado.
Com muita luta, muito suor derramado, por vezes todo ensopado de chuva, puxando cobra pra os pés, acendendo o pé duro pra espantar os mosquitos, ele vence a primeira batalha de uma série de outras que estão por vir.
Ainda tem a segunda, a terceira limpa, colheita, transportar para casa, debulha, ensacamento, prestação de contas e o bendito saldo.   
E a chuva a continuar.
Como ele pensou, o inverno realmente promete ser criador, pois chove durante a noite e de dia, o sol se expande por todo o horizonte, cobrindo a terra com seus raios benéficos que dão vida e saúde.
E é assim com toda euforia que o encontro em meu retorno, falando até pelos cotovelos, fazendo planos, animado, eu diria até, folgazão.
Sou seu conhecido, seu amigo, como sou de todos os sertanejos, pela admiração que tenho por eles, pela simplicidade, hospitalidade e fraternidade.
Noto quer em continuando assim, todos os seus desejos serão satisfeitos, com a graça de Deus.
Estamos em junho e desde janeiro que o inverno segurou, já há pamonha, cuscuz de milho maduro, milho assado, cozido, feijão verde temperado com nata, jerimuns, maxixes, quiabos, o sertão realmente está em estado fartura, de barriga cheia.
As arvores verdes e copadas, muitas floradas, os pássaros não param seus trinados, criações fazem escaramuças nos terreiros, o gado muge ao longe dando trabalho para voltar ao curral, as pessoas cantam, As noites são frias, os tempos promissores e a água bendita.
Os homens tornam-se mais alegres, menos taciturnos e até o fornecimento na bodega é aumentado em voto de confiança.
Tudo é beleza, é cor, fartura, progresso, bem estar e paz quando há inverno no sertão cearense.
Ninguém fala em ir embora.
São Paulo torna-se o horror do nordestino e ele se apega a terra como o moribundo à vida.
Voltam as violas, as novenas, os terços, as debulhas de feijão nas casas dos compadres, comadres falam de maridos e filhos.
As conversas quase sempre giram em torno de chuva, de feijão verde, milho maduro, canjica, leite enfim, o sertão se encontra concentrado em seu mais puro teor: fartura!
Hoje  a conversa é na casa do compadre Tomaz, amanhã lá no compadre Manoel, depois na casa do Aristeu, na bodega do Juca e tudo regado a um delicioso café que foi torrado no caco, pilado e peneirado, adoçado com rapadura raspada e logo depois, a fumaça dos cigarros pé duro invade o ambiente, com os meninos brincando no terreiro e a esperança no ar.
A Paixão de Cristo este ano foi devota e respeitosamente cultuada por nossos sertanejos que ora exibem com orgulho o resultado concreto de suas esperanças e da fé contínua mesmo em tempo de longas estiagens.
Agora são mesas fartas com legume abundante, do leite, das criações no terreiro, de crianças coradas e faces sorridentes.
As festas juninas terão suas quadrilhas e suas quermesses, seus leiloes e suas ofertas bem mais generosas, com participação mais consistente pela abundancia que aflora.
As muitas promessas a São José, Santa Luzia, Padre Cícero e São Francisco, serão com certeza pagas cada uma em seu tempo, em suas festas anunciadas por suas paróquias.
É o verde, a verdura, o legume, a fartura.
O sertanejo é mesmo um forte!
E é exatamente assim que me apraz andar em meu sertão, pisando na lama, espantando mosquito e matando mutuca.
Orgulho-me de ser sertanejo, filho e neto destes homens destemidos e esperançosos que proliferam em nosso interior e no interior de cada um de nós.
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
FAZENDO JUSTIÇA
O Brasil, país imenso territorialmente, carente de tudo, inclusive de justiça, paira a nível internacional como nação que não respeita seus concidadãos, onde o colarinho branco é excluído de penas pelas falcatruas que frequentemente pratica dentro de nossa sociedade.
Acomodada no seio da elite, a corrupção deságua num mar de lama, em vergonha nacional, enquanto que a classe menos favorecida assiste pasma ao desenrolar dos noticiários jornalísticos, tanto radiofônicos como televisivos, onde são envolvidas pessoas das mais destacadas de nosso país e a morosidade dos processos, inúmeros deles engavetados, em nenhum momento aparenta transparência.
O que será justiça para estes homens?
Na pouca cultura adquirida nos bancos de escolas, por tantos a fio, numa procura incessante do saber, não somos orientados a patrocinar, nem nos aliar a este tipo de acidente.
É colocado em nossas cabeças, que justiça é a virtude de dar a cada um, o que lhe cabe.
Que o direito de um tem início, quando termina o direito do outro.
A justiça representada pela balança, símbolo do equilíbrio, da virtude e da coerência, merece ser seguida à risca, respeitada e cultuada, independente de classe social, cor e religião.
Provincianos que somos, adquirentes de uma cultura defasada e inócua, não procuramos melhorar através dos tempos, nem nos impor como terra em desenvolvimento.
Ficamos inertes e ociosos, o progresso passando, gerações se sucederam, a tecnologia adentrou em nosso dia a dia e continuamos enclausurados em um sistema que não nos foi ensinado, apenas apregoado para seguirmos à risca, com determinantes totalmente falhos.
Os arquivos de processos foram adquirindo consistência com o passar do tempo, até atingirmos o ato da desonra pelo acúmulo de papéis e sermos conhecidos mundialmente como o povo do jeitinho.
Faz-se necessário um estudo minucioso das regras, artigos, parágrafos, emendas e decisões de nossos códigos, com ênfase ao Poder Judiciário, dando-lhe autonomia para se fazer intransigente em seus julgamentos, sem oportunidade de regalias a terceiros, responsabilidade de atos, capacitação trabalhista e mentalidade profissional.
O salário digno será o passo inicial da ascensão de nossa justiça, em qualquer âmbito, para que tenhamos moralidade, respeito, competência e reconhecimento mundial.
Ainda queima a chama da esperança nos corações dos brasileiros de nos orgulharmos em possuir uma justiça igualitária em seus julgamentos, tanto para o cidadão comum, como para o elemento elitizado e prepotente, que com um talonário de cheques no bolso, através de suas cifras, tão sujas quanto seu coração, se isenta de suas responsabilidades ferindo desta maneira nossa honra e nos pondo em dúvida em qualquer julgamento.
Temos que ter consciência e sabermos separar a água do vinho, ouvirmos depoimentos de testemunhas e sabidamente, direcionarmos sem leviandade os veredictos cabíveis aos atos criminosos que expugnam e corroem a nossa dignidade.
A justiça tem que ser altaneira, sábia, responsável, conduzida por pessoas de virtude e hombridade, livres de favores e amarras, comprometidas com o direito, que honrem a posição de magistrados, que se conduzam na mais reta linha do bem comum, preocupadas simplesmente com a imparcialidade, fidedigna aos direitos e deveres que lhe são cabíveis, cônscios da Lei e da Ordem, comedidas, equilibradas, porém austeras.
A Justiça Federal tem por obrigação de se sobressair, se impor sobre suas hierarquias, ter suas decisões respeitadas, se fazer respeitar perante seus escalões e a opinião pública, não usar a hipérbole como instrumento de respeito, mas não pode se fazer de maleável ao ponto de não respeitar seu Estatuto.
Uma justiça que tenha em seu bojo, homens judiciosos, comprometidos com a causa maior da Soberania dos Direitos Humanos, que façam da profissão um testemunho de capacidade em exercê-la.
 A Justiça Federal terá que provar a todos que é confiável, composta por homens íntegros, incorruptíveis, irmanados em anatomizar as Leis do País e pô-las em prática sem antagonismo ao que foi processado desde os bancos de escola.
O pior de tudo é sabermos que temos estes homens, preparados, resignados numa missão sublime feita com carinho e devoção, que durante a vida profissional, sempre trabalharam como verdadeiros missionários, fiéis às normas e que honram a posição que pra si não é privilégio, mas uma opção voluntária de vida e de bem servir à coletividade.
E não precisa procurar estes homens com lente de aumento, pois eles estão na faina do dia a dia em seus gabinetes, são destaques nacionais, vivem quase na obscuridade por serem audaciosos, íntegros e terem a coragem de perseguir aqueles que se acham intocáveis, tanto pela posição social, como financeira.
São probos, verdadeiros fanáticos que seguem à risca as normas da Constituição e não possuem em seus currículos, quaisquer mancha que os envergonhe.
E o brasileiro vive na esperança, sempre na expectativa de ver estes homens alçarem suas posições, assumirem seus postos, puderem envergar suas becas com orgulho, para que a justiça passe a ser a opção preferida daqueles que se sentem ultrajados e sem esperança de uma defesa, por fazerem parte de uma classe menos favorecida.
Temos certeza que, num período que em muito breve virá, o jeitinho brasileiro passará a fazer parte de cláusula, artigo e parágrafo, mas como punição, para que possamos mostrar ao mundo, a seriedade de nossa justiça, inimiga nº 1 da promiscuidade, da corrupção, do vandalismo e da propina.
Será ótimo sabermos que temos em nossa defesa um órgão preocupado em se fazer presente em todas as camadas sociais, sendo imparcial, inflexível, virtuoso, exato, capacitado, honesto, reto e que seja exatamente como seu símbolo, uma balança.
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
O MEU PAÍS
O quadro que nosso País expõe ao mundo nestes tempos de recessão, período por demais longo e triste para nos, que nos faz até sermos alvos de piedade por parte de nações desenvolvidas é na verdade de proporções alarmantes no tocante a pobreza a qual vivemos submetidos.
Alardeia-se a diminuição da pobreza, mas a FOME generalizou-se de maneira rápida e cruel, sem contestação, sem providencias de socorro, atacando de súbito do mais idoso cidadão, às crianças, seres frágeis e indefesos.
É realmente uma vergonha, pois vez por outra, tomamos conhecimento que toneladas de alimentos que matariam a fome de milhares de brasileiros, são incineradas por se encontrarem deterioradas, impróprias para o consumo, com data de validade vencida, simplesmente por inadequação de estoque ou obstruído que foi pela estúpida burocracia.
Iludidos que sempre fomos por vocabulários falazes e promessas ardentes, caímos sempre no conto do político, que bradando moralidade, caça à corrupção e aos marajás, respeito ao cidadão, desenvolvimento econômico e fidelidade às Normas estabelecidas na Constituição, galga o degrau maior de nossa hierarquia política, saldando-nos hoje com uma realidade cruel, estampada em todas as cidades e capitais, nos rostos enrugados e sofridos de todos onde, o DESEMPREGO grassa em todos os recantos do Brasil, pois pais de famílias aos milhares, robotizados ou como marionetes, vagam pelas ruas, disputam uma única vaga em filas quilométricas, famintos e desesperados, coagidos pela recessão vigente que produz a cada dia mais vítimas, aumentando a leva de pessoas que antes crédulas, ora se vêem enfrentando a necessidade que se abate sobre si e aos seus e cientes que em suas direções, caminham a passos largos a miséria e o caos.
Sempre foi cômodo para o governo saber que seus filhos não podem pagar os estudos e por este motivo, não se ALFABETIZAM. Saber ler e escrever não interessa à cúpula governamental, pois quanto menos o elemento for informado e esclarecido, mais fácil fica de manuseá-lo, de tê-lo subjugado, de impor deveres e negar direitos.  
Pouquíssimas são as crianças que terão futuro promissor neste País.
As CRIANÇAS DE RUA tornaram-se pessoas das mais vistas, visadas e vigiadas nos centros das cidades, por serem consideradas de alta periculosidade e projetos de famigerados bandidos. Não adianta um Estatuto para estes seres de vida ínfima massacrados pela pobreza, miséria absoluta, alunos das academias de malandragem e prostituição, futuros presidiários, produtos de uma máquina aniquiladora, insana e indiferente à causa maior que seria formar cidadãos de bem para o gerenciamento e progresso das classes sociais, inclusive a ralé.
Os roubos, os vícios, os crimes e a prostituição infantil de nível alarmante em nossa Nação não podem ser examinados como delitos corriqueiros de crianças desinformadas, mas como conseqüência de um processo político alheio à miserabilidade à sarjeta e ralé a que são obrigadas a viver estas crianças que aportam nas praças, terminais de ônibus, viadutos e jardins, prematuramente expostas ao submundo da vida, à desgraça e ao descaso.
E estão aí já como prova concreta do desprezo à criança de uma geração anterior, os presídios lotados, na maioria crianças grandes que chegaram à vida adulta arrebatados pelo ódio contra a sociedade que os tornou indiferentes à dor, choro, lamentação e protesto.
São pessoas frias, calculistas e insensíveis, de aversão profunda aqueles a quem chamam de grã finos.
Os estupros se sucedem em números cada vez mais crescentes, revelando com isso a frustração proveniente de uma vida alicerçada na revolta que produziu com sucesso, mentecaptos aos milhares.
Estelionatários de mente doentia impregnados pela psicose do enriquecimento, contrabalançam a faixa orçamentária de outrens, empresas ou União.
As falcatruas de pessoas escoladas, verdadeiros marginais, insolentes e precavidos, amparados por pessoas que lhe dão respaldo, possuem situações financeiras invejáveis, onde a propina torna-se meio eficaz de lhes isentar de atos espúrios.
FURTOS, HOMICIDIOS E LATROCINIOS, são cenas comuns em nossas páginas policiais, manchetes televisivas, resultando com isto o oposto do que reza a Constituição, porque em nosso País a justiça lenta e morosa não impõe ao cidadão de classe dominante um julgamento pragmático, ficando o cidadão comum sujeito ao dito popular sempre em voga: “a corda só rebenta do lado mais fraco”.
A CORRUPÇÃO é aliada constante do jeitinho brasileiro amplamente conhecido e divulgado até no exterior e é na realidade a maneira mais eficaz e rápida de resolver o empecilho que atravessam o caminho dos cidadãos de negócios lucrativos.
O SUBORNO já deu margem a muitos comentários e abrangeu muita gente.
Pessoas que por vezes ostentam cargos importantes e que deveriam conseguir através dos recursos que tem em mãos uma divisão exata para todos, sem respeito ao povo, sem constrangimento prestam favores a pessoas gananciosas, inescrupulosas e corruptas que a elas se nivelam demonstrando com isso a falta de respeito para com uma gente ociosa de seriedade, muito necessitada, mas que não tem oportunidade até mesmo por trâmites legais.
Quando da instituição do SALÁRIO mínimo, seu soldo deveria cobrir as despesas do cidadão com educação, vestuário, alimentação, saúde, transporte, habitação e lazer.
É com muita tristeza que nos dias atuais vemos com que escárnio este teto de vencimento continua a encolher de maneira sádica, imposta por nossos governantes sempre ineficazes, que governam um país rico, imenso territorialmente, de povo humilde e ordeiro, apascentado como carneiros, espezinhado e massacrado pela inexistência da moral, da ética e do bom senso.
Continuamos doentes, enfermos, acamados nas câmaras pelos que brincam de discutir os problemas nacionais. Em relação à SAÚDE, a postura de nossos representantes está longe de satisfazer o mínimo de nossas aspirações. As corrupções são plangentes, o descaso é notório, a urgência médica foi substituída pela burocracia ou pela falta de contratação de profissionais e se morre à mingua até em filas de postos de saúde.
Há uma transparência quanto à proliferação de doenças, infecção por vírus em leitos hospitalares, quando o tratamento fica restrito a uma minoria que pode desembolsar quantias vultosas para uma sanidade eficaz e rápida, estritamente particular.
Pobre do IDOSO é apenas a criança de ontem, vivenciada, sofrida e abandonada de hoje, tornando-se velho, inútil e traste.
O idoso, aposentado, com trinta anos de serviços prestados à Nação, pagando seus impostos, acompanhando a evolução do País pela competência e experiência, nota que caminha lado a lado com a amargura da vida, sendo ele que trilhou os caminhos mais ásperos abrindo os horizontes, deixando uma vida mais amena para quem o sucedesse, se vê tratado como ultrapassado, esclerosado, insano e desinformado.  
É muito triste se chegar a uma idade avançada, depois de entregar a vida, a saúde a força de seus braços em prol do progresso, ser posto à margem da sociedade, judiado pelas constantes perseguições, principalmente a diminuição do salário, restando-lhe uma remuneração baixíssima que mal dá para os remédios, cansado e doente, sem perspectiva de melhoria de vida, agradecimentos ou condecorações. O nosso aposentado é o retrato vivo da tristeza, da decepção, do medo9 e da humilhação.
Quantas informações inverídicas já foram anunciadas em relação a INFLAÇÃO, este monstro terrível, destruidor dos minguados salários, gerador da fome, do desemprego, gerenciador da miséria, da inanição, da mortalidade infantil.
A inflação é um balão que se alimenta das dificuldades, das falcatruas, do descaso, da inércia, da opressão, da incompetência de nossos governantes e o desmando com que é administrado o nosso setor econômico.
Há, porém, mesmo que os governantes não queiram, soluções objetivas, coerentes, fáceis de serem atingidas, metas de prioridades nacionais que dependem simplesmente da determinação e do caráter de pessoas que não usem a política simplesmente como um apêndice de enriquecimento ilícito, mas como profissão, que procurem fazer jus aos mandatos, determinadas, firmes, compromissadas com as aspirações do povo, com a Democracia, com a Constituição e o desenvolvimento.
Homens que comam o pão valorizando o suor do rosto daquele que plantou o trigo.
Políticos de valores imensuráveis, que visem o progresso, a liberdade financeira, a saúde, a escola, o trabalho, o transporte, e o emprego, arraigados na determinação firme de propósitos honestos, crentes num futuro pródigo, que trabalhem com afinco na certeza de colocarem o Brasil num patamar de orgulho e destaque em concordância e igualdade com nações desenvolvidas.
E não é utopia.
Admiro os que lutam por uma justiça social, que não aceitam a separação de classes, não discriminam a cor, não aceitam um Brasil pobre, pois sabem que temos um subsolo rico e fértil onde se acumulam jazidas diversas, que temos água, muita água, que defendem o pobre lavrador, exigindo que o latifundiário instalado em terras férteis e improdutivas pela dimensão, ceda em prol dos sem terra um quinhão, que para muitos é a oportunidade de uma vida condigna.
O brasileiro precisa ter liberdade e ela é no mínimo, ter trabalho, mesa farta, filhos sadios, ser respeitado, ter dignidade e não ter que baixar a vista ante os desmandos e massacres impostos pelos governantes.
É chegado o momento de nos impor, mostrar nosso valor, assumir nosso lugar no patamar da escada evolutiva das nações, colhermos os frutos da vitória e da soberania.
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
TENHO PENA DE ARGENTINO
Cada nação tem o governante que merece.
Pobres argentinos!
Agora, traficantes brasileiros, bolivianos e peruanos podem vender à vontade sua soruma, seu baseado, seu fininho, bem ali no país vizinho, a Argentina.
É4, porque lá, a partir de agora você pode exercer a profissão de representante4 comercial, colocar numa valise uma pequena amostra do produto para vender e espalhar por todos os cantos e recantos do país e quem sabe com sorte, alguém lhe encomende umas toneladinhas da droga em tijolos bem embalados e empilhados em lugar seguro.
Podem inventar aeroportos para os aviões que transportarão e farão a venda da maconha no comércio, nos presídios, nos hospitais, nas casas de recuperação e principalmente, nas ESCOLAS da Argentina.
Abriram as portas do inferno na terra dos hermanos, pois vai tudo quanto é cigarro de maconha pegar fogo por lá, o fumacê vai ser grande, invadirá os lares e destruirá cada vez mais as famílias.
Meu amigo, sendo eu um argentino viciado (graças a Deus não sou argentino, nem viciado), qual o meu propósito neste momento? Encho meu bolso da erva mardita e vou pra aula.
Por lei, a pequena porção me dá o direito de transportá-la, pois sou um dependente químico (bonito não?), apenas um doentinho que não fará dez cigarrinhos para fumar, mas para ganhar a vida, vendendo um cigarrinho a cada colega que também respaldados por LEI, acendem todos ao mesmo tempo, em pleno pátio da escola na hora do recreio.
Como é novidade, todo mundo vai querer experimentar e se viciar rapidamente, são os futuros aviões.
Viciados, vão querer mais e mais e sem trabalho, vão tirando dinheiro dos pais, vendendo coisas de casa, grandes objetos, relíquias, televisão, botijão de gás, fazendo pequenos furtos, se aliando a gangues, partindo para roubos e crimes, pois disto dependem para quitarem suas dívidas com seus fornecedores.
Maconha por sinal nunca que irá faltar, pois as amostras que são vendidas em pequenas porções, fazem parte de toneladas que estão estocadas em esconderijos seguros e que pertencem a traficantes de peso, peso inclusive que é o dinheiro oficial da Argentina, e que servirá como contrapeso no comercio legal da maldita maconha.
Acho que isso, nem argentino merece!
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
DEMOCRACIA
De acordo com Aurélio Buarque de Holanda, conceituadíssimo dicionarista deste País, Democracia em sua essência quer dizer: “governo do povo, regime político de soberania popular de distribuição eqüitativa do poder, ou seja, se caracteriza pela liberdade do ato eleitoral, divisão dos poderes e controle da autoridade (decisão e execução).
O povo tem, portanto, direito e deveres.
O absurdo é que só nos sobram os deveres, pois os direitos são emperrados pela burocracia morosa e estúpida e a má vontade política em todos os setores e regiões do Brasil.
Vivemos realmente em um país democrático?
Vamos excluir esta tão nefasta época de propaganda eleitoral, pois sabemos que agora, no momento, todos os políticos são demófilos.
Analisemos pelo dia a dia, começando pelo salário mínimo (bem mínimo), onde nós povo, não podemos dar nenhuma opinião (seriam direitos?), apenas engolir de goela abaixo (isso é dever!), o que é acordado entre políticos de atos deploráveis e politicalha comerciais entre si.
O salário mínimo brasileiro é o máximo para não ultrapassar o mínimo que eles determinam através de conchavos e costuras de interesses pessoais (deles).
Com o desconto do INSS e a bendita cesta básica (que nos dias atuais não supre a necessidade de um casal durante trinta dias), sobrarão R$ 102,00 (cento e dois reais, assim mesmo, minúsculo), que num passe de mágica e obrigatoriamente terá que ser suficiente para as despesas do mês inteiro com, transporte, aluguel, água, luz, prestações, açougue, feira, padaria, frigorífico, vestuário, lazer e alguma emergência que de repente possa aparecer.
Parece piada, ou é?
E o INSS, já precisou dele? Pois é, o melhor é não precisar, pois é ineficaz, inexistente para o assalariado, inútil para suas necessidades e além do mais, os atendentes (cada qual o mais delicado e prestativo), os médicos (não olham nem pra sua cara ).
E pra marcar uma consulta?
Eles marcam, viu? Talvez não seja no mesmo dia nem no mesmo mês, mas eles marcarão, para três ou seis ou ano e meio depois, isto se não estiverem em greve, de licença ou de férias.
Votar!
O brasileiro é simplesmente obrigado a votar, caso contrário será multado. Já teve até caso de prisão, pois vivemos numa democracia. Isto existe porque, mesmo que os políticos não mereçam o voto, terão que ser eleitos. Sem contar que em nossa democracia, os fins eleitorais, justificam os meios ilícitos de se conseguir votos. A região nordestina, famosa por suas secas calamitosas, esconde no âmago de seus municípios mais recôncavos e inacessíveis o curral eleitoral, prática criminosa e vigente que perdura sem cerimônia e que tem como alvo os humildes lares das pessoas mais carentes e ingênuas deste País.
Região Nordestina que por sinal, representa um terço dos Estados desta Nação, mas que o coronelismo ainda impera de maneira rudimentar e que além de grosseira é extremamente humilhante. ainda é prática comum nestes recantos pobres, o escambo do voto por uma par de sandálias havaianas, a taxa de um casamento civil, um par de  óculos, um saco de cimento, um milheiro de tijolos ou telhas, um vidro de remédio, um filtro e abjetamente, até por uma dentadura.
E o sertanejo ao empenhar a sua palavra (que ele a considera como um selo federal), ao receber o que lhe é prometido, como ponto de honra de sua parte, não quebra sua promessa. É voto certo!
E o mercado de trabalho?
O país seleciona de maneira depreciativa os seus cidadãos no momento culminante da escolha para o emprego.  
Se até 25 anos, é novo e inexperiente, se de 40 anos ou mais, possui a experiência, mas está velho, ultrapassado e é democraticamente descartado da função solicitada, pois é improdutivo.
Milhões de nossos irmãos estão hoje fora do mercado de trabalho, subvivendo, subalimentado, sem condições mínimas de arrecadar qualquer porção alimentícia para seus filhos, que inocentemente se encontram famintos, esperando quem sabe, um milagre que alguém se apiede de sua situação e lhe faça a caridade de lhe partilhar algum alimento que provisoriamente, talvez por um dia sane a fome de seus rebentos.
Governar um país democrático exige competência, probidade, dignidade e muita clemência para com os que estão jogados à ociosidade por pura e simples falta de oportunidade de um emprego digno que o faça voltar a orgulhar-se de ser um cidadão brasileiro.
De maneira cruel, o brasileiro não sabe quais são os seus direitos, mas com certeza, do mais sábio ao mais inculto, possui na mente pelo que a sociedade lhe impõe o conhecimento exato dos seus deveres.
E como são inúmeros.
Só gostaria de saber que tipo de democracia rege este País!
Matéria publicada no jornal Correio de Lins(SP) - 26/08/2004
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   

VALORES MORAIS
Reporto-me há um tempo que não é tão longínquo, quando a criança via no pai o seu verdadeiro herói.
O esfacelamento do grupo familiar se deu de maneira muito rápida, o que é extremamente degradante para uma sociedade que galopa a passos largos, com crescimento ininterrupto da tecnologia, num frenesi tão alucinado que tornou a busca pela sobrevivência mais primordial que os laços de família.
Para se ter uma idéia, uma criança de segunda série do ensino fundamental, rebelde e de liberdade excessiva, ao não gostar da reclamação da professora, saiu-se com esta pérola: - “quando eu crescer vou ser bandido e vou matar você!”.
É um despautério em se tratando do diálogo de uma criança que nem as palavras ainda sabe soletrar.
É notório, porém que os valores morais foram invertidos de maneira muito trágica. A criança associa o que presencia com mais freqüência, como sendo a verdade absoluta. Ela percebe que na maioria das vezes, os bandidos se dão bem, estão na mídia, fazem as maiores barbaridades, confrontam com a polícia, aterrorizam cidades, desdenham da população e se presos, possuem a certeza da impunidade e sabem que é por pouco tempo.
Em decorrência disto, a família não tem mais lazer, o encanto do aconchego, não vai ao parquinho, portas e janelas são gradeadas e em todos os assuntos, segurança é a palavra chave.
Todos com medo, todos coagidos.
E, por quê?
Porque numa simples viagem de passeio, os bandidos podem interceptar o carro e fazer a família de refém. No parqueinho, porque é possível aparecer um bandido trocando tiros coma polícia e as balas perdidas podem acertar algum membro da família. A casa é gradeada, muro alto, cerca elétrica, câmeras e alarmes, porque são meios de proteção para que o bandido não a invada.
Ora, na cabeça da criança, forma-se uma imagem de que o bandido pode tudo.
É um herói, que tudo e todos tremem diante dele.
Não podemos esquecer que toda esta farra feita pelo bandido, é resultado da inércia dos governos, além das travas e brechas existentes nos trâmites legais, advindo com isso a justiça tomar decisões baseadas em uma Legislação retrograda, ultrapassada e ineficiente para os dias atuais.
Há também a acomodação política que teme mexer em vespeiros, onde o melhor a fazer é empurrar com a barriga para outros governos que virão, as falcatruas, as corrupções, as propinas e o jeitinho brasileiro que alguns advogados acham numa brechinha da Lei, tornando possível isentar o bandido da permissividade que ele representa para a sociedade.
Daí, a vida do próximo é o que menos importa para os bandidos que se esbaldam num leque de opções do crime: parricidas, matricidas, fratricidas, homicidas e latrocidas, resultando em tantos outros delitos de maior ou menor perigo, mas sempre numa escalada vertiginosa da violência gratuita e cruel.
Matéria publicada no jornal Correio de Lins (SP) - 21/07/2004
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
ENTAO É NATAL!
A felicidade se expande de maneira generalizada, o momento realmente é de afetividade, de demonstração de carinho, de afeição, de perdão, de ternura e de amor ao próximo.
Pena que tudo não passe de uma egolatria desmesurada do ser humano.
Infelizmente, a propaganda é bem maior que o presente, bem maior que a festa, que busca pura e simplesmente, inclusive desde os tempos em que foi institucionalizada, propagar e expandir o comércio, a venda e o lucro exacerbado, o engodo sobre as consciências.
E aqui no Brasil, as consciências são manipuladas desde o sempre, então ficam por demais facilitadas as investidas e o êxito dos objetivos mesquinhos.
O aniversariante por sua vez, em meio ao turbilhão que se forma em volta do comercio, do progresso, do se dar bem a qualquer custo, do cinismo e egoísmo do homem, é o último a ser lembrado, nesta patuscada de falsa festa natalina.
Bem antes do dezembro, lojas e departamentos abastecem seus estoques com mercadorias, vezes até de duvidosa procedência, numa correria louca, incessantemente, anunciam seus produtos em rádio e televisão, visando apenas o lucro certo de suas ofertas traiçoeiras de perus, enfeites natalinos, brinquedos e presentes para um povo de fácil manipulação e obcecado pelo consumismo exagerado, mesmo em épocas tão magras.
E Ele, o Cristo?
Com certeza não compactua com todo este teatro.
Deve estar preocupado demais com o rumo que a Terra está tomando.
Deve chorar pelos que não tem um pedaço de pão, pelos órfãos das guerras inúteis, pelos que dormem ao relento, pelos que catam seu sustento nos lixões das grandes cidades, pelas mães abandonadas, pelos milhões de desempregados, pelas crianças prostituídas, por essa máquina assassina chamada homem.
Deve estar decepcionado pelos que detém o poder nas mãos, muitos usurpadores que usufruem de seus postos de chefes e massacram com mãos de ferro aos seus súditos.
Como pode Ele se encontrar feliz com o acréscimo de homicídios, o terrorismo, os atentados, os furtos, os roubos, os seqüestros, os estupros, os abortos, pais e filhos se matando, a babárie dos traficantes sobre nossos jovens, o trânsito que não dilacera corpos numa sequencia interminável em nossas estradas e avenidas, bala perdida no Rio de Janeiro, que sempre encontra uma mente sadia e inocente para se alojar, campos de futebol virando arena de combate, o abuso do sexo, a sodomia, a consciência e as ações de nossos políticos, as medidas provisórias e o salário mínimo dos brasileiros?
A fome de trinta e oito milhões de irmãos nossos, rios que estão secando pelo assoreamento constante, regiões desérticas, as queimadas inconseqüentes, a mortandade de peixes, a extinção de aves e animais pelo desequilíbrio ecológico proveniente da ação impiedosa e devastadora do homem.
Quantas crianças fora da escola, quantas aprisionadas, quantas assassinadas, quantas abortadas!
Quantos idosos desprezados nos asilos da vida.
Quantos enfermos!
Quanto peru recheado para tão poucos, quantos sem um ovo para servir aos filhos.
E então, é Natal!
Da noite do dia 24 para 25, estaremos todos preocupados com nossas festas, nossos convidados, nossos encontros, nossas orgias, possivelmente bêbados e aí, é pedir demais para que em meio a tanta festividade a gente vá se lembrar de Lhe dar os parabéns, não é mesmo?
No dia 25, cheios de ressaca, é possível que não lembremos nem o porquê de toda esta comemoração desregrada, mas com toda certeza, vamos nos lembrar de Ti para reclamar e dizer:
- Ai Jesus, que dor de cabeça!
Então é Natal!
Matéria publicada no jornal Correio de Lins (SP) - 23/12/2004
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                                    
                                              SOMENTE ONDAS...
Existem ocasiões em que devemos ter a sensibilidade e a humildade de refletirmos no tanto que somos responsáveis por determinadas causas, que aparentemente e em primeiro momento, avaliamos como coincidência, acaso, fatalidade ou desgraça.
Se pararmos por alguns instantes e analisarmos os fatos ocorridos em conseqüência do tsunami, chegaremos à conclusão de que nem tudo depende de nós, mas que estamos inseridos no contexto do cotidiano espalhado pelo Globo.
Deus, Ser Maior e Supremo, ao nos diferençar dos outros animais pela inteligência, nos deu também o livre arbítrio e é nele que o homem comete seus maiores excessos, tanto que, atabalhoadamente, tenta dominar a própria natureza.
Lembremos que este Planeta é nosso lar, é nele que nos geramos e é dele o que tiramos o que nos é necessário para consumo, suprimento e bem estar, mas não somos donos do mundo, estamos apenas em missão.
Não custa nada para nós preservarmos esta nossa casa, para que as gerações futuras possam também usufruir de seus efeitos benéficos.
Sob a crosta, nas profundezas da Terra, temos o magma, uma massa ígnea, contida sob imensas placas tectônicas, responsáveis de impedir a subida destes materiais incandescentes e gases letais para a humanidade.
Vivemos propícios, porem alertas a grandes hecatombes, delas ainda difíceis de precisar pela surpresa instantânea, mesmo com o grande avanço da ciência e da tecnologia.
São fenômenos variados, tais como: terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, tornados, tufões, ciclones, chuvas em demasia, secas impiedosas, fogo devastador, as pestes, as doenças epidêmicas, as guerras, a fome, etc.
O fenômeno que gerou as grandes ondas foi iniciado pelo atrito, deslocamento ou impacto das placas tectônicas.
Já dizia o poeta: “o sertão vai virar mar, lá no meu sertão, o medo é que algum dia o mar também vire sertão” e ele estava certo, um dia a natureza vai querer tomar tudo que lhe foi tirado.
O homem, na sede do possuir, avança sobre o mar, derruba florestas, entope e contamina rios e lagos, destrói montanhas, polui o ar...
Na maioria das vezes não o faz para beneficio da humanidade, mas para proveito e enriquecimento próprio para mostrar seu poder, desafiar a natureza e ao próprio Deus, e Ele fica calado, só observando, porém em um instante, prova ao homem o quanto ele é fraco e pequeno ante Seus desígnios.
E apenas com simples ondas!
Imagine o que não fariam os mares revoltos!
Daí não somos nada!
Somos criaturas minúsculas criadas por Ele e a Ele havemos de temer, não como a um pai impiedoso e cruel, mas como Justo e Onipotente que a tudo governa com uma maestria invejável.
Seu intento na verdade não é de um massacre em massa, de mortes em vão, é para provar através da comoção, a união dos povos e a solidariedade entre nações em busca de um bem comum: a paz!
É para esquecermos um pouco o nosso egoísmo, as guerras fratricidas, a corrida pelo poder, a desigualdade social.
É para que os povos se unam sob a égide do bem comum a todas as raças numa corrente de solidariedade e apreço aos irmãos que além de perderem seus entes queridos, se encontram agora à mercê da benevolência de cada um de nós, uma vez que estão expostos ao frio, à fome e às doenças.
Esta é a hora de solidificar os elos da corrente do bem, mostrarmos que mesmo em pleno século XXI ainda nos resta um pouco de bom senso para fazermos caridade aqueles que dela estão precisando neste momento de angustia, dor e desespero.
O episodio não se restringe apenas a uma calamidade, uma catástrofe ou um holocausto, foi simplesmente um resgate coletivo de irmãos nossos, programados que estavam para partirem unidos espiritualmente, tendo suas vidas ceifadas para aproximar a todas as pessoas e em todos os Continentes.
Para Deus, se os homens se aproximarem mais a partir de então, não terá sido em vão que milhares de vidas tenham sido subtraídas abruptamente.
Matéria publicada no jornal Correio de Lins (SP) - 13/01/2005
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
FACA DE DOIS GUMES
Nos anais da história formadora de usos, costumes, opiniões, religiões, moda e literatura do povo brasileiro, a partir do momento em que foi formada a casta social, ficou estipulado que haviam apenas duas raças no País: a do mandante e a do mandado.
Logicamente que a situação financeira elevava os grandes latifundiários, os senhores de engenhos e os escravocratas à situação de mandante, embora fizessem parte de um número ínfimo (como permanece até hoje) e os mandados, maioria e restante da população (sem o poder aquisitivo).
Notamos que nada mudou, uma vez que o braço da Lei sempre foi muito curto (ou porque não dizer, cotó), para punir os transgressores, petulantes e poderosos que tudo podem.
A população sempre foi tratada como raça inferior, aquela que nada tem, nada pode, apenas obedece as ordens emanadas dos mandantes e que cumpre rigorosamente o que é imposto por Lei
Aliás, cumprir a Lei sempre foi uma constante do povo, o povão.
Terceirizados no mundo, nossos compatriotas são esmagados a olhos vistos, sem direito ao emprego, a saúde, a educação, a casa própria ao lazer e ao fator primordial: Segurança!
Precisamos dela para poder sairmos de madrugada para os benditos postos de saúde, para as filas do INSS, para um hospital ou corriqueiramente simples, para uma vaga no mercado de trabalho.
O povo, com esta campanha do desarmamento ao procurar a Polícia Federal para entregar armas, não leva em consideração o dinheiro prometido que por sinal é uma quantia irrisória, mas porque é um povo ordeiro, acostumado a receber e cumprir ordens, pela submissão que sempre lhe foi imposta e o usual sim senhor, desculpe, obrigado.
Cá entre nós, a população aderiu em massa à campanha do governo, porque a consciência do brasileiro foi trabalhada e manipulada para assentir ao bom senso e em decorrência, viver em paz.
Resta saber do Poder Público o que será feito para o desarme da bandidagem que, se não estou enganado, é onde realmente mora o perigo e o maior arsenal desta Nação.
O povo está entregando suas espingardas de chumbo, de cartucho (usadas somente para caça silvestre), suas garruchas enferrujadas, seus revólveres calibres 32 e 38.
Os bandidos estão com seus AR-15, submetralhadoras, metralhadoras, minas terrestres, bazucas, granadas, armas semi e automáticas, silenciadores, enfim um infinito material bélico e nenhuma disponibilidades de entregá-los, pois são seus materiais de trabalho, não é verdade?
Além do mais, eles contam com o desarmamento da população e eles estando armados fica muito fácil de abordarem a todos sem o temor de uma reação.
Como cidadão, nascido e vivendo em um país democrático, pagando impostos e gerando renda, também cumpro com o meu dever, entrego as armas, mas exijo o meu direito de ir e vir dentro do perímetro da minha Pátria com toda a liberdade e garantia que a Constituição me garante.
É preciso desarmar os morros e as favelas, até mesmo para que as pessoas de bem que ali residem possam ter paz de espírito.
Só precisamos saber, quando e como isto será realizado, porque senão continuaremos fragilizados e expostos à sanha dos marginais que infestam esta Nação e agora com a certeza de que a população está desarmada.
Pensando bem, isto é uma faca de dois gumes!
Matéria publicada no jornal Diário de Penápolis - 11/08/2004
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
ANO NOVO, VIDA VELHA
Mais um ano chega ao fim, como tantos que passaram e outros que virão.
O brasileiro, porém é um otimista de nascença.
Quando a coisa está ruim lá pelo Congresso Nacional, os parlamentares precisam aprovar uma lei que com certeza prejudicará o povo, aumentar seus próprios salários ou simplesmente fazer seus conchavos políticos, para que a população não tenha acesso às decisões, se faz então necessário tirar a atenção deste povo.
E em se tratando do brasileiro, onde os espertos políticos conhecem a fundo o quanto o eleitor é desligado e indiferente a todas as festas nos palácios governamentais, fica fácil por demais iniciarmos o ano com decisões advindas de nossos governantes, com os aumentos de taxas, de desemprego, de transporte, de energia, de água, de esgoto, de planos de saúde ( para quem pode, é claro), cesta básica que de básica só contém os produtos, leite, carne, enfim, todos os anos recebemos um papai noel ao contrário e não está errado não, é noel minúsculo mesmo, como minúsculo é o salário mínimo.
Com maestria de quem é formado em falcatruas e politicagem cretina, basta convocar a seleção brasileira para um amistoso com a Argentina, pegar um diretorzinho de uma estatal como bode expiatório, montar uma CPI nas suas costas, virar suas baterias contra a oposição, apregoar que o emprego bate recordes (este ano não dá pra fazer isso, não é?), porque era costume nesta época as pequenas empresas e o comercio formal empregarem milhares de pessoas a partir do mês de outubro visando as festas natalinas e o ano novo.
Pronto!
O circo está armado, o picadeiro pronto para a encenação e somente os palhaços não terão acesso.
Leia-se palhaços como POVO!
Depois do fato consumado, o brasileiro vai fazer as contas e cai na realidade que o aumento do salário foi tão mínimo que mesmo antes de vigorar não dá para comprar um litro de leite para os filhos pelo salário atual e o pior, perdurará durante um longo e exaustivo ano que ainda está por chegar.
Lembrando que diferente do político, o povo não tem 14º nem 15º salário, nem ganha verbas extras, nem passagens gratuitas, nem cartões corporativos, nem tem ajuda de custo para moradia, nem um recesso tão longo.
O trabalhador brasileiro também não pode se dar ao luxo de trabalhar esporadicamente, ter seu fim de semana iniciado na sexta e iniciar sua labuta na terça ou quarta, é obrigado a dar dois expedientes, vezes extrapola suas horas de trabalho e em outras oportunidades não recebe nem as extras.
Mas isto é bem feito, quem mandou estudar, não é verdade?
Poderíamos viver muito melhor se fôssemos parlamentares ou jogadores de futebol, podíamos ser analfabetos e termos ótimos salários, morarmos todos em mansões se apenas arranhássemos o nome.
E é verdade, pergunte ao Tiririca ou ao Neymar!
Em um ano de governo, a DILMA já foi forçada a substituir alguns de seus ministros de confiança, como foi o caso do (Antonio Palocci - Casa Civil), (Luiz Sérgio - das Relações Institucionais), (Alfredo Nascimento – Transportes), (Nelson Jobim – Defesa), (Wagner |Rossi – Agricultura), (Pedro Novais – Turismo), (Orlando Silva – Esporte) e não caiu ainda o (Fernando Pimentel – Desenvolvimento/Ind. Com. Exterior) porque está sendo blindado pela presidenta, mas aqui pra nós, pra quê blindar, se ela ficar sem nenhum ministro, não fará falta, não é mesmo?
Não dá pra entender qual a utilidade de 513 deputados federais, 81 senadores, este absurdo de secretarias, ministro até para inutilidade pública, é realmente uma farra desmesurada com o dinheiro do contribuinte que paga os maiores impostos do mundo.
Festeiros como somos, vivemos em uma eterna ressaca e por isso não notamos o que está ao nosso redor nos prejudicando e nos afundando cada vez mais para a base da pirâmide social e mesmo assim, o povo não se importa muito, pois logo virá carnaval, semana santa, dia das mães, festas juninas, férias escolares e por ai vai, porque com tanta festa não dá tempo do povo ficar lúcido, não é verdade?
Se depender da política e da politicalha que nos governa, o ano novo não será um mar de rosas para a população, pois o número de miseráveis em nosso país, não mudou uma vírgula, pois continua com seus trinta e oito milhões, mais os milhões de desempregados que, diga-se de passagem, é um número por demais elevado, perdendo apenas para o Haiti e para a Bolívia.
Vejamos em pequenas pinceladas o que nos espera:
O ensino público é incompetente, ineficiente, desestruturado, com professores mal remunerados e uma pedagogia muito aquém da necessária.
Os hospitais não possuem leitos suficientes, nem medicamentos, nem médicos, tamanho é o descaso que várias casas de misericórdia estão fechando suas portas.
O transporte público é sucateado e o trabalhador ainda nestes tempos atuais, desembolsa de vinte a trinta por cento de seu minguado salário para ter o direito de ir e vir nos ônibus e trens que mais parecem latas de sardinhas, isto quando não estão em greves constantes, além do medo pelos assaltos aos coletivos.
Os idosos depois de terem suas forças exauridas pela dedicação ao trabalho em décadas sucessivas vêem seus direitos de cidadãos que contribuíram para o desenvolvimento do País, vilipendiados pelo abuso do poder, a novamente serem obrigados a contribuir com o INSS órgão dos mais mal gerenciados desta Nação que vive mais paralisado pelas constantes greves que atuando por alguns meses, tendo em seus quadros os piores e mais mal educados atendentes públicos para com o povo.
Parte considerável da juventude perdida pelo mundo das drogas, e milhares de mães enlutadas, resultado do confronto direto, seja entre gangues, seja pela ordem fatal dos traficantes e lembrando que nas grandes cidades as cracolândias são Fênix, ninguém extermina pela maneira paliativa com que é tratada.
A proliferação da prostituição infantil nas orlas marítimas é outro caso extremamente grave e que vai sendo empurrado com a barriga de governo a governo.
Os milhões de desempregados de todos os setores produtivos de nossa sociedade.
Moradores de rua que infestam praças, pontes e viadutos de todas as regiões do país, além de uma leva incontável de pedintes em metrôs, rodoviárias, terminais de ônibus e trens urbanos.
A violência diariamente estampada pelas câmeras de televisão e que cresce vertiginosa e assustadoramente junto com os crimes, os assaltos, os roubos, os estupros, os seqüestros e também o simples prazer de tirar a vida do semelhante somente para ver a queda.
Devemos mesmo nos deixar levar pela euforia desenfreada, só porque mais um ano está indo e outro chegando?
Será que não está na hora de tomarmos consciência de que nossos filhos e netos irão precisar de um futuro mais promissor?
Ou será que simplesmente não nos preocupamos com o futuro?
Não seria chegado o momento de refletirmos e juntos darmos um basta em todas essas coisas que tornam nossos horizontes negros, virarmos a página do cabresto que sempre nos foi imposta e escrevermos nossa história com nossos próprios punhos?
Temos em nosso favor uma das maiores nações territoriais do Planeta, de solo fértil e rico, fartura de água doce e salgada, a maior floresta do mundo, o maior rio, um povo trabalhador, porém carente e submisso.
O que nos falta?
Simples!
Falta termos a consciência de nosso valor, falta união, fraternidade e senso comum. Falta sabermos votar, para colocarmos em nossos escalões governamentais, pessoas preocupadas e capazes de gerir nossas riquezas e direcioná-las para nós, os brasileiros, os filhos desta Pátria tão massacrada pela cobiça, pela corrupção e o descaso.
Como sempre, a esperança é o nosso estandarte maior e em sendo assim, o ano que sai já vai tarde e ficamos na torcida, fazendo promessas com todos os santos (acho que só a divindade dá jeito) para que o ano que chega traga realmente para a realização de nossos sonhos, a concretização de nossos anseios, com muita paz, progresso, amor e honra.
Feliz ano novo!
Matéria publicada no jornal Correio de Lins (SP) - 30/12/2004
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
QUE PAÍS É ESTE?
Este país ainda está muito longe de se tornar a terra dos sonhos dos que o habitam.
Um país que perdeu de vez todo o seu rumo, outrora promissor e que se encontra entregue à bandidagem, quer criminosos perseguidos, quer os já conhecidos colarinhos brancos.
Pais em que as autoridades por pura incompetência assistem de camarote a invasão de prédios públicos pelos integrantes do MST, e dos sem teto, que numa afronta generalizada, expulsam funcionários e se apropriam pelos dias que bem entendem das dependências do órgão, de lá só saindo depois de proferirem duras ameaças e deixando atrás de si o rastro da destruição do patrimônio público.
Pais que não possui controle de seus presídios, palcos de constantes rebeliões, oportunidade em que as depredações vão do telhado às enfermarias, funcionários são feitos reféns, funcionarias estupradas, facções rivais que se digladiam até a morte em atos de barbárie.
Pais onde protestos de moradores sempre prejudicam a quem está trabalhando ou retornando para suas casas, encontrando nas rodovias, já tão caóticas de fluxo, bloqueios e queima de pneus.
Pais que ainda impera o preconceito ao negro, ao índio, ao idoso e ao favelado. Que massacra a população em filas quilométricas diuturnamente nos postos de saúde, principalmente crianças e pessoas de idade avançada.
Pais que possui infiltrados na gloriosa e centenária polícia, verdadeiros bandidos que fazem suas próprias chacinas e criam sua próprias milícias, respaldados pela farda e distintivos que ostentam e que deveriam honrar.
Pais onde juiz vende sentença, magistrado manda matar magistrado, outro que desvia milhões de reais de prédio publico em construção, pessoas que desviam dinheiro do INSS, escondem em malas, fazem mensalões, conduzem dinheiro em cuecas, criam gado e possuem frigoríficos fictícios, numa fábrica continua de anões de orçamento e desvios de verbas públicas.
País em que fiscais do Ministério do Trabalho são assassinados, missionária é morta por encomenda, repórter é morto e queimado em locas de pedras, políticos se esbaldam com o dinheiro público e depositam seus roubos em paraísos fiscais no exterior, país onde se atira nas pessoas só pra ver o tombo e onde as balas perdidas sempre encontram um corpo para se alojar, é na realidade um país onde a bandeira desfraldada é a da impunidade, contada como certa.
Pais que possui em seu perímetro a maior floresta do mundo e que permite que posseiros, grileiros e madeireiros a devaste quase sem nenhuma interferência do Estado. Aliás, é de se admirar, pois a floresta amazônica é rastreada via satélite (SIVAM), só que todas as informações colhidas diariamente no raio de ação do tal satélite, são remetidas primeiro para os Estados Unidos, depois filtradas e devolvidas pra nós somente o que não interessa aos americanos.
E é a Região Amazônica também, que se encontra exposta nos livros de geografia do Ensino Fundamental e Médio dos EUA, criteriosamente explorada palmo a palmo, como se fosse propriedade deles, os americanos.
Curiosamente, a Floresta Amazônica possui o maior acervo fitoterápico do Planeta, mas suas plantas são analisadas e industrializadas nos laboratórios dos Estados Unidos.
O Brasil possui em 22 Estados a pior frota de ônibus urbanos da América Latina, verdadeiras tralhas e como não poderia deixar de ser, uma das passagens de coletivos mais caras também.
Milhões e milhões de pais de famílias vivem na ociosidade, abandonados pelo poder público, desempregados e sem nenhum amparo ou alternativa.
Doze milhões de empregos garantidos pelo governo não passou de mais uma promessa demagógica, assim como a fome zero que nunca saiu do zero.
As estradas que cortam o país de norte a sul, até parece que foram dinamitadas, pois os buracos as deixam intransitáveis, vezes até por animais.
O flagelo das secas perpetuado desde o descobrimento do Brasil é assunto predileto, verdadeiro comércio no escambo do voto, das falsas promessas em todas as malfadadas eleições deste País.
Em se tratando de segurança, vivemos numa guerra fratricida, guerra civil, onde as pessoas de bem se vêem forçadas a permanecerem trancadas e gradeadas, acuadas em casa e mesmo assim, os arrastões, os seqüestros, o tráfico de drogas, as chacinas, a pedofilia, o estupro e a fome, são atos de extrema violência, mas que começam a ser vistos quase que naturalmente pelo amedrontado povo brasileiro.
Os menores delinqüentes (que de menores só possuem a idade) são verdadeiros marginais, perversos, de alta periculosidade, criminosos insanos, sedentos por sangue de vitimas inocentes e pacatas, matam por qualquer cigarro de maconha. O que na realidade revolta é que a polícia, órgão repressor não pode tocar em um fio de cabelo destes delinqüentes, porque o pessoal dos direitos humanos se melindra por qualquer coisa que se faça com um vagabundo e o preço pago pela sociedade é que eles vão ficando mais e mais audaciosos e vão fazendo vítimas inocentes por onde passam, deixando um rastro de sangue com mães e esposas enlutadas.
Na política, oito entre dez eleitos para cargo eletivo neste país, só pensam em se dar bem, extorquir, praticar propinas e conchavos, empregar os seus, num nepotismo que enoja e denigre a política nacional, encher suas burras de dinheiro, elevar cada vez mais suas contas bancárias e participar de CPIs que lhes dão lucro e terminam em pizzas,
A prostituição infantil cresce assustadoramente em nossas cidades, principalmente em nosso litoral (praias e portos) e fronteiras de Estado.
O ensino público deficitário, mal estruturado, professores mal pagos, prédios escolares em estado de petição de miséria, transporte escolar feito em caminhonetes e caminhões ( pau de arara ), além do ensino muito aquém das necessidades educacionais que os jovens precisam para se tornarem cidadãos.
Não se lamenta muito quando um aluno de oitava série não sabe quem é o presidente da República, mas é muito triste este mesmo aluno em pleno desfile pátrio não saber o porquê nem o quê se comemora no dia 7 de setembro.
Ninguém é insano para enumerar e detalhar cronologicamente o que nos afeta, o que nos falta, o que nos perturba, o que nos frustra, o que nos choca, mas diante de tão poucos itens aqui relacionados, ficamos perplexos e quase em coro perguntamos:  QUE PAÍS É ESTE?
Matéria publicada no jornal Correio de Lins (SP) - 30/04 e 01/05/2005
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                  
 É FANTÁSTICO!
Depois de sentada a poeira, inclusive da emoção, do corpo do santo padre baixar à sepultura, podemos agora ao enxugar nossas lágrimas, analisarmos de maneira mais coesa, todo o desenrolar do martírio, morte, velório e sepultamento que gerou comoção mundial, tenta do dentro de nosso pobre raciocínio entender a magnitude de tão bela e contemporânea alma, conhecida por todos nós.
Outros velórios foram postos de lado, casamentos foram adiados, campeonatos foram interrompidos, festas foram suspensas, encontros políticos novamente agendados, às vigílias foram anexadas milhões de pessoas, fiéis superlotavam igrejas, as orações se estenderam, o apelo aos Céus foram redobrados.
A realidade estava patente no semblante de todos.
O catolicismo estava de luto.
Quantos milhões de pessoas ainda devem estar se perguntando de onde veio esta força hercúlea do Papa, que mesmo morto e exposto, conseguiu agregar um número incalculável de gente de todas as raças, posição social, chefes de Estados, reis, rainhas, príncipes, pretos, brancos, ricos, pobres, representantes de todos os credos e até de quem não crê em Deus, numa demonstração de respeito e admiração, tristeza e sentimento de perda.
Como pode um homem depois de morto conseguir ser o centro das atenções do Planeta?
O que há de especial em Karol Woityla, chefe da Igreja católica, mais uma religião entre tantas outras?
Por que ele é especial?
João Paulo II, não era apenas um Papa no Vaticano.
Logo que recebeu o título de Chefe do Clero Apostólico Romano, o Papa, determinado como era, resolveu sair da clausura, pois não queria seu um intocável do imaginário popular.
Ele tinha dentro de si, o desejo de transpor barreiras, quebrar protocolos, ver de perto o seu rebanho, levar sua mensagem pessoalmente bem longe das muralhas da Santa Sé.
Sentia a necessidade fremente de ir ao encontro das massas mais populares, os mais oprimidos, os deserdados pela sorte, os seus irmãos filhos do mesmo Deus.
Sabia da importância do seu cargo, as vantagens que ele poderia lhe proporcionar e sem nenhuma cerimônia, falava abertamente das injustiças sociais, da violência, da prostituição, da reforma agrária, das ditaduras, do muro da separação e da vergonha que às vezes, nem é feito de concreto, das guerras inúteis e dos massacres resultantes da fome e da miséria.
Nunca se deteve ante as barreiras impostas em alguns países, respaldado que estava pela bandeira branca da paz, símbolo constante em suas mãos santas.
Não tinha o hábito de alojar-se em palácios, pois até procurava a simplicidade e rusticidade dos aposentos que lhe acolhiam em suas inúmeras viagens.
Através de suas tentativas, poder de decisão e convencimento, quantas mãos inimigas não se entrelaçaram firmando a paz?
Na história do papado, que papa adentrou em uma favela? Qual quebrou o cerimonial para tocar nas mãos do povo que em delírio gritava seu nome e que se satisfazia apenas com a brandura de seu olhar?
Qual papa teve a humildade de abençoar o solo visitado com um terno beijo no próprio asfalto?
Qual de nós tem o crescimento espiritual ao ponto de procurarmos um inimigo para perdoá-lo e abençoá-lo?
Qual o quê!
Ele era diferente!
Era um espírito de luz do mais alto quilate, com uma sublime missão neste Planeta. Um abnegado líder espiritual, determinado e puro.
Seu carisma atingiu a todos e agora deve estar num lugar muito especial, onde poucos têm a chance de atingir.
Fico a imaginar em medíocre comparação: se o papa não tiver ido ao encontro de outros espíritos de adiantado estado de pureza, para onde vou eu que sou totalmente embrutecido, ainda acho que é olho por olho e dente por dente, não consigo perdoar meus inimigos, guardo rancor e em qualquer oportunidade que a vida me der, dou o troco à altura do que fui atingido?
Pobre de mim e de milhões iguais a mim!
Karol Woityla cumpriu sua missão com muita dignidade.
João Paulo II é um exemplo a ser seguido, para que seus esforços pelo bem comum, pela igualdade social, pela fé e a paz não se percam nas mentes curtas dos mandatários de nações e até do próprio Clero.
Karol Woityla, João Paulo II, o Santo Padre, o João de Deus, continuará na sua essência, como o símbolo da paz, da fé e do amor ao próximo.
Matéria publicada no jornal Correio de Lins (SP) - 14/04/2005
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                  

HISTÓRIAS QUE CONTAM
O caminho é por demais conhecido, uma vereda ensombrada, ladeada por frondosas árvores típicas da região nordestina (catingueira, jurema, pau branco, sabiá, juazeiro, imburana, pau d’arco, camaru, etc), numa extensão de mais de duas léguas.
A lua está clara num céu sem nuvens, mas a penumbra persiste, pois apenas por esparsas vezes o vento tange os galhos, deixando à descoberta, a passagem estreita e íngreme, onde os animais pelo costume e desejo de chegar em casa, pisam firmemente sem tropeço ou parada.
O silencio é quebrado apenas pelo barulho dos cascos dos animais nas pedras e suas respirações ofegantes, como também vez por outra, o pio de uma coruja ou o assobio do vento entre galhos de árvores, dão prova de algo sólido, vivo e atuante.
Naquelas paragens, exatamente ali onde agora passamos, são conhecidas e lendárias as histórias não muito encorajadoras para os transeuntes noturnos. Muitas delas me foram contadas por personagens mais diversos e protagonistas reais, isentos de dúvidas em suas palavras e narrativas.
A primeira versão, embora estapafúrdia, partiu em relação ao Dr. Aníbal Frutuoso, cognominado de coronel, patente adquirida através de suas condições financeiras que sempre lhe deram poderes absolutos sobre polícia e política das redondezas. Era senhor de muitas terras, milhares de cabeças de gado, possuindo dentro de suas fazendas, casas de farinha e engenhos, uma infinidade de trabalhadores na lavoura e muitos pistoleiros e bandoleiros sob suas ordens e proteção.
Coroné Frutoso como era chamado, acumulava uma fortuna invejada por muitos. Sua palavra era um selo federal para aquela gente simples e ninguém duvidava dela, mesmo porque, todos se empenhavam em cumpri-la, mesmo sem a certeza da veracidade.
Se o coroné disse, é porque aconteceu ou é para cumprir, afirmavam eles.
Contaram-me que o coronel em uma de suas inúmeras viagens por “aquelas bandas”, naquele caminho e local por onde agora passávamos, vinha montado em seu cavalo alazão, acompanhado pelo Firmino, negro de sua inteira confiança e que por sua vez, montava um burro pardacento, trotão e lerdo.
A noite estava com preparo de chuva, os relâmpagos clareando sobre as árvores e ao longe, trovoes ribombavam numa demonstração clara de aproximação rápida de uma torrencial tempestade.
O barulho da chuva já se fazia ouvir na mata, ao que parecia, não muito longe, portanto sem tempo disponível para a procura de um abrigo.
No referido local anteriormente mencionado, misturada às árvores, à margem da vereda, existem grandes pedras acopladas umas às outras, mas sem oferecer nenhuma proteção, pois além de lisas e íngremes, são rodeadas de xiquexique, propícias apenas à moradia de xexéus, corujas ou ninhos de urubus.
Pois muito bem.
Primeiro veio um relâmpago acompanhado por um estrondoso trovão, depois o cavalo no qual o coronel estava montado, orientou as orelhas, empinou e fez menção de voltar. O burro que conduzia o negro Firmino, bufou e deu meia volta, não dando tempo para que este o segurasse.
Naquele exato momento, em sons simultâneos e idênticos, ouviram uma chocalheira bem na base da pedra maior, seguida do choro de uma criança, gemidos e ais.
Os animais mesmo forçados por esporas, não iam pra frente, só desejavam retornar.
O coronel por sua posição e fama de durão, foi o primeiro a reagir. Sacou o revólver, desceu do cavalo, entregou as rédeas ao Firmino e caminhou em direção ao barulho, perguntando com sua voz forte: - quem está aí?
Não obteve resposta.
Engatilhou a arma e caminhou vagarosamente, quase abaixado. O latido de um cachorro próximo ao seu corpo, fê-lo atirar sem rumo e como num passe de mágica tudo aquietou, reinando um silêncio sepulcral.
Grossas gotas de chuva começaram a cair, encharcando tudo.
O coronel, em seu terno de linho branco, calça marrom mesclada, chapéu de massa e botina meia perna, foi lentamente retornando ao local onde os animais haviam ficado com o negro Firmino, tendo o cuidado ou apavorado como estava de não dar as costas para as pedras.
Quando estava a uns dois metros de distancia dos animais, um inesperado relâmpago clareia sua figura molhada, sinistra e amedrontada, fazendo com que os animais tomem um grande susto e ameacem arrancar em disparada.
O Firmino, no afã de segurar a montaria do coronel, desequilibra-se e cai do burro, oportunidade que este esperava para junto com o cavalo, desembestarem caminho afora, deixando os dois homens a pé.
Coronel Frutuoso após o susto encolerizou-se ouvindo as pisadas dos animais se distanciando, além do que, os mesmos na arrancada que deram, jogaram lama nele e no pobre Firmino.
O coronel praguejou contra as pedras e descarregou sua ira proferindo as palavras de mais baixo calão contra o negro.
 Antes dos dois se recomporem, novo barulho deixou-os atordoados, diante de fatos intrincados, pois os gemidos aumentaram, os latidos ficaram mais intensos, a chocalheira insistente e mais amiúde, além de mais próximas, juntando-se ao choro ininterrupto de criança.
Os homens armados, o coronel com um revólver, que procurou logo municiar e o Firmino com uma peixeira de sangrar boi, decidiram que podiam perder mais um pouco de tempo, procurando por aquelas estranhas e apavorantes coisas, já que teriam que trilhar uma longa jornada a pé até chegarem em casa.
Arrependeram-se profundamente, pois o programa havia apenas começado e não estava fadado a um término antes dos próximos dez minutos, tempo que aos dois, pareceu uma eternidade.
Pelo clarão de um novo relâmpago, os dois divisaram ao mesmo tempo, um esqueleto que3 pela aparição momentânea, parecia estar pendurado na pedra maior.
O negro Firmino que nunca fora corajoso, tentou correr, mas as pernas não o ajudaram e o coronel, pela surpresa inesperada, atirou na tétrica figura, descarregando outra vez a munição do revólver.
O barulho era infernal, a chuva torrencial, relâmpagos intermitentes e trovões ruidosos.
Firmino, num ato de bravura ou desespero, tentou acabar com aquilo de vez e ao cessar o tiroteio do coronel, projetou-se para frente na ânsia de agarrar o esqueleto e despedaçá-lo contra as pedras.
Na escuridão, sem poder medir a distancia o negro chocou-se violentamente contra a pedra, caiu sobre os xiquexiques e ficou a gritar desesperado, rogando por socorro ao coronel, pois a alma o batera e estava a pinicá-lo todo.
Debalde o coronel procurou a pedra de isqueiro, pois a pólvora do depósito de chifre estava totalmente encharcada pela chuva.
Com muito sacrifício, conseguiu chegar orientando-se pelos gritos do Firmino ao local onde o mesmo se encontrava. Pegou-o por baixo do braço e fez menção de içá-lo, mas sem antes enfiar o pé numa loca de pedra e perder a botina que ficou presa, juntamente com a espora.
Na pressa, caiu também seu chapéu e o relógio de algibeira, pois a corrente do mesmo enganchou em um galho, partiu-se e levou a milionária relíquia em ouro maciço, precioso objeto de herança paterna.
Por fim, quase exaurido pelo esforço hercúleo, conseguiu resgatar o negro para a estrada, tomando o rumo da fazenda, indo o coronel mancando e praguejando e o pobre Firmino gemendo e quase chorando com o traseiro cheio de espinhos.
Caminharam uns seis quilômetros até encontrarem alguns peões da fazenda que já vinham procurando por eles, trazendo seus animais que na desabalada carreira tinham ido parar na casa grande.
Firmino teve que forçosamente fazer o restante da viagem atravessado na sela, uma vez que só foi atendido pelo vaqueiro Ananias que tirou um a um os espinhos de xiquexique das nádegas do desgraçado, na fazenda, sob ponta de faca.
Pela madrugada, antes do amanhecer dois peões foram às pedras e trouxeram os utensílios perdidos pelo coronel na noite anterior.
De anormal, nada divisaram ou ouviram, apenas pegadas, muitas pegadas.
Seria um fato atípico que poderíamos achar esquisito demais, como diz o mineiro “além da conta”, não houvesse quem afirme sob juramento que é verídico e que pode ser comprovado por inúmeras pessoas que conheceram o coronel.
Na verdade, tenho a absoluta certeza de não desejar comprovar, mesmo porque estou a uns dez metros de onde a história se passou, segundo o relato de alguns.
Outro episódio que me vem à lembrança aconteceu com o velho catito, homem já septuagenário, de muita integridade e que também nunca teve sua palavra posta em dúvida.
Pois o véi catito que vendia bugigangas em todas as fazendas por aquelas redondezas, vinha montado em seu cavalinho branco marchador, puxando pelo cabresto o seu burrinho de carga quando decidiu se apear exatamente em frente aquelas já conhecidas e temidas pedras.
Eram mais ou menos de acordo com o relato do véi catito umas sete horas de uma noite sem lua, onde reinava o escuro e o silêncio total na mata.
O velho, após apear-se, acendeu um cigarro, amarrou os animais à margem do caminho e entrou no mato, bem próximo das pedras.
Ao se abaixar, notou que o lado oposto da pedra estava iluminado. Ficou surpreso, pois não havia notado antes e tinha a certeza absoluta que tinha caminhado em direção às pedras em sentido reto, o que lhe faria notar de longe qualquer claridade.
Levantou-se e foi olhar o que era. Ficou boquiaberto com a cena.
Naquelas paragens, naquela hora, era muito estranho. Havia umas vinte velas acesas, já queimadas até a metade que o levaram a crer que alguém as acendeu simultaneamente.
 O curioso, no entanto é que as chamas das velas, embora sem nada que obstruísse o clarão até o cume da pedra, iluminavam apenas uma pequena cruz de madeira pintada na cor azul, sem gravação ne4nhuma, fincada no chão e calçada por pequenas pedrinhas roliças, tendo a cruz em sua madeira horizontal, uma fita vermelha com uma medalhinha pendurada, ale, de uma pequena coroa de flores já secas, miúdas e desbotadas.
Estava o véi catito ainda a olhar tudo com minúcias e a fazer conjecturas, quando um vento repentino, baixo e gelado apagou todas as velas.
A escuridão se fez breu, uma vez que as pupilas dos olhos do velho caixeiro estavam dilatadas pela claridade de há pouco.
De repente, sem direcionamento fixo, ele ouve o choro de uma criança, momento em que o ancião arrepiou-se todo e começou a achar que aquilo não era e nem estava normal, nem ali nem naquele horário.
Achou melhor ir embora e levantou-se com este intento. Não pode caminhar, porém, pois além das pernas pesarem, uma batedeira de chocalhos e latas fez os animais romperem as cordas que os prendia e correrem, deixando o velho a pé.
Como única solução para seus problemas, medo e apreensão, seu catito só viu um caminho, rezar.
E rezou baixinho, mas concentrado, com fé e pedindo graças.
Quando chegou na metade do Pai Nosso, tudo voltou à calmaria, reinou o silencio e4 as pernas reagiram.
Saiu de costas para a estrada sempre rezando, até fazer o Sinal da Cruz.
Caminhou com passos firmes na direção em que os animais correram e ao andar uns cem metros, encontrou-os à margem da estrada pastando.
Montou, pegou o outro animal pelo cabresto e seguiu viagem sem olhar pra trás nem mais uma vez.
Se é verdade ou não o que contam destas pedras que ora observo daqui do caminho, não posso afirmar, pois graças a Deus nunca vi ou ouvi nada.
O certo é que jamais passei sem me arrepiar todo, os animais embora acostumados ao trajeto, toda vez que chegam ao local ficam de orelhas em pé, olhares fixos nas pedras, narinas dilatadas, passam quase de lado, dando a entender que até eles sentem receio do local.
E você, o que acha?
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
UM DIA DIFERENTE
Ele chegou naquele dia que tinha tudo para ser normal, um pouco fora de sua pachorrenta rotina, muito alvoroçado, suado, demasiadamente atrasado, os olhos esbugalhados, tomando fôlego ruidosamente, arfando pelas narinas avermelhadas, as mãos tremulas e uma incrível sensação de medo.
Claro que estranhei seu comportamento, era completamente inédito.
Aderaldo, este é seu nome, é um funcionário sempre calmo, sorridente, delicado, prestativo e gentil com todos. Atende a quem precisa de seus serviços de maneira cordial e rara é a vez em que ele se mostra chateado, o que sabemos ser apenas por coisa séria.
Pois bem.
Ado, como todos carinhosamente o chamam aqui no escritório, logo que chegou dirigiu-se à sua mesa e aparvalhadamente ao tentar sentar-se, calculou mal a distancia da cadeira e caiu estrondosamente no chão, gerando gargalhadas por parte de todos.
Levantou-se, bateu nos fundilhos da calça, ajeitou a cadeira e sentou-se muito sério, não sem antes colocar o cotovelo na almofada de carimbos que estava aberta sobre sua mesa.  Sujou logo a camisa que ficou com aquela mancha azul por trás de seu braço.
Fiquei a observá-lo, aliás, quem não o estava observando naquele momento?
Algo me dizia que Ado havia se levantado com o pé esquerdo naquele dia.
Ele abriu a gaveta do birô, retirou alguns papéis, canetas, carimbos, borracha, régua, chips e uma caixa de percevejo.
Pegou alguns relatórios para digitar, organizou os rascunhos e iniciou o seu trabalho.
O que mais estranhei naquilo tudo é que ele não nos havia dado nem bom dia, simplesmente chegou, passou por todos nós e foi direto para sua mesa.
Pegou a caneta para que pudesse ir ticando o que estava aprontando e como a mesma estava falhando,  acendeu um fósforo para esquentar o bico e afrouxar a tinta.
Esquentou demais a esfera do bico da caneta caiu longe, a tinta, pelo vácuo deslocado, saiu fluente e rápida, salpicando os papéis que estavam sobre sua mesa, a camisa e calça de nosso colega que naquele dia estava fatalmente fora de sua normalidade.
Antes que desse conta da sujeira da tinta nos papeis e roupas, Ado sentiu uma ardência e ficou sacudindo a mão. É que ele havia eswque3cido o palito de fósforo aceso e em conseqüência, queimou os dois dedos que o segurava.
Levantou-se feito uma bala para molhar a mão na torneira do bebedouro.
Na pressa para se levantar, prendeu o pé no fio da máquina de calcular e arrastou-a junto com o telefone, o porta-carimbos e a caixa de percevejos que ao cair, abriu-se espalhando percevejos para todos os lados.
Abaixou-se, desembaraçou os pés do fio, pegou a máquina, os carimbos e o telefone e colocou-os sobre a mesa, oportunidade em que notou que ainda havia um carimbo no chão. Apanhou e quando ia se recompondo, bateu com a cabeça no tampo da mesa e ficou a coçá-la impacientemente, fazendo uma careta de dor.
Finalmente foi ao bebedouro molhar a mão, aproveitando a oportunidade para molhar também a cabeça, tentando amenizar a dor e baixar o galo.
Parece que a água em si não ia ajudá-lo muito.
Foi à geladeira para pegar gelo e esfregar na cabeça e ao abrir a porta, não notou que havia uma garrafa em falso, que tão logo a porta foi aberta, caiu sobre os pés do meu amigo, enchendo o seu sapato com o liquido gelado.
Agarrou a porta com violência e fechou-a não tendo tempo nem cuidado de antes retirar a mão, imprensando os dedos já queimados na bendita porta da geladeira.
Ado não se deu por vencido, respirou fundo e dirigiu-se à sua mesa de trabalho.
Apanhou um copinho de café, bebeu um gole e cuspiu longe esfregando os lábios, pois o líquido estava muito quente.
Voltou finalmente para sua mesa com uma cara que fazia medo e um barulho característico de galocha ceia d’água.
Realmente o pobre do meu colega não estava com nenhum pingo de sorte naquele dia.
Era azar demais!
Uma coisa encima da outra!
Confesso que senti pena.
A estas alturas ninguém do escritório despregava os olhos de sua figura esguia e desastrada.
Aproximei-me para puxar conversa, pois queria saber o que estava acontecendo para ele se encontrar naquele estado.
Sentei-me no canto da mesa e fiquei esperando a oportunidade de falar-lhe, pois eu estava também procurando as palavras adequadas porque sabia que qualq1uer deslize na conversa ele poderia ter uma crise de histeria.
Ele estava retirando as maias, ia pô-las para secar atrás da geladeira e ao levantar-se para estendê-las não prestou atenção onde pisava. Deu um grito de dor, levantou o pé e pude ver somente a cabeça do percevejo, pois o resto havia entrado por completo no solado do pé do meu querido e desafortunado colega de trabalho.
Puxou com extrema violência e o sangue jorrou abundante, sujando logo o assoalho e o tapete da sala.
Pedi que ele sentasse que eu iria providenciar medicamentos para fazer um curativo.
Levei suas meias, peguei éter, algodão, esparadrapo, gaze, pomada e uma colega fez a gentileza de limpar e fazer um curativo.
Quando os ânimos estavam serenados, pedi que ele me contasse o que estava acontecendo.
Ele passou a relatar:
- meu amigo, por incrível que pareça, há dias que a gente não devia nem se levantar da cama. Hoje pra mim parece uma sexta-feira, treze de agosto, dia de lua cheia, aparição de lobisomem e meia noite.
Quando me levantei e fui escovar os dentes, ao invés de passar pasta na escova, passei creme de barbear, tudo porque a luz do banheiro amanheceu queimada.
Quando fui tirar a barba, olha o tamanho do talho aqui no meu queixo, não sei quem foi o idiota lá de casa que deixou o sabonete no chão e no escuro pisei em cima do desgraçado, na queda segurei-me na pia que não agüentou meu peso, deslocou da parede, espatifou-se no chão advindo com isto este corte na minha mão esquerda.
Quando sai do banheiro e fui tomar café não notei que a leiteira estava sobre o cabo da faca de cortar pão, daí eu puxei a faca, a leiteira virou, estava muito quente, sujou tudo e me queimou. Sendo necessário trocar de roupa novamente.
Fui para o ponto do ônibus e você não imagina o sufoco, me subiram.
Quando com muito custo consegui chegar à catraca, o cobrador foi logo falando que quem não tivesse dinheiro trocado para a passagem, nem tentasse passar, pois ele estava sem troco. Eu tinha uma cédula de um real, mas não dava para a passagem e assim mesmo temeroso puxei uma nota de dez reais, que era a mais miúda, mas que sobejamente precisava de troco e fiquei logo na defesa de um possível confronto com aquele delicado profissional.
O homem ficou vermelho de ódio e perguntou na frente de todos, quase cuspindo no meu rosto se eu era surdo ou queria tirar sarro da cara dele.
Guardou meu dinheiro e falou que se tivesse troco no fim da linha me daria, caso contrário ele é que não iria perder. Preferi não discutir, também não fui até o final da linha.
Desci do ônibus e me dirigi pra cá, mas no primeiro quarteirão quase que meu coração para, pois um carro avançou o sinal e por questão de dez centímetros não me atropelou.
A lista de pneus ficou assim pra mais de dois metros. Caí com o susto.
As pessoas se aglomeram à minha volta falando que eu tinha quebrado a perna, fraturado a bacia, estava com fraturas expostas e coisas do gênero. Fiquei apavorado.
Abri os olhos e me examinei, não vendo nem marca de sangue e nem sentindo dor alguma.
Levantei-me devagar e fui saindo, mas um soldado pegou no meu braço e disse que era pra ir para o hospital, que ele já havia chamado uma ambulância do corpo de bombeiros, eu ia ter que bater umas radiografias, identificar o carro que havia me atropelado e dar queixa na delegacia. Naturalmente tentei argumentar que não estava sentindo nada, que havia caído com o susto, que não havia prestado atenção no veículo nem no motorista.
Qual o quê! Não adiantou! Mandou que eu calasse a boca, não discutisse com a policia e obedecesse. Apareceu uma ambulância, me colocaram dentro e com a sirene ligada me levaram para o hospital.
Graças a Deus consegui sair do hospital com vida. Sabe o que achei interessante nisto tudo? É que quando precisamos de cuidados médicos passamos meses para conseguir uma consulta, mas quando entendem de nos levar à força e sem necessidade, só falta não liberarem a gente.
Saí do hospital e corri para o ponto de ônibus porque já estava atrasado demais para o meu trabalho, mas só consegui descer quatro paradas depois da empresa.
Na pressa de passar no corredor do ônibus, um office-boy bateu com a pasta na minha cabeça, levei uma bruta de uma cotovelada de uma senhora e uma senhora gorda pisou no meu pé (este mesmo que acabei de furar com um percevejo), tentando ficar mais alta para alcançar a corda do sinal do ônibus. Cheguei aqui com os dedos do pé doendo muito.
Ali na esquina da padaria quando ia chegando, dei esmola para um ceguinho. Veja só! Ao invés de dar o único real que tinha trocado no bolso, dei foi a cédula de vinte reais, único dinheiro que me restava, então ali na padaria eu tomei café, comprei cigarros e quando fui pagar senti a falta do dinheiro e o tamanho do meu engano. Voltei imediatamente na esquina, mas o diabo do cego há muito que tinha ido embora.
Por tudo isso é que cheguei atrasado hoje como nunca havia acontecido em minha vida.
Para completar, o controlador de entrada de funcionários veio com a conversa de que eu não podia mais entrar, pois estava muito atrasado. Pode?
Perguntei-lhe o que havia acontecido, pois ele havia falado tanta coisa e não falara sobre o galo na sua testa. Disse que quando retornava da padaria, vinha fulo da vida por causa do ceguinho, de cabeça baixa, não prestando atenção no movimento da calçada quando esbarrou numa senhora que lhe disse umas tantas e boas. Tentou explicar, mas ela foi falando e andando e ele também olhando pra trás e quando foi olhar pra frente não deu tempo, o poste já estava em seu caminho e recebeu o impacto no rosto, mais precisamente na testa.
Imaginei que meu amigo havia também batido o recorde do azar, pois creio que até hoje ninguém conseguiu superá-lo. Juro que senti muita pena dele, era azar demais para um dia só e o pior, para uma manhã só.
Estávamos nesta conversa quando o chefe de nossa seção chama o Ado ao seu gabinete e ficam a conversar por uns vinte minutos. Quando Ado sai da sala, denota pelo olhar e andar todo o desalento de uma pessoa que realmente encontra-se em má fase de sua existência.
Perguntei-lhe o que tinha acontecido e ele falou que o homem chamou-o para dar-lhe uma suspensão por três dias, mas como ele estava molhado, descalço, os cabelos desalinhados, sujo de tinta, mancando e cheio de hematomas, decidiu também demítí-lo.
Fiquei morto de pena, que insensibilidade essa de nosso chefe, pois não havia nem respeitado os ferimentos de nosso companheiro. Indaguei o porquê da suspensão e o Ado falou que foi por causa do atraso, a discussão com o porteiro e pelo relógio de ponto que havia sido despregado e caído ao chão.
Caminhou em busca da geladeira, apanhou as meias, ajeitou-se, vasculhou as gavetas, despediu-se de nós e saiu cabisbaixo e triste.
É lógico que eu ia fazer alguma coisa, pois estava a par de todos os problemas passados pelo meu colega.
Deixei porem que ele se fosse, depois eu falaria com o chefe de nossa seção e tentaria demovê-lo da idéia de demissão e com certeza eu faria isto de qualquer maneira.
Mal o Ado fechou a porta atrás de si, ouvimos o baque repetitivo. Corremos à porta, abri-a e quando olhei para baixo, lá estava o Ado, gemendo e segurando a perna, pois havia caído da escada do primeiro ao ultimo degrau.
Desci a escada rapidamente, peguei-o com a ajuda de outro colega, levamo-lo para meu carro e fui direto para o hospital, a segunda vez naquele dia para meu azarado companheiro de trabalho.
Ado teve uma entorse no pé (desta vez o direito), uma pancada na cabeça, um hematoma nas costelas e vai ficar uns dias repousando por ordem médica.
Há males, porém que vem para o bem.
Ado foi acidentado dentro da Empresa, o que naturalmente torna sem efeito a sua demissão.
Voltará a trabalhar dentro de um s quinze dias.
O pior de tudo que achei em se tratando de meu caro e querido colega é que todo esse infortúnio de sucessivos azares aconteceu exatamente no dia de seu aniversário.
Parabéns, Ado!
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
O CRIME VENCE?
A vida é realmente o que temos de maior valor e como foi Deus quem nos deu, só Ele tem o direito de tirá-la da maneira que melhor lhe aprouver.
Aqui na Terra inúmeras são as pessoas que menosprezam a vida, tanto as suas como as de seus semelhantes.
Existem pessoas que matam por coisas insignificantes, por medo, por sadismo, perversidade, além de um número muito grande que mata por ciúme ou desconfiança.
Pistoleiros de aluguel estão aí, inescrupulosos, matam por dinheiro, vendem a vida de alguém por alguns míseros reais, são seres de alta periculosidade, sem um mínimo de consideração pela vida, verdadeiros Judas que são capazes de eliminar até o melhor de seus amigos dependendo para isso apenas o valor da proposta.
Os crimes, impunes ou não, continuam, a acontecer e crescem assustadoramente.
Os criminosos, assim como a polícia, são treinados, muito bem armados, liderados por uma cabeça inteligente, organizados e destemidos, pois nada tem a perder, embora toda a coragem do marginal seja aparente, revelada pela explosão do medo, da covardia e da humilhação de suas vítimas.
Delitos são praticados diariamente e de maneiras diversas: puxadores de carros, ladrões de residências, assaltantes de lojas e bancos, saidinha bancária, furto, assalto as pessoas e muitos outros, pois hoje em dia não dispensam o pai de família desempregado, senhoras grávidas e pessoas idosas.
E o que dizer dos assassinos que matam para roubar, para defender a “honra”, para provar que é “homem”, para cumprir um contrato, pelo sadismo da tortura, etc.
O crime não é apenas aquele que tira a vida de alguém, pois também são considerados crimes os estupros, os estelionatos, os estelionatos (geralmente praticados por colarinho branco e quase sempre impune), o seqüestro, a pedofilia e o falso testemunho.
Já se tornou mania e é quase diária a prática do crime por seqüestro.
É um crime de riscos imensos, porque é planejado nos mínimos detalhes, por isso os criminosos muitas vezes obtêm êxito.
A sociedade rejeita, o que é obvio, a policia não consegue impedir, os seqüestradores são audaciosos, organizados, violentos e têm em mãos, o trunfo crucial, a vítima.
É uma situação delicadíssima para a família e para o refém, pois o nervosismo toma conta de todos.
As negociações são feitas com expectativa e meticulosamente para nada dar errado e poder resgatar o ente querido são e salvo das mãos dos facínoras.
Deus é lembrado a todo momento, os amigos fazem plantão, o povão espera apreensivo o resultado, a polícia é excluída por exigência dos seqüestradores, a esperta torna-se estafante, o momento de negociação muito tenso, familiares adoecem, os telefonemas se sucedem, o stress domina a todos.
Só quem sabe avaliar a tensão advindo de um seqüestro, durante todo o seu desenrolar é quem já passou por esta triste situação de medo e desespero.
Tive esta triste experiência há dois meses, espero e confio em Deus que não se repita jamais, pois não desejo nem ao meu pior inimigo.
Passei seis dias em poder daqueles homens.
Foi uma convivência atropelada, cheia de medo, apreensões e ameaças constantes, a morte à espreita.
Fui humilhado, batido, maltratado, jogado dentro de um cubículo sem janela, sem forro, sujo, velho, infestado de baratas, sem luminosidade e sem higiene sanitária.
A violência está se instalando de maneira generalizada em várias partes do mundo, mas tínhamos uma segurança bem mais acentuada aqui no Brasil, país alegre, de povo ordeiro, que gosta de praia e carnaval, miscigenado por natureza, onde raças e cores daqui e de muitas outras partes do Globo, representam até por bairros distintos, países europeus, africanos, orientais, alemães, russos, etc.
As coisas mudaram radicalmente de uns tempos para cá, à proporção das mudanças da tecnologia.
A insegurança tomou conta de todos nós que vivemos hoje trancafiados dentro de nossas casas, gradeados, impossibilitados de um lazer, de possuir um bom carro, um bom emprego, uma boa roupa, uma jóia ou um aparelho eletrônico.
Imagine, nem um tênis bom você pode possuir nos dias atuais.
Balas perdidas estouram como rojões em festas juninas, ceifando vida de adultos e crianças, inocentes vítimas que apenas iam para seus trabalhos ou escolas.
A imprensa está virando churrasco nas mãos de hediondos criminosos, verdadeiros parias da sociedade.
Mulheres são violentadas, trucidadas, espancadas, retalhadas, estranguladas, num desafio da criminalidade, pela injustiça que impera.
Crianças de cinco a quatorze anos, de ambos os sexos, são estupradas por pedófilos, saindo também este crime do estigma da favela e adentrando consultórios médicos, chegando inclusive a algumas igrejas, lugares sacros que são desvirtuados por pervertidos, excrementos de nossa sociedade.
Até o transporte público, direito do cidadão, ao invés de microônibus é considerado microondas humano, pois bandidos dos mais desqualificados, sem um pingo de respeito pelo semelhante, ateiam fogo no transporte público e ameaçam com arma de fogo matar os desesperados passageiros que tentem sair do coletivo.
Lojas, bares, escolas, postos de saúde em bairros em bairros controlados pelo narcotráfico são fechados por ordem satânica de criminosos espúrios, comprovando com isto a inoperância de nossas autoridades, a falta de moral e competência para gerir um país tão promissor, rico, de povo pacato e trabalhador.
As chacinas se sucedem dia após dia e os crimes banais imperam por todas as regiões do país.
Há dois meses considerava-me um homem, senão rico, de posses, empresário, proprietário de indústria de médio porte, com uma excelente casa, quase uma mansão, meu carro do ano, muitos empregados, um belo sítio, contas bancárias, dinheiro aplicado.
A elite sempre foi meu mundo, alta roda da sociedade na qual sempre fui destaque, jantares, recepções, casamentos e outras festas pomposas em que eu fazia questão de participar, gostava de vangloriar-me com o que possuía, satisfazia-me dar conhecimento a todos de meu patrimônio.
Jamais imaginei que alguma coisa ou alguém, principalmente um bandido pudesse abalar minha rotina, afinal de contas eu era um homem resguardado por seguranças pessoais.
Desconhecidos quando precisavam falar comigo, tinham a obrigação de passar pela recepção e identificar-se, as câmeras registravam os passos de todos, principalmente de visitantes.
Quanta ilusão!
Eu sem saber era visado, cogitado, estudado e discretamente observado.
Sabiam tudo da minha vida: meu horário de trabalho, horário de saída de casa, meu trajeto, minha vaga no estacionamento, chapa e cor do meu carro, lugares que freqüentava assiduamente, dia em que estava com dinheiro, meu vicio maior (tomar café e fumar) e até número de contas bancárias.
Foi através destas pesquisas incessantes que me tornei presa fácil naquele dia de tristes lembranças.
Eu tinha uma reunião marcada na Secretaria de Comércio Exterior, para as dez horas daquela manhã e por isto mesmo, orientei que apenas dois seguranças deveriam me acompanhar e que poderiam esperar na Empresa.
Saí de casa como costumeiramente fazia, às sete e meia da manhã, entrei no carro, abri o portão da garagem que é inclusive automático e foi exatamente aí que começou meu suplício.
Minha rua é muito calma e de pouco movimento (não dizem que rico só procura lugares tranqüilos para morar?) e naquela hora não passava ninguém pelas imediações.
O homem chegou perto do meu carro sem que eu o notasse, o vidro do lado do motorista estava aberto, talvez por descuido ou para melhor visibilidade da saída de meu portão, não lembro.
Encostou o cano do revólver bem na minha fronte e disse: - o senhor vai ficar calmo que nós vamos dar um passeio longe daqui e agora.
Fiquei a bem da verdade, apavorado e incrédulo, era audácia demais.
No meu portão!
Você nunca pensa que vai acontecer com você, não é verdade?
Perguntei o que ele queria e recebi como resposta que quem fazia as perguntas era ele e quem também dava as ordens, abrindo rapidamente a porta do carro e me empurrando para o banco do carona.
A porta traseira foi aberta e mais dois indivíduos entraram e em questão de minutos começamos a deixar para trás as ruas da minha rotina.
Atravessamos a cidade pelo lado sul e quando já não havia casas, o carro entrou numa trila e estacionou dentro do mato.
A esta altura dos acontecimentos, já sabia de cor e salteado o que eles queriam, pois sou um homem inteligente, um executivo e bem informado cidadão.
Notei desde que adentraram no carro que aquelas barbas, bigodes e cabelos, eram postiços e todos usavam óculos escuros, bonés e luvas de motoqueiro.
Baixaram os vidros do carro e passaram alguns minutos observando em silencio, os arredores.
As portas foram abertas sendo eu o último a descer.
Ostentavam nas mãos, armas brilhosas, niqueladas, pareciam novas e de canos longos.
Recebi ordens de ficar de costas, momento em que colocaram uma venda em meus olhos e amarraram meus pés e minhas mãos.
Fui colocado no porta-malas do carro e antes de sairmos, o carro rodopiou uma seis vezes, quando seguiu em frente e eu não sei se retornando à cidade ou continuando o trajeto anterior, o certo é que andamos mais ou menos uma hora e meia e paramos.
O porta-malas foi aberto e dali fui retirado, quando ouvi muitas ordens serem dadas, desamarraram meus pés, pegaram-me pelo braço e fui introduzido em um local.
As cordas doíam demais em meus pulsos, que latejavam sem parar.
Retiraram a venda, desamarraram minhas mãos e só aí notei que me encontrava em um compartimento desproporcional, porem melhor que o porta-malas.
O cômodo era pequeno, baixo, sujo, escuro, sem cama ou colchonete com uma latrina, um cano com registro, mas sem chuveiro, uma torneira de pia, sem a pia, creio que era o banheiro da casa.
Apenas uma luz fraca iluminou o ambiente.
Nos cantos, no encontro do forro com as paredes, teias de aranha enfeitavam tetricamente o cômodo. Não havia janela, somente aquela porta de entrada.
Todo o mobiliário resumia-se em um caixãozinho de frutas, daqueles de colocar maçã no Ceasa.
No chão, além de muito pó, maços de cigarros amassados, muitas pontas de cigarro, palitos de fósforos já queimados, jornais de dias, revistas velhas, um pedaço de carrinho de plástico e uma garrafa vazia de água mineral, o que me fez pensar que com certeza, eu não era o primeiro hóspede daqueles criminosos.
Saíram todos sem falar coisa alguma, fecharam a porta e trancaram-na por fora.
Fiquei só.
Olhei para o relógio e vi que faltavam dez minutos para as dez da manhã.
Ao meio dia e meia eu estava sentado no chão, encostado à parede, havia pendurado meu paletó em um prego, estava suado e faminto, quando um dos homens entrou no quarto. Estava sem disfarce algum, porém com dois revólveres na cintura.
A porta ficou entreaberta, mas alguns homens se encontravam no espaço contíguo conversando animadamente.
Meu anfitrião escorou-se na parede e disse serenamente: - doutor, o senhor foi trazido pra cá por mim e por meus amigos por uma questão de sobrevivência, esperamos que sua família seja compreensiva e lhe queira bem. O senhor vai escrever um bilhete para sua esposa dizendo a ela que não envolva a policia no caso, que tenha calma, que aguarde nossas instruções, pois à tardinha nós entraremos em contato com ela para iniciarmos as negociações.
Não somos muito exigentes, não podemos lhe oferecer conforto, mas se o senhor for paciente sua estada aqui não será das piores, agora se as coisas não saírem como queremos, sinto muito, não seremos nós que arcaremos com as conseqüências.
Naturalmente o doutor vai facilitar as coisas, pois o que não somos nem um pouco é pacientes.
Agora o doutor vai almoçar, descansar um pouco, pode até tomar banho que lá para as duas da tarde eu volto e o senhor escreve o bilhete.
Até mais tarde, doutor.
Saiu e pouco depois entrou outro homem nu da cintura pra cima, um revólver na cinta, uma marmita na mão e uma garrafa plástica de água mineral na outra.
Colocou a marmita e a água no chão e já ia saindo quando lhe perguntei pelo talher. Ele olhou-me de cima a baixo e disse com sarcasmo: - o doutor vai voltar a ser neném, vai comer com as mãos e saiu fechando a porta.
Eu sinceramente já estava apavorado.
Puxei a marmita para perto de mim, abri-a e não provei.
Aquelas alturas, feijão, arroz, macarrão e um bife, não desceriam nem que eu quisesse.
As horas passaram morosas.
Incrível como o tédio, a solidão e o medo fazem mal ao ser humano.
Mil coisas estavam passando pela minha cabeça e uma delas era fremente: eu ia falar grosso, ia fazer com que me obedecessem, afinal sou um empresário, um homem acostumado a mandar e ser obedecido, sou formado em psicologia, sou patrão, homem rico, admito e demito funcionários, lidero reuniões importantes.
Fiquei ansioso para que aparecesse alguém, queria logo por em pratica o meu plano e mostrar minha determinação.
Às três horas da tarde o homem apareceu novamente.
Eu estava em pé, já cansado e dolorido de ficar sentado, ele ficou junto à porta e falou: - pelo visto o doutor não quis almoçar. É uma pena, mas a comida pode melhorar e muito, tudo depende de como as coisas vão correr daqui pra frente.
Ficou a olhar-me, tomei coragem e resolvi falar:
- escute aqui, quero saber exatamente quais são os planos de vocês, o que estão pretendendo, quanto querem para me soltar e a que horas eu vou embora. Exijo que você responda logo, pois tenho certeza que a estas alturas dos acontecimentos a policia já se encontra no encalço de vocês e pelo visto, vocês não fazem idéia com quem estão lidando.
Ele sorriu com deboche, olhou-me, pigarreou, aproximou-se de mim e numa rapidez impressionante, levei um soco bem perto de minha têmpora, bati com a cabeça na parede e só não cai porque ela me segurou. Antes de me recompor, levei outro soco, desta vez no estomago. Ato contínuo sacou o revólver, apontou bem no meio do meu rosto, falando com uma ira insone: - escute aqui, doutorzinho, cale esta sua boca, apenas obedeça, nós damos as ordens nesta espelunca. O bilhete fica pra amanhã se você estiver mais calmo, a sua janta vai ser o que tem nesta marmita, a água, o doutor bebe da torneira e não banque o difícil porque minha paciência é mais curta que coice de porco. Não me custa nada quebrar esta sua cara nojenta, portanto comporte-se e da próxima vez saiba como falar comigo, senão sua família em breve receberá um presunto desfigurado, mesmo que pague o nosso preço.
Abriu a porta com violência, falou algo com um crioulo que estava de vigília e foi embora.
Sinceramente não tive ação para mais nada, reconheci imediatamente que eles não estavam pra brincadeira.
Tantos anos de psicologia!
Sentei-me no chão, fiquei segurando a cabeça que estava em tempo de explodir e massageei o galo que havia ficado, quando bati com a cabeça na parede. A dor no estômago era terrível e passei o resto do dia de vez em quando lavando a cabeça e massageando.
Anoiteceu e a barriga começou a roncar, achei que o melhor seria comer aquilo que estava na marmita, bebi água na torneira e fiquei andando dentro do quarto até cansar, como um animal enjaulado que vai de um canto a outro.
Às dez da noite, exausto e calorento pelo abafado do quarto, tomei um banho e resolvi me deitar, sabendo pela recepção da tarde, que seria inútil pedir pelo menos um colchonete. Limpei um canto do quarto, forrei com jornais velhos que estavam espalhados, dobrei o paletó para forrar a cabeça e deitei-me.
Não consegui pregar olho.
Cedo da manhã levantei, lavei a boca, tomei um precário banho e fiquei naquela situação incomoda de ociosidade e apreensão.
O tempo inteiro eu pensava na aflição de minha família, só podia era estarem desesperados, sem notícias e sem saber onde me procurar, o que me fazia sentir uma sensação de inutilidade, revolta, angústia, pavor e exaustão.
Às oito da manhã a aporta foi aberta. Por precaução fiquei afastado, quase no fundo do minúsculo quarto. Era o crioulo com um copo descartável cheio de café com leite e meio pão passado margarina. Colocou o pão sobre o copo, depositou no chão e fez menção de retirar-se. Como eu estava sem cigarros, perguntei se não podia mandar comprá-los pra mim. Ele perguntou a marca, pediu-me o dinheiro e desapareceu e por incrível que pareça pouco depois jogou dois maços de cigarro por debaixo da porta.  
Perto de uma hora da tarde chegou uma marmita quentinha e mais uma vez me alimentei. Durante a tarde fiquei deitado, lendo jornais velhos e pedaços de revistas.
Anoiteceu e ninguém apareceu, parece que haviam resolvido me matar pelo cansaço e ansiedade.
Comecei a ficar cada vez mais preocupado, pois o tempo ia passando e nenhum contato eu havia feito com a minha família e eu precisava vê-los, ouvi-los ou escrever algo.
Deitei-me novamente, decidindo optar pelas boas maneiras e o fiz batendo na porta, sendo prontamente atendido pelo crioulo.
Disse-lhe que chamasse o chefe que eu queria negociar.
O crioulo fechou a porta e saiu, mais tarde, deu-me um recado dizendo que o chefe viria depois.
A noite passou sem que o chefe aparecesse e pela manhã na hora do café perguntei ao meu garçom se ele ia me atender e ele respondeu que ele havia saído na noite anterior e não sabia informar a que horas retornaria.
Mais um dia se passou sem que o líder aparecesse, com a chegada de mais uma noite sem nada quebrar a rotina. Pedi ao criou para comprar mais cigarros e reforcei meu pedido que assim que o homem chegasse, não importaria a hora, eu precisava falar com ele.
Fiquei até muito tarde rolando no chão, matando pulgas e espantando baratas.
No dia seguinte o homem apareceu logo após meu almoço. Entrou no quarto sorrindo e sentou-se no chão próximo à porta, perguntando-me em tom gentil o que eu queria falar com ele.
Comecei moderadamente dizendo-lhe que se possível, queria ler o jornal do dia, entrar em contato com minha família, enfim, estava disposto a resolver logo aquela situação incômoda na qual eu estava inserido.
Depois de ouvir-me levantou-se, bateu na porta e foi atendido pelo bendito crioulo. Ordenou que trouxesse papel, caneta, comprasse um jornal, providenciasse um café, água mineral, um colchonete, papel higiênico, escova de dente.
O crioulo saiu apressado e ele dirigiu a palavra a mim: - está vendo doutor, é com diálogo que a gente se entende. O senhor manda lá na sua empresa, nas suas propriedades, na sua casa. Aqui mando eu. Se o senhor tivesse conversado comigo desta maneira naquele dia, aquele incidente desagradável não teria acontecido. Tudo pode ser evitado, é uma questão de bom senso. Eu sei que o senhor é um homem rico, mas não estou querendo a sua fortuna, apenas um pouco dela para que pague aos meus homens que me são fiéis e eu pessoalmente, possa desaparecer daqui para viver uma vida condigna sem fazer mais este tipo de trabalho sujo, entendeu?
Não se admire doutor, eu sei que o meu trabalho é sujo, é criminoso, perigoso e contra a Lei. O senhor há de convir que assim como o senhor, também tenho mulher e filhos e nem minha esposa sabe que estou metido nesta, ela acha que estou recuperado, mas preciso ajeitar minha vida e a oportunidade é esta.
A sociedade em si nunca me deu uma oportunidade para que eu fosse um cidadão de bem. Fui excluído desde quando morava na FEBEM e quando de lá fugi sem documentos, sem família, sem amigos e sem dinheiro, o mundo foi minha escola e o dia a dia minha obrigação maior para me manter de pé. Talvez até o senhor não acredite, mas este é meu último trabalho sujo, depois eu vou pra muito longe, pra fora do Brasil, levo minha família junto e ninguém vai por as mãos em mim.
Fomos interrompidos pela chegada do criou com as encomendas. O chefe segurou apenas o jornal e o restante foi colocado pertinho de mim. Tomamos café, acendemos cigarros e ele falou que íamos começar o bilhete, que ele ditaria o que eu iria escrever e que não acrescentasse nenhuma palavra a mais. Pedi-lhe o jornal, mas ele disse que só após o término do bilhete e mudando de tom acrescentou: o senhor vai escrever para sua esposa dizendo que ela prepare com urgência e sem desespero todas as nossas exigências. Que não coloque a polícia no caso, que aguarde nossos telefonemas para receber instruções e é só!
Peguei a caneta e escrevi: “Sara, tenha calma. Estou bem. Faça tudo que lhe ordenarem, espere telefonema, não envolva a polícia, cuide-se e tranqüilize nossos filhos. Um beijo e até breve. Teu, Yvaldo.
Entreguei-lhe o bilhete, ele leu, passou –me o jornal e saiu dizendo que mais tarde entraria em contato comigo para falar sobre as novidades.
Estirei o colchão no chão, bebi água, tomei café, acendi um cigarro e fui ler o jornal, procurando logo a página policial e como eu imaginava, a manchete era a maior e dizia em letras garrafais: “O CASO YVALDO BROSCOLLY”.
 A polícia ainda não tem pistas concretas dos seqüestradores que raptaram o milionário Yvaldo Medira Broscolly, dono da indústria de calçados Broscolly. A família desesperada aguarda com ansiedade um contato com os seqüestradores. A polícia já acredita na hipótese do empresário estar morto.
Li cada coluna do jornal, inclusive os classificados, estava com saudades de noticias frescas.
O resto do dia passou sem novidades.
À noite, a porta foi aberta com violência e o chefe entrou como um furacão no quarto olhou-me de cima a baixo e começou a bater freneticamente em todo o meu corpo. Pego de surpresa e vigiado da porta eu nada podia fazer alem de me encolher e tentar revidar. Acertei-lhe uns dois murros, resolvi vender caro a minha vida, mas o homem era um lutador nato e deu-me uns trinta socos, todos programados e com fúria homicida. Não custou muito, fiquei sem enxergar nada, o sangue empapou meu rosto, meus supercílios ficaram partidos, dois dentes quebrados e muito hematoma pelo corpo todo. Caí e ele saiu do quarto.
Jogaram-me água no rosto e levantei-me vagarosamente, parecia que um trem havia passado por cima de mim. O corpo todo doía e os encontros dos ossos estavam inflamados, dificultando a minha circulação. O pior é que eu não estava entendendo nada. Abri o registro do cano do chuveiro, tomei um banho, procurei me deitar e por incrível que pare4ça, dormi a noite inteira, não acordei nem pra jantar, também, eu não podia mastigar mesmo.
Acordei pela manhã mais dolorido que na noite anterior, a boca inchada, os olhos quase fechados e o corpo com a sensação de ter sido esmagado.
Tomei um banho matinal e fiquei esperando os acontecimentos.
Por volta de nove horas o criou entrou trazendo meu café e um novo jornal. Comi, acendi o cigarro e fui ler as manchetes do jornal.
Foi abrir na página policial para entender a fúria da noite anterior.
Polícia troca tiros com seqüestrador de milionário e continuava, um homem não identificado foi cercado pela polícia logo após haver entregue um bilhete escrito de próprio punho pelo empresário Yvaldo Broscolly. O elemento ao ver-se cercado reagiu contra os policiais e na troca de tiros o marginal caiu baleado tendo morte instantânea. O indivíduo que a policia acredita ser apenas o moleque de recados dos criminosos, usava peruca, bigodes e costeletas postiças, além de boné e óculos escuros. A policia espera que dentro de no máximo dois dias coloque as mãos nos delinqüentes.
Fiquei sem saber o que pensar, pois não tínhamos falado sobre dinheiro e no bilhete estava escrito que eles exigiam um milhão de reais por minha liberdade, um avião para fuga com data e local de entrega, ainda não determinados.
Nossa Senhora, um milhão de reais! Estes caras são loucos, pensei. Contei com a morte certa. Não tínhamos em aplicação tamanha soma, não assim de uma hora para outra sem que eu estivesse coordenando.
Era muita ousadia!
Foi ai que tomei consciência que não era tão rico quanto pensava, nem quanto eles pensavam.
Tomei uma resolução imediata, eu ia comandar do quartel general a transação comercial. Bati na porta e pedi ao meu carcereiro que chamasse o homem.
Almocei e nada do homem chegar.
Por volta de sete horas da noite ele chegou. Ficou em pé no portal e perguntou o que eu queria.
Comecei dizendo que sentia muito pela perda de um dos seus subordinados, mas para evitar mais derramamento de sangue, inclusive o meu, seria bom que nos entendêssemos ali mesmo, sem necessidade de intervenção policial, sem causar mais apreensões e desespero na minha família e acrescentei: - pra começar não tenho em fundo de caixa ou depósito bancário a quantia exigida por vocês. Para que eu não perca a vida, meus filhos fiquem na orfandade, minha mulher fique viúva e minha empresa vá à falência, posso levantar uma quantia vultosa através de empréstimos com amigos e sacando todo o dinheiro de que disponho para atingir o montante de R$ 700.000,00 (Setecentos Mil Reais).
Quanto ao avião, garanto que ele estará à disposição de vocês e os levará aonde determinarem.
Perguntei o que ele achava da oferta.
Ele simplesmente disse: - doutor eu estou com um irmão na gaveta da geladeira do IML, não estou acuado, não sou frouxo, tenho tutano e armas para enfrentar a polícia, mesmo que caia baleado como meu irmão, mas também não sou burro.
Amanha pela manha trago minha última proposta, definitiva e irrevogável, durma bem.
Nesta noite banqueteei-me! A janta veio num bandejão de papelão e de tudo tinha um pouco, inclusive refrigerante e até palito para dente.
Mesmo incomodado pela inflamação da boca comi tudo, bebi café, fumei e deitei-me.
Dormi como uma pedra.
Acordei sete e meias da manhã já com o crioulo dentro do quarto e meu café reforçado até com frutas.
O chefe chegou nove horas, vinha sorridente e até me pediu um cigarro. Sentou-se no chão bem próximo a mim e começou a falar.
- doutor, nós vamos sair agora e o senhor vai telefonar pra sua esposa, mandar que ela prepare a quantia que combinamos, nem um centavo a menos.
Nós vamos a mais de um lugar, quando o senhor telefonará. Quando o avião for providenciado o senhor embarca junto com a gente e nós o soltaremos onde houver facilidade de transporte para que o senhor volte para sua família.
O senhor não leve a mal, mas será novamente vendado e amarrado, pois não podemos correr riscos. Isto é tudo.
Fui vendado, amarrado e levado para fora. Senti o calor do sol no meu corpo me dando uma sensação morna e necessária. Colocaram-me no porta-malas e saímos. Rodamos por quase uma hora e paramos, momento em que fui retirado do carro e encaminhado para um local. Quando tiraram a venda de meus olhos, percebi que estávamos em uma sala escura, me pareceu ser de uma fábrica, com as cortinas baixadas, com muitas mesas, telefones e pelo silencio, parecia que ninguém estava trabalhando.
Foi quando me dei conta de que era um feriado.
O chefe pegou um telefone, discou o número da minha casa e quando atenderam passou para mim. Eu estava totalmente tenso, todas as minhas carnes tremiam e ao ouvir a voz de meu filho, enchi os olhos de lágrima.
Então falei: - Filhinho é o papai, como você está? Ele gritou de alegria e quase que no mesmo instante ouvi a voz de Sara aflita, nervosa, falando atropeladamente, quase histérica. Pedi que se acalmasse, que estava tudo bem, que ficasse atenta, me escutasse e providenciasse o que eu ia dizer. Ela falou que eu podia falar que ela ia anotar tudo para nada esquecer.
Então falei: Sara, mande seu irmão ao Banco sacar tudo que tiver, não deixe nada. Telefone agora para o Reinaldo e o Francis, chame-os aí em casa e diga-lhes que aguardem um novo telefonema daqui à uma hora, mais ou menos. Nós temos que levantar setecentos mil reais. Quando eu ligar novamente, acertaremos o resto das negociações. Um beijo nas crianças e outro em você tenha fé em Deus e até mais tarde.
Fui vendado, amarrado e colocado no porta-malas e mais uma vez partimos. Quando me retiraram senti a brisa e percebi que estávamos à beira-mar. Mais uma vez adentramos em um ambiente e quando me tiraram a venda comprovei que estávamos em uma casa de praia.
Passamos uns vinte minutos e novamente ligamos. Sara atendeu chorando e novamente pedi-lhe calma.  Perguntei como estavam as coisas e ela afirmou que juntando tudo, tinha a quantia exata de R$ 450.000,00 (Quatrocentos e Cinqüenta Mil Reais), coisa que me deixou esperançoso, perguntei então por Reinaldo e Francis e ela disse que eles já estavam na sala. Pedi que Rômulo me atendesse e que me escutasse. Meu amigo quero que entre você e Francis juntem R$ 250.000,00 (Duzentos e Cinqüenta Mil Reais) com a maior urgência possível que logo que eu retome meus negócios eu dou um jeito de pagá-los.
Ele confabulou um pouco com Francis e disse de pronto: Yvaldo, nós temos o dinheiro, diga onde e a que horas. Respondi que passasse para Sara e ela sorrindo e chorando ao mesmo tempo, dando graças a Deus, perguntou-me o que queriam mais de nós. Tranqüilizei-a dizendo que tudo estava bem e a uma ordem do chefe, falei que ligaria uma hora depois, tempo em que meus amigos pegariam o dinheiro no banco.
Desta vez não saímos de casa, ficamos nas poltronas, fumando. Eu estava livre de amarras e vendas, mas muito bem vigiado, pois fora o líder, os três homens que nos acompanhava, cada um possuía dois revólveres bem à vista.
Levantei-me e ninguém pôs obstáculo, fui à janela e olhei o mar, nunca ele esteve tão lindo. No jardim da casa havia um carro parado e dois homens armados olhavam em todas as direções. Perguntei por meu carro o chefe disse que ele estava seguro com um amigo que logo após o desenrolar dos acontecimentos, deixaria duas quadras de distancia da minha casa.
Quarenta minutos depois, novo telefonema e Sara atendeu, quando perguntei pelo dinheiro e ela respondeu que já estava tudo pronto em uma valise. Pedi um tempo e passei o para o chefe o que tinha ouvido. Ele falou: - diga pra sua mulher que arranje o avião e quanto mais rápido, melhor. Nós vamos decolar deste lugar e mostrou-me um mapa. Olhei o mapa e pedi a Sara para falar com Reinaldo que é sócio de uma empresa de táxi aéreo e que eu o havia escolhido também com este propósito.
Pedi que Reinaldo arranjasse um dos aviões, que ele mesmo viesse pilotando, que fizesse o possível para não chamar atenção, pois disto dependia a minha vida e que ele trouxesse o dinheiro. Falei-lhe a rota, ele confirmou minhas palavras, disse-lhe um “até breve” e desliguei.
Vendaram-me e amarraram-me pela última vez, colocaram-me no porta-malas e saímos novamente. Rodamos pouco mais de trinta minutos, me retiraram do carro e tiraram a venda de meus olhos. Estávamos em um local ermo, onde a vegetação era rasteira e espaçadamente algumas árvores se sobressaíam como para dar cobertura e abrigo a quem precisasse se livrar do sol escaldante.
Não demorou muito, o avião apareceu no ar, fazendo círculos como a nos procurar, quando dois homens foram para o descampado e fizeram sinalizações com os bonés. O avião foi direcionado para a reta da estrada e desceu suavemente parando a uns trezentos metros do local em que a gente estava. Por precaução, todos os revólveres estavam nas mãos e apontando para pontos diferentes do meu corpo. Até que a porta do avião foi aberta e Reinaldo desceu com a valise na mão. O chefe mandou que me vigiassem e foi ao encontro de Reinaldo, com óculos escuros, boné, barba e cabelo postiços. Reinaldo abriu a pasta, mostrou o que continha e fechou-a novamente. O homem então pegou a valise, seguiu em busca do avião, mandou que Reinaldo ficasse parado, abriu a porta da aeronave, examinou tudo por dentro, depois falou que viéssemos todos. O próprio chefe assumiu a condição de piloto, fazendo o avião deslizar e levantar vôo.
Reinaldo não disse uma palavra, estava simplesmente apavorado e eu peguei em seu ombro e lhe disse quase em murmúrio um “Deus lhe pague”!
Ao cabo de trinta minutos de vôo, o avião foi aterrissado em uma clareira e o chefe disse que pra nós a viagem havia terminado, podíamos descer.
Quando descemos o chefe ainda falou: - doutor desculpe os maus tratos, o incômodo das dormidas, a comida intragável e o meu nervosismo. Obrigado por tudo.
O avião posse novamente em marcha, começou a tomar distancia, levantou vôo e com pouco tempo desapareceu no infinito.
Aí não deu mais pra segurar, eu chorava e sorria, abraçava-me com Reinaldo, dizia coisas desconexas, falava alto, abria os braços, enfim a alegria me contagiou por uns cinco minutos, não sentia meus machucados, nada doía agora, sem falar que eu estava fedendo, com a mesma roupa que havia saído de casa.
Quando me acalmei, Reinaldo falou que era bom nos apressarmos e começarmos a andar seguindo aquela estrada onde o avião aterrissou e pegarmos um transporte para irmos pra casa.
Não andamos mais que dez minutos, a estrada bifurcava com um asfalto e ao cabo de meia hora pegamos uma carona em uma caminhonete que nos deixou na cidade.
Quando descemos no centro, muitas pessoas olhavam pra gente, algumas até me reconhecendo, outras admiradas pelo estado lamentável, tanto pelo vestuário como pelos hematomas que ainda eram nítidos.
Pegamos um táxi e por volta de três e meia da tarde chegamos em minha casa.
O coração acelerou quando vi meu portão.
Apertei a campainha e a empregada veio atender, começando logo a chorar. Abri a porta e Sara ao ver-me veio tropeçando em direção aos meus braços.
Meus filhos fizeram uma festa para comigo.
Reinaldo sempre bom caráter, disse que iria buscar meu carro e depois iria pra casa, que nos veríamos no dia seguinte.
As crianças se acalmaram e Sara conduziu-me suavemente em direção ao nosso quarto. Tomei um reconfortante banho quente, vesti um pijama, me perfumei, almocei na cama e deitei-me na maciez do meu colchão com minha mulher ao meu lado.
Peguei no sono.
Acordei por volta de sete da noite, vesti-me para ir ao médico juntamente com minha esposa. Não deu certo. Meu portão estava cheio de repórteres, jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas e até um carro da polícia. Tive que falar ali mesmo, não respeitaram nem meu cansaço e aparência física.
Assim que terminei de dar entrevista, um policial solicitou meu comparecimento à delegacia para prestar depoimento e tentar reconhecer meus seqüestradores pelos álbuns da polícia.
Graças a Deus estou quase recuperado de tudo o que me aconteceu, é lógico que o trauma fica para o resto da vida, mas as coisas vão se acomodando e a rotina tende a voltar ao normal.
Já prestei depoimentos, retomei meus negócios, estou em paz com minha família, o empréstimo que fiz deu para pagar aos meus amigos, o avião de Reinaldo foi localizado, estou curado externamente dos hematomas, tratei de minha arcada dentária, enfim começa a ficar apenas a triste lembrança do episódio funesto do qual fui vítima e que abalou minha rotina de homem forte e rico.
Quero, porém deixar de público a minha gratidão a DEUS que me deu força e serenidade para ultrapassar a tudo sem em nenhum momento me desesperar. E se por acaso isto foi um a provação, confio Nele, pois com isto aprendi a me colocar no lugar certo, como empresário, como homem, como cidadão e como pai de família.
Aí me perguntam sempre se eu acredito que os seqüestradores vão ser pegues. Neste aspecto fico me questionando. Será que vão prendê-los?
A policia prende e a justiça solta, por causa das brechas da Lei que sempre dão margens de alegações para os advogados.
Acho que a Lei que rege este país é que de há muito deveria ter sido mudada.
Nossas penitenciárias estão superlotadas, as casas para menores delinqüentes estão cheias e a violência continua aí em nossos portões, nossas casas, colégios, pontos de ônibus, bancos, bares, campos de futebol, praia e até nas igrejas.
É difícil entender como um bandido como o Fernandinho Beira Mar comanda um tráfico de drogas internacional e manda ceifar vidas, mesmo trancafiado em uma cela. Um Celsinho que extrapola prepotência perante as câmeras, se autodenomina bandido como se isto fosse a coisa mais simples do mundo, um Elias Maluco que tortura, esquarteja, mata e queima seres humanos como se estivesse em um churrasco à beira de uma piscina.
Estupradores como o maníaco do parque, igualmente perverso como também este seu colega de Guarulhos, o estuprador da cicatriz (o verdadeiro fantasminha) que além de torturar, estupra, quebra braços, pernas e ainda estrangula mulheres indefesas.
Os pedófilos que dia a dia são denunciados.
O colarinho branco com suas corrupções e favores políticos são também criminosos de índole e alma negras.
O crime organizado crescendo assustadoramente, pois o PCC até estatuto tem, não é um absurdo?
E o que acontece?
Como e onde a sociedade pode buscar proteção?
Cada dia que a gente acorda agradece a Deus por estar vivo e pede para continuar no dia que se inicia.
É triste, não?
Não tenho por hipótese nenhuma a sensação de ódio, afinal de contas não aconteceu apenas comigo, mas é doloroso você se sentir impotente, tendo Leis que poderiam ser mudadas e que por falta de vontade política ficam engavetadas, ficando claro que ninguém está interessado em dar proteção aos cidadãos desta Nação, que pagam impostos, trabalham, são honestos e produzem.
Eu tenho um pensamento que acho muito certo: o seqüestro no sudeste e a seca no nordeste são comércios produtivos que vergonhosamente interessam a muita gente que realmente lucra e despreza o povo deste País.
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
O EQUÍVOCO

Se naquela tarde tivéssemos ido para Goiás, muita coisa de trágica não nos teria acontecido.
Logo após o almoço, papai como costumeiramente fazia foi para a varanda, meditar em sua cadeira de balanço sobre suas dívidas caseiras que mensalmente tinha de saldar.
Eu regularmente deitava em meu quarto e de lá só saía para fazer recados da mamãe (e como tinha recados!).
O pior é que somos cinco irmãos, três homens e duas mulheres, mas ela só escolhe a mim para suas inúmeras e pequenas compras no armazém.
Eram exatamente 13h e 15m, quando ouvi papai dizer asperamente: - Vocês estão enganados!
Sem mais esperar palavras, corri à varanda para ver o que estava se passando. Pelo aspecto dos personagens, fiquei logo gelado. Exatamente no segundo batente dos degraus de nossa porta, dois policiais tentavam dialogar com papai e a primeira coisa que notei em um dos militares é que estava com um papel na mão.
Aproximei-me o máximo possível e pude ler no cabeçalho, as palavras: Intimação Policial!
Eu podia ser pequeno, mas meu cérebro vertiginosamente descobriu que papai estava prestes a ser preso.
Neste instante chega mamãe, pálida como uma folha de papel e atrás dela vinha meu irmão mais velho.
Imediatamente mamãe mandou-nos entrar e irmos para o quarto. Desobedecia-a, como qualquer garoto de minha idade eu era curioso e só entrei quando mamãe deu-me uma bolachada gritando: você não me ouviu, pirralho?
Corri chorando, tranquei-me no quarto e fiquei observando da janela.
Após dez minutos que me pareceram uma eternidade, vi papai passar acompanhado dos policiais e embora um pouco distante quando olhou pra trás, o sol refletiu em seu rosto umas lágrimas, coisa que nunca havia visto em meu pai (homem não chora, não é mesmo?).
Fiquei com o coração apertado no peito e corri à sala. Minha mãe já estava no sofá rodeada por meus quatro irmãos, todos nós curiosos para que ela nos dissesse o porquê de tudo aquilo.
Embora tenha ela se arrependido, nos foi franca: - meus filhinhos, o papai foi intimado à delegacia para prestar alguns esclarecimentos sobre o roubo que houve ao banco ontem à noite.
Ficamos petrificados, as meninas começaram com seus choros histéricos, que nos deixava ainda mais nervosos.
Fiquei com o coração do tamanho de uma azeitona, mas o que podíamos fazer? Tínhamos que esperar pela justiça de Deus.
A declaração inesperada não me saía da cabeça, papai não ia dar nenhuma declaração, ia ser preso, algo me dizia que ia ser assim.
Porém era impossível ter sido o meu pai, pois ele era o mais velho e bem conceituado funcionário do banco, não, aquilo era mentira e maldade dos homens que o levaram.
Às 18h, não ouvi o carro de papai apitar para que fosse abrir o portão. Este detalhe me deixou de sobreaviso, papai não viria para casa esta noite.
Outros dias então foram chegando sem que papai viesse para casa, estávamos ansiosos e desesperados por seu retorno, perguntávamos, mas mamãe não nos dava resposta concreta.
Assim se passaram muitos e muitos dias de angústia e suspense.
Percebi que mamãe estava saindo todos os fins de semana e no interior de sua bolsa, levava cigarros, lanche, roupas, meias, lenços e não dizia para quem.
Ela não podia estar dando as coisas de papai, devia era guardá-las, isso sim.
Em um sábado que ela estava se preparando para sair com as coisas de sempre, escondi-me no porta-malas do carro, fiquei segurando a tampa para que não fechasse, mas também que ela não notasse e ali fiquei esperançoso que ela me levasse ao lugar proibido e desconhecido por mim.
Não demorou muito, ouvi quando ela entrou no carro e deu a partida.
Deliciei-me com a viagem clandestina, pois naquele momento senti-me um mini-detetive.
Rodamos por quase uma hora até pararmos. Esperei que ela desembarcasse e saí de meu esconderijo.
Estávamos em frente a um prédio de paredes altas, que pra minha ingenuidade, aquilo bem poderia ser um hotel, um estacionamento ou até um local de encontros amorosos, porém quando olhei acima do portão gradeado que havia em frente, li o que jamais saiu de minha imaginação: Casa de Detenção – Penitenciária de São Paulo.
A fatalidade me apavorou, corri para minha mãe que ao ver-me mostrou-se irritada, surpresa e ao que me pareceu no momento, com vergonha de mim.
Ali ela não podia negar e perguntei-lhe entre soluços: é aqui que papai está, não é?
Ela me respondeu engasgada com as lágrimas: - é meu filho, é aqui que papai está, mas logo ele voltará para casa. Ficamos os dois chorando abraçados, como querendo remediar a trágica situação em que nos encontrávamos e lemos em nossos olhos uma súplica de perdão por nossas ações.
Caminhamos para uma fila enorme para entrarmos e quando chegou nossa vez, mexeram até em meus bolsos (hoje sei por que).
Um soldado nos encaminhou por um corredor de paredes gélidas e ao ultrapassarmos vários portões idênticos ao da entrada, deparamo-nos com uma espécie de arena romana ou pátio.
E ali estavam eles, os homens maus que destroem a sociedade ou como papai, são destruídos por ela. Estavam todos vestidos com aquele traje esquisito, de calça, camisa e bonés listrados.
Passamos por vários destes homens sem despertarmos curiosidade, apenas olhavam se era alguém da família pára uma visita de rotina.
De repente, ei-lo!
Eis meu pai, mas que transformação, já não é o mesmo papai tranqüilo em sua cadeira de balanço, acariciando meus cabelos, pedindo seu chinelo ou apitando para que eu fosse abrir o portão, ali estava um homem que de relance, nada tinha de meu.
Estava completamente deformado com o cabelo cortado muito curto, chinelo sujo, barba de vários dias, magro e pálido e a pele bem mais clara.
E suas mãos, meu Deus!
Não são mais as mesmas que me acariciavam, batiam à maquina ou assinava um cheque. Suas mãos estavam calosas e ásperas, dedos enrijecidos, crispados e seu rosto enrugado.
Porém embora com tamanha mudança, aquele era meu pai e mesmo maltrapilho e sujo, corri e atirei-me em seus braços, cobrindo o seu rosto de beijos e lágrimas no que era correspondido.
Senti que ele queria falar algo, mas assim como eu, o nó que havia na garganta não deixava e assim ficamos abraçados, pois naquele momento não havia necessidade de palavras.
Ninguém prestava atenção em nós, por isso podíamos rir, chorar, gritar que ali, no momento só nos importava nossos sentimentos.
Papai conseguiu falar entre lágrimas: - meu filho, tudo que está acontecendo é um grande equívoco que logo, logo vai terminar, eu prometo e confio em Deus.
Diante de suas afirmações, senti-me superior a tudo e a todos, pois a serenidade e a dignidade de meu pai ainda perduravam.
Perante Deus e o mundo meu pai era inocente, somente a lei dos homens não reconhecia.
Terminada a visita, despedimo-nos de papai e prometemos voltar no sábado seguinte, conforme norma da penitenciária.
Mas graças a Deus não houve mais necessidade de voltarmos.
Quinta-feira, anti-véspera de nossa visita, um detetive amigo de meu pai descobriu que o autor do roubo ao banco, havia sido o próprio gerente que havia roubado os documentos de papai deixando-os na porta do cofre forte para implicá-lo em semelhante ato.
No sábado, papai ficou livre daquele local execrável.
Hoje é domingo, papai está curtindo umas férias merecidas, se recuperando do trauma e mamãe nos disse que ele amanhã vai retornar ao trabalho e será promovido a gerente.
Eu estou no meu quarto, ou melhor, estava já vou para o armazém comprar não sei o quê.
Desta vez, porém com a alegria e a satisfação que me completam, com a tranqüilidade que reina em casa, ir ao armazém é coisa que farei com o maior prazer.
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                 
  OS FILHOS DA SECA

O homem colocou o matolão em cima do lajedo, desafivelou a cabaça, sentou sob a sombra do juazeiro, única árvore verde naquelas paragens e esperou paciente que a mulher chegasse com o filho.
Enquanto tirava o sabugo úmido e enrolado com tira de couro da boca da cabaça, olhou para o horizonte quer sem limite, mostrava-lhe uma paisagem agreste, secura total com árvores baixas e ralas e apenas garranchos sob sol escaldante.
Ainda tinham que andar muito, pois os retirantes aos quais iam se juntar encontravam-se há seis léguas de distancia. Era chão pra mais de dia, mas isso não importava, pois tinha pressa de chegar e varariam a noite se a mulher e o filho agüentassem.
A mulher chega junto com o filho, arreia o saco próximo ao matolão. Já estava cansada, o pescoço doendo do peso na cabeça, pois desde a madrugada que andavam sem parada. Os pés rachados prometiam abrir as feridas e a chinela de sola era incomoda devido à correia que passava entre os dedos.
O marido vira a cabaça na boca, sacia a sede e passa-a para a mulher que joga a masca de fumo no chão e serve-se da água. Pela altura do sol, são mais ou menos dez horas e o sol já queima como brasa.
A criança pede água e reclama que está com fome.
O homem levanta-se vai até o matolão, abre-o e retira um saco de pano amarrado na boca, desamarra-o, pega uns pedaços de rapadura, coloca-os em cima da pedra e deixa o saco no chão para que se sirvam da farinha. Alguns pedaços da rapadura e uns punhados de farinha são suficientes, pois tem que economizar, porque não existe comércio naqueles locais ermos.
Mesmo porque, não é pra encher a barriga, é apenas para dar sustança e ânimo para agüentarem mais umas léguas.
Novamente saciam a sede, guarda o saco de alimentos, tampa a cabaça, retira do bolso traseiro da calça um pedaço de fumo de rolo e começa a picá-lo com a faca de cinta. Enquanto faz o cigarro na mão, a mulher retira um pedaço da casca do fumo e coloca-o na boca.
O pequeno observa com seus olhos tristes, uma loca de pedra onde imagina ter algum preá e sabe que caçando-o variará a alimentação de todos.
O homem acende o cigarro, puxa o matolão e deita-se, forrando com este a cabeça. A mulher fica sentada, encosta-se no tronco da árvore e começa a enrolar nas mãos um resto de lençol de saco, que será a rodilha para forrar a cabeça e amainar o peso das tralhas que carrega durante o longo trajeto.
Um pano de prato que leva ao ombro serve de toalha para enxugar o suor que teima em penetrar-lhe nos olhos. O menino retira-se e vai em busca de alguma caça.
O silencio é quebrado apenas pelo canto insistente da cigarra que prenuncia que prenuncia a aproximação de tarde quente, o que pra eles, não é mais nenhuma novidade.
Vez por outra um urubu aparece no ar farejando alguma carniça.
Enquanto a criança não volta, o homem fica rememorando sua vida até aquela data. É um caboclo grosseiro, analfabeto, muito ignorante, mas muito humilde. Sabe fazer de tudo no sertão, até consertar sela, coisa que aprendeu com mestre Vicente Fernandes, senhor que já fora um dos melhores vaqueiros de Quixeramobim, afamado pelas montarias em bicho brabo e na derrubada de rês.
Quixeramobim, cidade em que ele andou duas vezes, uma quando foi buscar o gado do seu Chico Cardoso, homem de muito recurso, seu patrão que possuía uma fazenda lá em Paus Branco. Que saudade!
Aquele era um tempo bom, pois além de vaqueiro ele ia de quinze em quinze dias, buscar mercadoria numa tropa de animais lá em Vicente de Castro, na estação do trem, para suprir a mercearia de seu Chico Cardoso.
Outra vez que foi a Quixeramobim é quando foi comprar as alianças pra casar e de uma vez pra outra, notou que a cidade estava mais bonita, tinha mais casas, entrou até na Igreja de Santo Antonio, a Matriz, conheceu a ponte da estrada de ferro que atravessa o rio.
Só estas duas vezes tinha visto gente da cidade aos montes, pois ele era bicho brabo e não falou com ninguém, pois em meio a gente estranha, baixava a cabeça, puxava o chapéu para os olhos, tinha receio e acanhamento de dirigir a palavra às pessoas desconhecidas.
Depois que Chico Cardoso morreu, morou ainda uns tempos na terra agora comandada pela viúva, D. Quintina, mas precisou sair, mudar de rumo, procurar novas paragens e novos patrões.
Sabia que era um bom vaqueiro, porque o bicho podia até ser enfeitiçado, mas ele ia buscar e trazia mascarado pra dentro do curral. Era até admirado por outros vaqueiros que diziam que ele tinha mandinga mais forte que o feitiço do bicho.
Passou muita necessidade na vida e quase sempre não capinava. A mulher era que se dispunha e depois que aprontava o feijão do almoço, ia limpar umas carreiras de mato.
A vida toda viveu escanchado em cavalos, conhece e entende os bichos que por mais bravios que sejam, amansam em suas mãos  e passam a respeitar seu chicote e suas esporas.
Sabe que em Paus Branco, Tanquinho, Serra D’Água, Madeira, Doze, Serrote da Onça, Oiticica e Salva Vidas, seu nome é lembrado sempre como homem de coragem, bom vaqueiro e ótimo curador de bicheiras.
Morou uns anos em Lacerda, mas precisamente nas terras do Doutor Vicente Gaspar, na fazenda Marajó, homem bom. Morou também nas terras do seu Sabino Saraiva, homem de idade, proprietário da fazenda Madeira, mas teve que sair pela saudade do gado, porque lá era apenas criação de bicho pequeno.
Já percorreu as redondezas todas, morou em muitas fazendas, tem a mania de mudar. No íntimo ele sabe que o que quer mesmo é ficar conhecido em todos os lugares, respeitado como homem e afamado como vaqueiro.
A seca pensa ele, não é a maior inimiga apenas do agricultor, pois é pior ainda para o vaqueiro que perde seu trabalho devido à venda e mortandade de reses.
Há dois dias que anda com a família e isto o faz lembrar-se dos filhos que perdeu na miséria da vida. Eram cinco, faz apenas dez dias que morreu o quarto menino, já começa a se acostumar com a morte, ela sempre o esteve rondando.
O primeiro filho morreu estava com três anos e era viciado em comer terra, faleceu bem magrinho e com a barriga muito grande, amarelo como uma flor de algodão. Um ano depois, o mais velho chamado Pedro, caiu de uma cerca ao tentar tirar maracujás, bateu com a espinha em um toco e sete dias depois estava morto.
Seis meses depois, o segundo filho teve uma febre alta, acha que comeu alguma coisa envenenada, ele até tentou curar a criança com rezas, raízes e gororoba do mato, mas o menino não passou de um dia.
O filho do meio, ele não achou explicação até hoje, pois o menino só disse que estava com muita dor na nuca e nos ossos, uma febre muito alta, gritava de dor, morreu sem mazela, o corpinho todo são, mas só agüentou três dias doente.
Só resta esse que anda com eles. O menino vive muito arredio, triste, além da falta dos outros, está também muito fraco, pálido e o diabo dessa seca é impiedosa, mata bicho e gente grande, quanto mais uma criança.
Acaba de fumar, joga o toco do cigarro e levanta-se dando a entender que vão partir novamente. A mulher grita pelo menino que está descendo o lajedo trazendo alguma coisa na mão. É um preá e uma cobra de mais ou menos um metro de comprimento, abatidos a pedra e pau.
O homem pega a serpente e o preá já mortos, coloca-os em cima da pedra, tira a faca da cinta e corta um palmo do corpo da serpente da cabeça para o rabo e começa a tirar o couro. Terão à tardinha, carne assada, pois está garantido o jantar de todos.
Termina, guarda tudo no embornal, lava as mãos com água da cabaça, enxuga-as no fundilho das calças e passa a mão na cabeça do filho como presente pela caça.
Começa a arrumar-se para reiniciar a marcha, amarra a cabaça à cinta, embainha a faca, coloca o saco de tralhas na cabeça da mulher e suspende seu matolão falando: - vam’bora!
Afastam-se. O sol como já prenunciava está escaldante. As chinelas com seus ruídos característicos vão deixando para trás a poeira fina e quente da terra seca. De um lado e outro do caminho, de verde só o valoroso mandacaru, como a desafiar o tempo, fazendo-os lembrar da cor tão conhecida e querida do sertão.
Ele vai à frente como um destemido bandeirante, enfrentando de peito a caminhada cansativa, em busca de um futuro incerto. Andam silenciosamente, trocando apenas alguns monossílabos, diálogo corriqueiro já muito entendido por ambos.
Nuvens brancas rajadas de cinza no céu predominam em todo o firmamento.
Ele olha para cima e pela posição do sol diz que são quatro e meia e é necessária nova parada, pois o menino já mostra alto estado de exaustão, demonstrando isso pelo atraso.
Avistam à frente uma casa e se direcionam imediatamente para lá. Pedirão pousada por algumas horas, apenas o tempo suficiente para o filho descansar e poder retornar a caminhada. Aproximam-se e notam que a casa é apenas uma ruína de tapera que mantém intacta somente a parede da frente, pois o que foram os compartimentos contíguos, são apenas amontoados de tijolos, varas e telhas quebradas.
Onde era o quintal, porém, tem um pé de juazeiro grande e frondoso com uma sombra amiga e acolhedora. A mulher, depois de arriar os trastes, começa a juntar gravetos para fazer o fogo, enquanto o homem limpa o local aonde vão se instalar para a janta e uma sesta.
O pequeno deita-se próximo ao pai e pouco depois já dorme mesmo com a barriga roncando.
O jantar está realmente diferente, aquela cobra veio a calhar, pois vai dar carne para fartar os três e revigorará as forças para nova caminhada.
Parecia ter visto sinal de arvores verdes mais para baixo. Bem pode ser um rio seco que cavando, haja condição de abrir uma cacimba para encher a cabaça e se lavarem. Levanta-se e dirige-se para lá, não esquecendo a cabaça e a faca da bainha. No local comprova que pode abrir uma cacimba, não é um rio, mas no inverno aquele local é uma beleza para morar e plantar as margens daquele riacho. Sorte sua que não precisa cavar muito. Espera a água sentar, enche a cabaça, bebe um pouco, comprova que é salobra não dando a menor importância ao fato. Resolve tomar um banho, esquecera a cuia, mas o chapéu de couro faz o efeito desejado.
Recolhe a cabaça e retorna ao acampamento onde a mulher já o espera com a comida já pronta e inicia o jantar. O filho come avidamente e à medida que se alimenta a cor do rosto vai voltando ao normal.
O homem sorri e incita o filho para depois do descanso irem à cacimba se lavar e apanhar mais água. A mulher diz que também irá, pois precisa tomar um banho para tirar o cansaço.
Depois do jantar dormem um pouco e à noitinha, após o banho reiniciam a marcha aproveitando a ausência do sol e a frieza da noite. Aliás a noite é uma boa companheira e a lua bela, arredondada e prateada convida a andarem mais e mais aproximando-os do local de encontro.
Em meio à madrugada chegam ao destino.
Várias pessoas já se encontram acampadas com suas famílias. Pela manha, todos embarcarão em caminhões pau-de-arara e irão embora com trabalho garantido no corte de cana, apanha de café e manuseio do gado, lá no Triangulo Mineiro.
Misturam-se.
Aparece uma viola e alguém começa a dedilhar, solando uma melodia bastante conhecida de todos: A triste partida.
Acomodam-se em um lugar e enquanto a mulher prepara a comida, o homem mistura-se aos demais, desinibido, pois está junto de gente simples e sofredora iguais a ele, que começam a conversar sobre assuntos relacionados a aventuras dentro mato, gado, cavalos, seca, fome, necessidade, ordenha e derrubada de rês. A cachaça rola de mão em mão, o fumo me picado, cigarros são acesos, as toadas repetidas, meninos que correm, outros que choram, redes são armadas sob árvores, fogueiras que crepitam, vozes altas, gente que dorme, gente que acorda, gente que deita.
Sete horas da manhã os caminhões começam a chegar.
Para cada caminhão é feita uma lista de famílias com seus nomes, profissões, pais, filhos e com ordens de levar apenas o necessário para que caiba mais gente e carregue o mínimo de bagagem.
São dezenas de famílias que estão partindo para longe de suas terras que por décadas foram seus berços e que verão seus filhos partirem depois de tê-los visto nascer, crescer e sofrer por elas.
O ambiente não chega a ser eufórico, pelo contrário, é melancólico, taciturno e constrangedor. Mulheres choram, homens fazem-se sérios pensando em desistência. Alegria reinante e despreocupada é apenas das crianças que fazem balbúrdia, felizes e ansiosas para realizarem a desejada viagem de carro.
É hora da partida, acomodam-se em toscas tabuas que lhes servirão de bancos desconfortáveis, duros e cansativos por mais de cinco dias.
Os carros começam a sair uma a um, numa fila tétrica, imitando um funeral.
Aquelas famílias com lágrimas nos olhos e tristeza nos corações relanceiam os olhos na paisagem agreste, seca, calamitosa, mas tão querida, numa saudade precoce de uma paragem distante.
Desaparecem nas estradas carroçáveis, foram com promessas mil para lugares desconhecidos e longínquos, na certeza de uma ida sem retorno.
Assim vão .......... OS FILHOS DA SECA!
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                                      
                                           EFEITO SEVERINO

Na realidade, o povo brasileiro, principalmente os menos favorecidos pela sorte, tem cara de palhaço de circo mambembe e sempre será pisoteado e massacrado pela pequena, mas massacradora classe de políticos que em inúmeras oportunidades até esquecem-se de suas próprias origens e modo de vida de seus compatriotas.
A cada dia, surgem no cenário político brasileiro, personagens que parecem saírem de filmes de ficção, daqueles aterradores e destruidores de nações.
Não bastasse sermos um País de terceiro mundo, ociosos por trabalho, saúde, educação, lazer, segurança, terra para trabalhar, o sonho de uma casa própria, onde todos estes itens viraram pesadelo e rotina do brasileiro, nos chega agora, o senhor SEVERINO, eleito que foi para a Câmara dos Deputados, trazendo em sua cabeça mirabolante, idéias estapafúrdias e acintosas, nocivas e cruéis, mas proveitosas a todo um séquito que numa demonstração clara e de desrespeito ao trabalhador, ao homem de bem, o desejo louco de engordar suas já recheadas carteiras de cédulas e contas bancárias.
Não há como negar que o povo brasileiro não sabe escolher seus representantes.
Eleito presidente da Câmara, o deputado Severino Cavalcante, ameaça cumprir sua mais abjeta proposta de aumentar os salários dos deputados, de maneira vil e inescrupulosa.
Pobres mortais, nós, o povo, assalariados e obrigados a cumprir com pelo menos quarenta e quatro horas semanais, ficamos num esforço generalizado, numa corrente de união, com torcida organizada, fazendo promessas a todos os santos, para que estes mesmos políticos aprovassem um acréscimo de R$40,00 no salário mínimo, onde àquele plenário conflitante dos pós e dos contras, enveredava pela discórdia, alegando grande impacto que esta fortuna ia causar no orçamento da União.
Não se sabe ainda se vigorará, mas o aumento do salário mínimo, como está proposto, não chega a 15%.
Descontando o INSS, a cesta básica e o transporte, não havendo aumentos até lá, dos R$ 300,00, o brasileiro que está empregado, naturalmente, terá como sobra de salário, R$ 8,00 (oito reais), que é lógico, não são dele, pois terá que pagar água, luz, gás, aluguel, fardamentos escolares, livros, cadernos, feira e pelo menos, meio frango assado no final de semana, não é verdade?
E isto o povo não pode reclamar, porque são inúmeros os severinos eleitos, por nós mesmos, por sermos ignorantes, pacíficos e crédulos.
Comparando o salário de R$300,00 que ainda nem está em vigor, os deputados ganham R$12.847,00, ou seja, mais de 42 salários mínimos, mais de um por dia, e em comparação ao salário atual de R$260,00, ganham quase 50 salários.
O rombo que vai causar um efeito dominó na União, Estados e Municípios, pois todos, sem exceção vão querer participar desta orgia desmedida do dinheiro público, pode chegar a R$ 1.400.000.000,00, é isto mesmo, com todos estes zeros (um bilhão e quatrocentos milhões de reais)
O pior desta história é que não podemos chamá-los de loucos, pois loucos foram os mentecaptos que puseram esta aberração na Constituição.
E pasmem! Ainda irão aumentar as verbas de gabinete que passarão dos R$35.970,00 para os singelos R$48.000,00 e os modestos salários atuais pularão de R$12.847,00, para R$21.500,00, apenas 67% de aumento, que irão corresponder seus percentuais a pouco mais de 71 salários mínimos, não é uma beleza?
Como não há obrigatoriedade de se fazerem presentes em plenário quando há trabalho, é bom saber que os exaustos deputados, recebem 15 salários/ano, podendo assim aumentar um pouco mais seus ganhos, advindo da famigerada “convocação extraordinária”, que por vez, rende mais que o ganho de um trabalhador assalariado, trabalhando mais de seis anos.
Como a corrupção neste país é uma constante, alegam que os parlamentares ganhando bem (como se ganhassem mal), tornam-se mais difícil ser corrompido.
Eu, duvi-d-o-dó!
Quanto mais tem, mais quer! Se assim fosse, não estariam com esta proposta descabida ao povo brasileiro.
Para se ter uma idéia, a seca se faz presente em muitos estados, com centenas de municípios em calamidade pública, assim como as enchentes levando tudo que encontram pela frente, principalmente, açudes, barragens, pontes, viadutos e vidas. A fome ainda impera em trinta e oito milhões de irmãos nossos, mas eles, os políticos, estão preocupados é tão somente com o próprio bem estar, com seus conchavos, propinas e salários que engordam suas contas bancárias e os fazem poderosos.
Matéria publicada no jornal Diário de Penápolis - 03/03/2005
Matéria publicada no jornal Correio de Lins (SP) - 09/03/2005
O resto, o povão, que se dane!
Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   
                                                     
CURRÍCULO LITERÁRIO:
1988 – 1º e 2º lugares : poesias “ Eu fiz o Brasil e A Raça da Raça”-Fund. Educar
1993 – 3º lugar em concurso – Poesia “ Fazenda Velha ”
1996 – 2º lugar em concurso – Poesia “ Sou sertanejo, doutor”
2001 – 4º lugar em concurso – Poesia “ Se abanque doutor ”
2002 – 4º lugar em concurso – Poesia “ Ajuda-me ”
2006 – 1º lugar em concurso – Cordel “ Isto e Aquilo ” SECULT/CE
2007 – inserida em coletânea – Poesia “ Bodega do Interior ”
2010 – Participando coletânea – poesia “Globalização”
            Inserida a poesia “Quixeramobim” em Cartilha Didática
            Inseridas as poesias “ Homenagem de um órfão ” e “ Saudades de Papai”
            no Livro Minha Nordestinidade Abraçando a Poesia
                            Do poeta e radialista Pedro Sampaio
·       Participando de Concurso Literário com Livro Paradidático na SECULT
·       Participando de Concurso Literário com Livro de Poesias  no BNB   


ÍNDICE DE CONTOS
01 – Lampião
02 – Ta na hora de tomar uma
03 – como fazer uma pizza
04 – o prefeito da latrina
05 – Segurança Nacional
06 – O presidente sabia?
07 – Fábrica de bonecos
08 – Dia dos Pais
09 – A explosão do vulcão
10 – Chame a polícia
11 – A indústria do concurso
12 – O poder do voto
13 – País do carnaval
14 – Bendita chuva
15 – Fazendo justiça
16 – O meu país
17 – Tenho pena de argentino
18 – Democracia
19 – Valores morais
20 – Então é Natal!
21 – Somente ondas
22 – Faca de dois gumes
23 – Ano novo, vida velha
24 – Que país é este?
25 – É fantástico
26 – Histórias que contam
27 – Um dia diferente
28 – O crime vence?
29 – O equívoco
30 – O filhos da seca
31 – Efeito Severino

Radialista/Escritor/Poeta
Brasilia/DF                   





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